Sean Penn é um ex-astro de rock sem lugar

por Marcelo Seabra

Um filme que coloca um cantor de rock aposentado na busca por um criminoso de guerra só poderia ser no mínimo estranho. Com o italiano Paolo Sorrentino (de Il Divo, vencedor do prêmio do júri em Cannes em 2008) na direção e roteiro, Aqui É o Meu Lugar (This Must Be the Place, 2011) traz Sean Penn com cara de Robert Smith (da banda The Cure), voz do escritor Truman Capote e trejeitos de Ozzy Osbourne. Ou seja: a caracterização do personagem é tão irregular e caricata quanto a obra como um todo.

Um dos melhores atores em atividade, vencedor de dois Oscars (Sobre Meninos e Lobos e Milk), além de outras cinco indicações, Sean Penn é indiscutivelmente uma grande presença em cena. Aqui, ele se torna propositalmente mais contido, reforçando o fato de que o cantor Cheyenne não passa de um adolescente mal resolvido no corpo de um homem triste de 50 anos. Ainda usando roupas e maquiagens com inspiração gótica, ele se retirou da vida pública há 20 anos, após dois fãs terem cometido suicídio supostamente influenciados pelas músicas depressivas que sua banda tocava. Por isso, ele deixou os Estados Unidos e foi viver uma vidinha tranquila na Irlanda ao lado da esposa (Frances McDormand, de Queime Depois de Ler, 2008), uma bombeira largadona que aceita as estranhezas do marido.

Ao saber que o pai, com quem não tem contato há anos, está à beira da morte, Cheyenne vai a Nova York. Lá, ele toma conhecimento da obsessão que ocupou seu pai por muito tempo: a busca pelo nazista que o havia humilhado em um campo de concentração durante a Segunda Guerra. Talvez para provar para si próprio ser capaz de uma ação dessa grandeza, Cheyenne sai pelas estradas seguindo as pistas levantadas pelo pai atrás do tal criminoso de guerra. Por que ele faria isso por um pai que ele mal conhecia permanece um mistério, digamos que seja uma espécie de acerto de contas.

É nesse ponto que Aqui É o Meu Lugar vira um road movie dos mais improváveis. A esta altura, a interpretação de Penn já chega a irritar, e fica difícil imaginar como alguém conseguiria viver perto daquele sujeito. O caminho rumo ao amadurecimento seria tortuoso, mas o filme facilita bem e parece apenas buscar um resultado que estava estabelecido desde o início do projeto. Até a participação do músico David Byrne (ex-Talking Heads – ao lado) soa artificial, forçada. Ele aproveita para tocar This Must Be the Place, clássico oitentista que dá nome ao longa.

Sorrentino bolou a história, que ele e o colega Umberto Contarello formataram, e esqueceu de dar três dimensões a seu protagonista. Penn faz o que pode, imaginando o passado do ex-astro do rock e compondo-o como um sobrevivente de uma época de sexo e drogas, até a tragédia que o traumatizou. Mas Cheyenne fica parecendo um boneco de cera e dificilmente acreditamos que haverá um amadurecimento a jato para darmos por encerrada a trajetória daquele personagem chato cercado por figuras igualmente sem propósito.

Cheyenne, em um momento depressivo, e a esposa

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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