por Marcelo Seabra
É provável que uma pessoa que nunca tenha assistido a um filme de terror goste de A Possessão (The Possession, 2012), em cartaz a partir desta sexta-feira. Vários clichês são reunidos com bons atores e uma direção burocrática, que não inova em nada e se contenta em cumprir tabela. Para quem gosta do gênero, a repetição vai aparecer a todo momento, é possível ver referências em diversas cenas. Não se trata de homenagem, apenas de falta de criatividade mesmo. Para se ter uma ideia, o nome da menina protagonista é Emily, só faltou vir acompanhado de Rose.
Filmes sobre exorcismo existem às pencas, e fica muito difícil fugir do clássico maior desse subgênero: O Exorcista (The Exorcist, 1973). As comparações são inevitáveis. Os roteiristas, Juliet Snowden e Stiles White, mesmos de Presságio (Knowing, 2009), já estão inclusive trabalhando na nova versão de outro cult movie, Poltergeist. Para tentar trazer ar fresco à produção, a dupla deixou de lado os elementos do cristianismo e recorreu ao judaísmo. Nesta cultura, o dybbuk é um espírito maligno que pode possuir o corpo de uma pessoa e tomar o controle. É exatamente essa criatura que funciona como vilã em A Possessão. Para tentar dar um pouco de credibilidade, é reforçado o velho truque do “baseado em fatos”, já que o conceito surgiu de um artigo de jornal sobre um artefato supostamente assombrado.
Clyde é um pai de duas meninas que acaba de se divorciar e está se adaptando à nova vida. Pouco depois de se mudar para uma outra casa, ele recebe as filhas para um fim de semana e acaba comprando para a mais nova, a tal Emily, uma caixa antiga de madeira que chamou a atenção da pequena. Pouco a pouco, o comportamento de Emily vai mudando, a garota fica agressiva e coisas estranhas começam a acontecer. O início da adolescência e a situação dos pais já seriam o suficiente para tumultuar o período, mas Emily ainda deve enfrentar um tipo de demônio milenar.
À frente do elenco, temos Jeffrey Dean Morgan, mais lembrado como o Comediante de Watchmen (2009), um sujeito sempre simpático que traz uma leveza necessária ao personagem. Como sua ex-mulher, Kyra Sedgwick (da série The Closer) não faz muito, a história não lhe dá muita importância. Quem rouba a cena é a jovem Natasha Calis (ao lado), recém-saída da série The Firm. Ela convence como a menina endemoniada, construindo uma rápida, mas interessante jornada para a sua personagem. Aliás, as mudanças de personalidades de todos são bem desenvolvidas, incluindo aí o pai, de Dean Morgan.
Apesar de produzido por Sam Raimi e sua Ghost House, A Possessão não tem o humor de Arraste-me para o Inferno (Drag Me to Hell), longa dirigido por Raimi em 2009. Ole Bornedal, que se tornou a sensação do cinema dinamarquês em 1994 com Nightwatch – Perigo na Noite e a refilmagem americana O Principal Suspeito (1997), está no comando, e parece que se leva muito a sério. E muita coisa salta aos olhos pelos motivos errados, como um hospital praticamente abandonado no meio do caminho, por exemplo. Bornedal pretendia fazer uma obra-prima, pelo visto, e passou longe.