por Marcelo Seabra
Se um título impactante é importante, nada melhor que Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, 2012). Misturar o 16º presidente norte-americano e vampiros é uma premissa divertida. O resultado é o que se pode chamar de guilty pleasure: um prazer que te faz sentir culpa. Trata-se de um longa claramente furado e longe do que poderia ter sido, mas que ainda assim consegue ser divertido.
Situar um personagem histórico no meio de uma trama fantasiosa não é novidade. Este ano mesmo, tivemos O Corvo (The Raven), que colocou o escritor Edgar Allan Poe no meio de uma investigação policial intrincada – e fraca. O livro de Seth Grahame-Smith (de Orgulho e Preconceito e Zumbis), no entanto, aproveitou bem os eventos conhecidos da vida do icônico ex-presidente e, usando uma boa dose de humor, contou uma história interessante. Muitos momentos, para quem tem uma noção dos fatos da época, são facilmente previsíveis, como o envolvimento das criaturas na Guerra da Secessão. É o carisma do personagem bem construído que ajuda a segurar as pontas.
No filme, somos apresentados a Lincoln quando ele ainda é jovem e descobre a existência de vampiros da pior forma: perdendo a mãe para um deles. Um juramento de vingança acontece e logo o rapaz se vê sendo treinado por um caçador de vampiros experiente. Ele deixa o acerto de contas temporariamente de lado e passa a dedicar suas horas vagas à limpeza do país, eliminando os nomes indicados por seu mentor. Logo, ele conhece sua futura esposa e ruma à política, passando a combater em uma nova frente, usando como arma discurso e ideias. Claro que há um vampirão por trás de todos os outros, comandando a festa.
O grande problema deste Caçador de Vampiros é exatamente essas falhas, que chegam a ser grotescas. Para começo de conversa, os personagens vêm e vão entre Indiana e Springfield (em estados diferentes) em tempo recorde, e não é difícil chegar a Nova Orleans. Quando Lincoln conhece Mary, ela está acompanhada pelo noivo, Stephen Douglas, político importante da época e oponente de Lincoln. O sujeito simplesmente deixa de existir, Mary se vê livre e os famosos debates Lincoln-Douglas nem são mencionados. O que prova que os vilões não servem para nada: nem os vampiros Adam e Vadoma, nem o político Douglas. Estes são apenas alguns exemplos, para não entregar demais.
Bekmambetov parece se levar a sério demais e o humor do livro de Grahame-Smith se perde. Em um filme que coloca Abraham Lincoln correndo atrás de vampiros com um machado empunhado, humor era essencial. A violência rapidamente se torna repetitiva e os efeitos à Matrix não acrescentam. Talvez, a grande curiosidade seja mesmo conferir como o escritor e roteirista fantasiou a vida desta figura tão importante no imaginário norte-americano, contando esse lado que ninguém conheceu – obviamente, porque ele mesmo inventou tudo. Mas quanto mais se pensa no filme, pior ele fica.
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