Hanna merecia uma passagem pelos cinemas

por Marcelo Seabra

Aos 17 anos, a bela Saoirse Ronan já conta um número invejável de trabalhos no cinema. Nem todos são uma beleza, mas ela sempre sai imaculada, cumprindo muito bem o que lhe cabe. Caso, por exemplo, do fraco Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2010), que compôs a lista dos piores do ano passado de muita gente (como a minha). Felizmente, não é o caso de Hanna (2011), produção que acabou chegando direto em DVD. Merecia mais destaque.

A exemplo da Hit Girl de Kick Ass – Quebrando Tudo (2010), vivida por Chloë Moretz, Hanna é uma menina treinada para ser letal. Ela tem um instinto de sobrevivência aguçado, luta bem, domina vários tipos de armas e está sempre alerta. Além disso, é fluente em diversos idiomas e guarda verbetes inteiros de enciclopédias. Só não conhece o mundo. Ela tem toda uma bagagem teórica, mas não tem muita vivência, por viver numa cabana no meio de uma floresta gelada da Finlândia.

O pai de Hanna, Erik (Eric Bana, de Te Amarei para Sempre, 2009 – ao lado), era um agente da CIA e fugiu com a menina para a floresta após alguma coisa dar errado. Aos poucos, vai sendo revelado o que eles fazem ali e, mais importante, para o que estão se preparando. E logo conheceremos Marissa Wiegler (Cate Blanchett, de Robin Hood, 2010), personagem sempre mencionada como a grande vilã da história. O mais interessante é acompanhar Hanna enquanto ela descobre o mundo, e a trama se desdobra junto.

O diretor Joe Wright, cuja estreia no cinema foi com a adaptação da obra de Jane Austen Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005), não é a figura que esperaríamos no comando de um longa como este. Sua carreira seguiu com Desejo e Reparação (Atonement, 2007) e O Solista (The Soloist, 2009), dois dramas, e já tem em curso uma nova leitura de Anna Karenina, dramalhão clássico de Tolstoi. No meio disso tudo, desenvolver uma história de ação à Jason Bourne era um tanto inesperado. Talvez por isso a empreitada tenha dado certo, já que Wright evita os clichês do gênero e vai direto ao assunto, sempre com muito estilo e a trilha sonora dos Chemical Brothers.

Claro que nem tudo são flores. Eric Bana continua tão carismático e expressivo quanto uma iguana, e Cate Blanchett (ao lado) chega perigosamente perto da caricatura de uma vilã cujos motivos nunca ficam muito claros. O roteiro, às vezes, parece seguir pelo caminho que melhor lhe convém, mesmo não sendo o que mais faz sentido. Em determinada perseguição, por exemplo, fica a dúvida: por que uma gangue de assassinos não tem um revólver? Se têm, por que não o usam? Talvez eu esteja sendo muito exigente.

De uma forma geral, os elementos se combinam bem e funcionam, sempre com a jovem Saoirse conduzindo tudo com a segurança de uma veterana. Com argumento e roteiro do novato Seth Lochhead (com retoques de David Farr), Hanna é um filme de ação ágil, bem costurado e simples. No final, tudo se resume a uma necessidade bem antiga do ser humano: a de vingança.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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