por Marcelo Seabra
Todos buscam o amor. Depois de duas longas horas, todos o encontrarão. Mas não sem antes ter muita cantoria no melhor estilo Glee: genérico e pouco inspirado. É isso ou o texto poderia começar com: “apenas uma garota do interior, vivendo num mundo solitário, pegou o trem noturno indo qualquer lugar…” Funcionaria da mesma forma para descrever Rock of Ages (2012), musical que revisita o hair rock (também chamado de rock farofa), tipo de rock típico dos anos 80 que trazia diversas músicas com temas melosos que se encaixam bem na trama, só às vezes forçando a barra.
O musical da Broadway já tinha uma história água com açúcar feita para que as músicas coubessem bem, todas escolhidas a dedo pelo criador, Chris D’Arienzo. Depois de seis anos em cartaz em vários lugares e algumas indicações a prêmios, ele conseguiu levar sua obra ao cinema, colaborando no roteiro com Allan Loeb (de Wall Street 2, 2010) e Justin Theroux (de Trovão Tropical, 2008). Para a direção, escalaram ninguém menos que Adam Shankman, responsável por filmes e séries geralmente classificados como “bonitinhos” (e bestas). Em seu currículo, há outro musical saudosista, Hairspray (2007), além de episódios da já citada Glee.
O filme começa como inúmeros outros, mas remete de cara a Across the Universe (2007), que faz o mesmo “favor” às canções dos Beatles. Sherrie, uma garota do interior (Oklahoma, para ficar claro a inocência dela), chega em Hollywood, é assaltada e logo recebe a solidariedade do bonzinho Drew. A empatia do casal é instantânea como foto de cabine na rua, mas muita coisa vai entrar no caminho. Os dois perseguem o sucesso como rockstars, e trabalham como atendentes no principal bar de rock da cidade, na Sunset Strip. É tão lógico quanto um aspirante a diretor de cinema trabalhar numa locadora de filmes.
É inegável que o filme pertença a Tom Cruise, astro que emergiu na década de 80 e que, aqui, emula figuras como Axl Rose, Steven Tyler ou Jon Bon Jovi. Assim como em Trovão Tropical, Cruise vive um papel longe do que estamos acostumados a vê-lo fazer, e mostra muita competência e carisma na composição de um vocalista-estrela que pretende seguir carreira-solo e é famoso por seu mal comportamento. Sempre cercado por garotas, bebidas e seu macaco chamado Hey Man, Stacee Jaxx diz as coisas mais improváveis, custa a cumprir seus compromissos e mesmo assim é adorado mundialmente. Cruise soube bem aproveitar as possibilidades que o personagem oferecia e mostra um grande trabalho.
A outra grande atração de Rock of Ages, além de Cruise, é a seleção musical, que deve agradar aos fãs da década de 1980. A maior parte das bandas já não existe, mas os sucessos perduram. Podemos conferir nomes como Journey, Starship, Foreigner, Poison, Def Leppard, Bon Jovi, Guns ‘n’ Roses, Twisted Sister, Night Ranger, David Lee Roth, REO Speedwagon (em um momento que consegue ser forçado e engraçado), The Runaways, Pat Benatar, Extreme, Warrant e Scorpions, que em setembro voltam ao Brasil para a anunciada turnê final. Pena que não ouvimos nas versões originais, o que permitirá vender cds da trilha com as vozes dos atores – que não cantam mal, mas também não chegam a empolgar.
O casal protagonista segura bem as pontas e faz aqui seu papel mais importante até então. Julianne Hough (da refilmagem de Footloose, 2011) e Diego Boneta (do novo 90210, ou Barrados no Baile) têm uma boa química, mas não são páreos para seus coadjuvantes mais experientes, mesmo que mal aproveitados. Paul Giamatti é o empresário mau caráter de Jaxx, enquanto Alec Baldwin é o eterno roqueiro que mantém o bar funcionando, dois papéis estereotipados que se aproveitam da naturalidade de seus intérpretes. Bryan Cranston (de Breaking Bad) mais uma vez mostra que seu brilho da TV não o acompanha no cinema, talvez devido a más escolhas, e faz par com uma Catherine Zeta-Jones muito caricata e vazia, cujo passado é meio óbvio. O irritante Russell Brand (acima, com Baldwin) vive o mesmo mala afetado de sempre e a cantora Mary J. Blige fecha o time principal, conseguindo na raça mais destaque do que haviam reservado a ela.
Na tentativa de homenagear uma era, com seus exageros e visuais hoje engraçados, Rock of Ages não chega a ser uma paródia, mas tampouco traz alguma novidade. No teatro, a emoção deveria ser outra, já que os intérpretes estariam na sua frente, o que no filme se torna um karaokê engraçadinho. O humor crítico que tantos elogiaram no palco parece ter se perdido. Tem seus bons momentos, que se resumem a alguns minutos, diluídos em um total de 120. As músicas usadas são tantas que se misturam, tornando o longa cansativo até para quem gosta delas.