por Marcelo Seabra
O Globo de Ouro ele já levou. Agora, pode ser que George Clooney fique também com o Oscar de melhor ator por seu papel em Os Descendentes (The Descendants, 2011). O novo drama com toques de comédia (ou seria o contrário?) de Alexander Payne emplacou cinco indicações ao prêmio máximo da indústria cinematográfica americana, mas está longe de ser um grande trabalho. Ainda assim, é melhor que muita coisa que anda passando por aí.
Com seus projetos anteriores, o diretor e roteirista Payne (ao lado) já provou que, até em seus momentos menos brilhantes, ele é superior à média. Este é seu quinto longa (depois de Ruth em Questão, Eleição, As Confissões de Schmidt e Sideways) e pode-se perceber que ele foi mais comedido desta vez. O roteiro, que Payne escreveu com os atores Nat Faxon e Jim Rash, pega leve no cinismo e na acidez que marcaram seus trabalhos anteriores e segue uma linha mais convencional. Em alguns aspectos, é previsível e até sem sentido (uma dica: Sid, uma mistura de lobisomem de Crepúsculo com Fera de Primeira Classe), o que enfraquece o resultado e faz com que este seja um filme menor que os já mencionados.
A história começa com Matt King (Clooney) visitando a esposa no hospital. Depois de um acidente com jet ski, ela está em coma e ele se vê obrigado a lidar com as duas filhas (Shailene Woodley e Amara Miller – ao lado) com quem tinha um contato bem superficial. Um advogado de meia idade que se focava muito no trabalho, Matt sempre deixou as decisões familiares para a esposa, que parecia ter uma personalidade mais forte e dominante.
Ao longo da projeção, vamos conhecendo melhor a moribunda Elizabeth (Patricia Hastie) através dos diálogos e descobertas dos demais personagens. E Matt começa a perceber que sua vida estava longe de ser perfeita, mesmo sendo rico, tendo uma bela família e morando em um paraíso, o Havaí. Além de passar por todo esse drama, ele ainda tem que definir os rumos da negociação de uma grande área de uma ilha que está com a sua família há gerações. A quantia resultante dessa venda vai ser suficiente para enriquecer todos os descendentes dos King, e primo é o que não falta a Matt. Mesmo com tantos parentes, ele é solitário e até triste, sem ter uma ligação próxima com nenhum deles.
Os Descendentes serve também como curiosidade para quem gostaria de conhecer melhor o Havaí, terra natal da autora do livro no qual o filme se baseia, Kaui Hart Hemmings (que vive a secretária de Matt). As belas e vastas paisagens servem como contraponto para a melancolia de Matt, o pobre homem rico. O elenco que cerca Clooney é bem competente, começando pelas garotas que vivem suas filhas. Destaque também para Matthew Lillard (mais lembrado como o Salsicha de Scooby Doo) e Judy Greer (atualmente no elenco de Two and a Half Men), como o corretor de imóveis e a esposa (ao lado); Robert Forster (de Jackie Brown, 1997), o sogro; e Beau Bridges (de Max Payne, 2008), o primo bonachão que faz bem a transição para o tipo ameaçador.
Como o próprio Payne afirmou ao site G1, seu maior desafio é escalar seus protagonistas. Clooney se mostra uma decisão acertada. Ele parece um adulto que deixou a vida correr e, hoje, está deslocado numa situação que não sabe resolver, ou mesmo não tem poder para tal. Ele não tem como mudar a saúde da esposa e os fatos que vão aparecendo colocam em dúvida até o que ele sente por ela. Ele passa tão bem por um sujeito comum que parece que estamos vendo Tom Hanks, ator mais acostumado a este tipo de papel. Depois de várias indicações em diferentes categorias e tendo um Oscar como ator coadjuvante por Syriana (2005), Clooney tem grandes chances de ser premiado novamente.
De fato, o filme é um dos melhores com George Clooney. Gostei bastante.