por Marcelo Seabra
Pouco depois de falar sobre Vips (2010), é a vez de O Homem do Futuro (2011), nova produção nacional estrelada pelo onipresente Wagner Moura. E, como não poderia deixar de ser, o ator se mostra perfeitamente apto a criar o personagem, além de suas variações, o que já pôde ser percebido em Vips. E, mais uma vez, ele tem a chance de cantar uma música da Legião Urbana.
Neste trabalho, o diretor Cláudio Torres volta a usar elementos fantásticos para contar uma história sensível com um protagonista que precisa achar o seu caminho. Primeiro com Pedro Cardoso em Redentor (2004) e, em seguida, com Selton Mello em A Mulher Invisível (2009), longa que acabou originando uma série de televisão – prática comum para o público norte-americano, acostumado com derivados. Além de Moura, o elenco também destaca os eficientes Gabriel Braga Nunes, Fernando Ceylão e Maria Luísa Mendonça, que começa bem caricata, mas acerta a mão. A mocinha fica a cargo de Alinne Moraes, bela e forte na medida certa.
Para bem ou para mal, Torres pegou algumas outras ideias dos nossos vizinhos do norte. Um gênero que normalmente não é comum no cinema brasileiro (me lembro de um que gostei, A Máquina, de 2005), a ficção-científica foi escolhida e, com ela, vieram vários lugares-comuns do cinemão pipoca. A teoria do caos está lá, lembrando o óbvio Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004) ou O Som do Trovão (A Sound of Thunder, 2005). Mas não poderia deixar de comparecer a trilogia De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985/1989/1990) e suas complicações temporais. E tem também aquele traço de “o que teria sido a minha vida se eu tivesse feito diferente”, como Um Homem de Família (Family Man, 2000), Peggy Sue – Seu Passado a Espera (Peggy Sue Got Married, 1986) e até o clássico A Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946), além do sempre atual livro de Charles Dickens Um Conto de Natal (1843).
Quem já viu alguma das obras citadas já conhece a história de O Homem do Futuro, e a premissa é o menos importante. Mais interessante é o caminho que o filme toma, sempre conseguindo ser divertido e respeitando suas próprias regras. Afinal, quando se viaja no tempo, deve-se ter regras. Visualmente, o filme é sóbrio e até sombrio, refletindo a personalidade de Zero, o cientista de Wagner Moura. E se sustenta quando necessário, recorrendo a efeitos simples, mas satisfatórios. A única coisa que incomoda é a trilha sonora, bem fora de lugar, fazendo parecer que trata-se de um desenho infantil.
Apesar de aparecer em destaque a classificação como ficção-científica, o filme não passa de uma comédia romântica, e isso não é necessariamente ruim – como observado recentemente sobre Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, 2011). Se for uma história bem contada, com boas interpretações, que ofereça conflitos críveis e que respeite a inteligência do espectador, tem chances de dar certo. Vida longa a Cláudio Torres e a Wagner Moura, cada um com seu novo projeto.