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Governo Bolsonaro aproveita antissemitismo de revista e avança seu autoritarismo

Usar a força do aparato estatal para fins particulares, travestidos de interesse público, é atitude indevida e própria de regimes autoritários
(Foto: Antonio Augusto/Secom/PGR)
A revista IstoÉ, de 08 de novembro passado, publicou uma reportagem de capa desastrosa. Não pelo conteúdo ― oportuno e correto ―, mas pela forma que optou para denunciar uma prática igualmente desastrosa do atual governo, diga-se, não diferente do que sempre fez o PT, e que usualmente se faz no Brasil e mundo afora.
A revista denunciou a conduta antiética e antidemocrática com que a Secretaria de Comunicação do Governo Federal vem distribuindo as verbas publicitárias. Aos alinhados, dinheiro; aos críticos, guerra. Contudo, preferiu o autor atribuir ao “judeu” Fábio Wajngarten, secretário do governo, a conduta de ninguém menos que Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista.
Para o autor da matéria, mais importante que as más práticas institucionais de Fábio, são sua origem e religião; a amizade com “empresários judeus milionários”; os “israelitas que operam no submundo da segurança e informação”; a “política suja com apoio da comunidade judaica de São Paulo”; uma “conexão judaica de 60 empresários judeus que apoiaram Jair Bolsonaro”; e o que chamou de “manipulação da colônia judaica”, para destilaras justas raiva e indignação com o modus operandi do secretário e do governo.
Diante da forte reação da comunidade judaica, a revista, ao invés de se retratar e censurar publicamente a própria matéria, preferiu uma nota lacônica, quase sonolenta, onde negou qualquer intenção antissemita e afirmou seu compromisso contra o racismo e outras formas de preconceito. É a tal “emenda pior que o soneto”.
Poderia – e não o fez! – admitir a imagem antissemita, ainda que não intencional, da matéria, e se desculpar, veementemente, pela abordagem repugnante que preferiu o autor, e não, como na pífia nota, culpar a própria ofendida (comunidade judaica) pelo fato:
“ISTOÉ lamenta profundamente se, em algum momento, a Comunidade Judaica se sentiu atingida pela reportagem publicada…”.
Não, IstoÉ! A comunidade judaica “não se sentiu atingida”. Ela foi estupidamente atacada. Admitir o erro e se desculpar é o que se espera de quem não nutre sentimento antissemita e combate racismo e preconceito, conforme a nota.
A Advocacia Geral da União requereu ao Procurador Geral da República, Augusto Aras, que processe o autor da matéria por crime de racismo. Não domino os fundamentos do Direito Penal, mas me parece muito exagerado. E, pior que exagero, me parece perseguição de um presidente não satisfeito em “apenas” sufocar financeiramente aqueles que não lhe são caros.
Recentemente, o governo propôs medidas que afetam – coincidentemente ou não; e eu não creio em coincidências – empresas e negócios de desafetos seus. Jair Bolsonaro, ao vivo e em cores, disse querer ver como alguns veículos de imprensa, notadamente o jornal Valor Econômico, irão sobreviver sem o dinheiro das publicações dos balanços contábeis em suas páginas. Outra recente decisão, o fim do Dpvat, impactará sobremaneira os negócios de Luciano Bivar, inimigo político do presidente. Sim, considero acertadas as duas medidas, mas não creio não estarem vinculadas a algum tipo de deleite pessoal do presidente.
Retornando à IstoÉ, diante do claro antissemitismo e da lamentável ausência de retratação da revista, compreendo perfeitamente que entidades judaicas busquem reparação judicial. Já o Governo Federal patrocinar uma ação, me parece totalmente inapropriado e, sim!, uma forma indevida de pressão ou mesmo ataque.
Como judeu, até poderia estar satisfeito, mas não estou. Ao contrário. Preocupa-me muito algo assim. Desde 2002 eu combato ferozmente o lulopetismo. Publico textos em um blog e coluna semanal, em portal e jornal de grandes audiência e circulação. Acaso, tragicamente, o PT retome o poder, não gostaria do mesmo tipo de conduta contra mim e os veículos que gentilmente me hospedam e publicam.
Se o tal secretário se chamasse Fábio da Silva, fosse negro e espírita, jamais teríamos uma matéria focada na sua cor e religião, falando de “conexão espírita” ou “manipulação negra”. O antissemitismo foi claro, sim, e lamentável. Mas que os entes privados se entendam. Não se entendendo, que a Justiça resolva. Jamais que a União se meta onde não deve e nem foi chamada.
Sou judeu e não tenho telhado de tungstênio. Quem se manifesta publicamente, como eu, também não tem. Meu telhado, neste aspecto, é mais que de vidro. É de cristal! Diante de um Estado autoritário, se quebraria em segundos. Não quero isso para minha vida. Meus antepassados já tiveram, com sobras, doses deste veneno cruel.
A meu ver, o secretário deveria retirar o pedido da ação por parte da AGU e, como pessoa física, como “o judeu ofendido”, cuidar ele mesmo da questão. Ou através das entidades judaicas. Não precisamos de ajuda oficial para lidar com algo que somos capazes sozinhos. Infelizmente, somos PhD, Doutores, Mestres, Especialistas e o escambau no combate ao antissemitismo global.
Encerro com o teólogo protestante alemão Martin Niemöller (1892-1984):
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”
Traduzindo: pau que dá em Chico, dá em Francisco!
Ricardo Kertzman

View Comments

  • Olá Inundado, compete ao PRG (hoje Augusto Aras) promover a ação penal nas causa de competência do STF, logo ele atua segundo preceito da Constituição, não é oferecimento ou voluntarismo. Cada macaco no seu galho, cada galo em seu terreiro, cada rei em seu baralho.

  • Não, Ricardo, vc está confundindo. Não há nada de ilegal. O antissemitismo foi equiparado ao racismo há alguns anos no STF. Na época, um escritor gaúcho escreveu um livro antissemita e o tribunal considerou e equiparou a conduta ao racismo. Então, o preconceito contra judeus ou negros é racismo de qualquer forma e cabe ao Ministério Público tomar providências, já que é ação pública e independe de um particular, ainda que se sinta ofendido, ser ou não a favor.

    • Carlos,

      Quem solicitou a ação à AGU, e foi entregar a peça ao PGR, foi o próprio secretário. Ora, cargo não é objeto de racismo! A pessoa física foi a ofendida e como tal, aí, sim, pode -- e deve! -- agir.

      Se a AGU entendesse que o cargo foi atacado, seja por injúria, difamação, falsa notícia (sei lá o nome dessas coisas!!) que promova uma ação neste sentido, e não de crime racial.

      Enfim... opinião é opinião, né? Abrs e obrigado pelo comentário

  • E a glamourosa frase do "Ele não tem cartão do banespa" segue firme modos similares.
    O jornalismo brasileiro precisa se dedicar mais à sua atividade-fim para conquistar a confiança e permanecer no mercado porque com as novas formas de comunicação, as mamatas com milionários contratos de publicidade estão agonizando.
    O governo não pode mais repartir a arrecadação com a classe política podre que foi presenteada ao longo do tempo, com a maioria das redes de comunicação no Brasil e é mantida às custas de anúncios publicitários desnecessários, em troca de toma lá da cá.
    Dá nojo ver as propagandas da Caixa, fundada por D.Pedro II em 1861 e quinta colocada em ações trabalhistas no país, com 3.288 agências e 98.000 empregados (fora terceirizados) monopolizando as arrecadações e metida em cambalachos de toda sorte, financiando gente metida com quadrilhão e patrocinando tudo o que é tranqueira e torrando em publicidade, como se fosse um banco recém lançado no mercado.
    O mesmo ocorre com o Banco do Brasil, fundado em 1808 que segue patrocinando a gastança dos favoritos do rei, tendo em 2016, apesar de ter a maioria das suas 5.450 agências vazias.
    O BB, segundo colocado no país em ações trabalhistas conta com 112.000 empregados fora os terceirizados, que comparados com o mercado, são gordamente remunerados com até R$ 4 mil para auxiliar administrativo, sendo os terceirizados registrados em empresas de amigos da onça, vem para reforçar as reclamatórias em andamento e a iniciar.

  • Os cabeças esquerdistas p/t-luladrão, refutam logicamente uma opinião __"autoritarismo,fascista," mas proibir sua circulação é o puro execício da cleptocracia/oclocracia. A liberdade é uma rua dupla: quando transformada em sentido obrigatório vira autoritarismo.
    Creio que a oclocracia petista, criou o vitimismo, é um autoritarismo. Com a mentira, roubou pão, dignidade e confiança, para ter direito no enriquecimento ilícito.

  • Quem está sendo AUTORITÁRIO sem dúvida, surtou, é o toffoli. ex-"adivogado" do p/t, ainda servindo a canalhice de uma sigla abjeta, resolveu ter acesso de sigilo bancário de 600 mil brasileiros.
    Se deixarmos, sob aplausos de uma turba destrambelhada, vão defender que é um " estado democrático de direito."
    Prisão para ele!

    • Gilson,
      Imagine se, com essa liberação, as cópias das contas desses 600 mil correntistas sejam acessadas pelo público da marginalidade e vendidas por aí.
      Pensando bem, se esse juiz curioso demais para o meu gosto e que se proclama como o da balança da justiça mais honesta do país tiver mesmo interesse na apuração, deve se licenciar do cargo porque precisará passar o resto da vida para investigar as movimentações desses 600 mil correntistas que, por tabela, considera suspeitos.
      Infelizmente, a urgência em acessar os milhares de sigilos bancários alheios parece uma espécie de modalidade "aberta" de uso togado, inspirado na banda tecnológica do quadrilhão e dos hackers, a serviço do Intercept.
      Aliás, com a lebre que levantou na cartola, isso ainda poderá ter um desfecho similar ao usado de 2003 para cá, de se invadir privacidade bancária e roubar valores previdenciários, judiciais e FGTS disponíveis e saquear beneficiários alheios e comercializar cópias nas bancas de camelôs, os cadastros de aposentados, de correntistas, de telefones privados e celulares, de contribuintes de ISS e IPTU, de proprietários de veículos.

  • Depois de analisar a lista dos 600 mil correntista, é bom o presidente do STF depositar a gravação bem longe daqui, de preferência no paraíso fiscal onde o quadrilhão escondeu a grana dos brasileiros porque dizem por aí, que o sigilo no Brasil anda sendo tão quebrado, que até o corno já é o primeiro a saber.

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