por Marcelo Seabra
Passada a temporada de premiações (ou, ao menos, o Oscar e o Globo de Ouro), a vida volta ao normal e a programação volta a incluir longas não tão “artísticos”. Aproveitando essa calmaria, conferi uma adaptação de quadrinhos que passou batido na época do lançamento. Os Perdedores (The Losers, 2010) acabou chegando ao Brasil direto no mercado de homevideo e não fez muito barulho. O filme pode ter sido eclipsado pela proximidade com outra estreia que tem características bem similares, Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010), além de estar em meio a uma enxurrada de remakes e adaptações. Não chega a ser uma grande obra de arte, mas atende bem às expectativas.
A história acompanha um grupo de agentes do governo americano em uma missão secreta na Bolívia. Eles devem pintar a área de domínio de um traficante para que um avião o bombardeie. Não parecia ser uma missão difícil, mas são traídos pelo contato supostamente da CIA e são dados como mortos. Obviamente, eles sobrevivem e têm uma chance de vingança.
O fator “time-de-elite-traído-quer-se-vingar” é exatamente o que associa Os Perdedores a Esquadrão Classe A. Em determinado momento, percebemos também a proximidade com uma ideia de Watchmen (2009), além da presença do “Comediante” Jeffrey Dean Morgan, que vive o líder do grupo. Apesar dessas similaridades com outras produções, é exatamente o elenco que dá um ar de novidade e faz a experiência valer a pena.
Morgan (ao lado, como Comediante), no papel do Coronel Clay, exibe a segurança e o charme de costume, mas tem sempre um ar de cansaço, de alguém que já apanhou muito, que cai bem ao personagem. Seu grupo também está bem afiado: o “Tocha Humana” Chris Evans fica com as piadinhas como um técnico em comunicação; Idris Elba, Columbus Short e Óscar Jaenada completam a turma, cada qual com a sua habilidade diferenciada. Completam a trama a misteriosa financiadora da missão de vingança, vivida por Zoe Saldana (sem a pele azul de Avatar, de 2010), e o tal sacana que queria todos mortos e se torna o alvo, interpretado com visível prazer por Jason Patrick (do policial Narc, de 2002). Bem caricato em alguns momentos, Patrick consegue ser divertido em outros, fugindo um pouco de fórmulas.
A revista que serviu como base voltou a ser publicada pelo selo Vertigo, da DC Comics, entre 2003 e 2006, e durou 32 números. Trata-se de uma série criada por Robert Kanigher, originalmente estrelada por ex-soldados da Segunda Guerra Mundial e que teve seu auge na década de 70. A nova roupagem é cortesia do roteirista Andy Diggle e do desenhista Jock. O primeiro arco de histórias, já publicado no Brasil pela Panini, chama-se Risco em Dobro.
Para o cinema, o diretor Sylvain White preferiu simplificar a história e acabou deixando elementos de fora de caso pensado, já preparando a continuação. Evitando a armadilha de se tornar um filme idiota, Os Perdedores tem tanto conteúdo quanto um Big Mac. Às vezes, é exatamente o que se procura: um filme divertido, movimentado e esquecível.
Curiosidade: é impressionante o tanto que Jeffrey Dean Morgan se parece com Javier Bardem (ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante por Onde os Fracos Não Têm Vez, de 2007). Confira abaixo: