por Marcelo Seabra
Meryl Streep e Tommy Lee Jones. Duas boas razões para se assistir a um filme. Não é só de personagens jovens que vive o cinema americano, e Um Divã para Dois (Hope Springs, 2012) traz esses dois monstros da sétima arte juntos. Mesmo que o roteiro não seja exatamente inovador, as situações vistas são críveis o suficiente para agradar. E o grande chamariz é mesmo a interpretação do casal, além do sempre carismático Steve Carell, aqui um coadjuvante discreto e eficiente.
Depois de receber certa atenção por ter dirigido O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006) e Marley e Eu (Marley and Me, 2008), David Frankel comandou o ainda inédito aqui The Big Year (2011) e emendou este Divã…, repetindo a parceria com Meryl, o diabo que veste Prada. Não se pode dizer que ele tenha um estilo bem claro, as características de seu trabalho não podem ser percebidas, e isto pode até ser uma opção. Não há muito o que se perceber em cena além do óbvio, o que não faz muito rica a experiência de acompanhar um filme dele.
A roteirista Vanessa Taylor, co-produtora da série Game of Thrones, faz sua estreia na tela grande com uma história que começa um tanto caricata, mas consegue achar o tom certo. No início, somos apresentados a duas pessoas que de forma alguma poderiam estar juntas. Kay (Meryl) é a esposa boazinha que se sente extremamente solitária ao lado do marido bronco e nada atencioso, Arnold (Jones). Quando pensa ter atingido o limite do tolerável, Kay busca ajuda profissional na figura do terapeuta de casais de Steve Carell (de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, 2012). Com as sessões e o convívio mais próximo na cidadezinha do Maine para onde vão, os dois começam a tomar traços mais reais e as coisas ficam interessantes. Não se cai no erro de colocar um como vítima e o outro como coitadinho, logo percebemos que cada um tem a sua parcela de culpa pelo momento crítico que vivem.
Tommy Lee Jones (um dos Homens de Preto) já viveu figuras fortes, até vilões, mas não costuma aparecer como um senhor metódico e inseguro. É um prazer acompanhá-lo nessa nova composição, na mesma medida de talento que a habitual Meryl. Ela sempre brilha, muitas vezes ofuscando até a própria produção que estrela, caso de A Dama de Ferro, de 2011. Carell é propositalmente relegado a um segundo plano, dizendo o que se espera de um terapeuta de casais: o óbvio – que eles precisam ouvir. Cabe a Meryl e Jones manterem a peteca no ar e, em meio a risos, lágrimas e algum constrangimento, a missão é cumprida com êxito.