NADA DE TERRA ARRASADA, PORÉM…

Max Pereira
@pretono46871088
@MaxGuaramax2012

Não sou vidente, paranormal ou coisa que o valha. Os alertas que venho fazendo nas minhas redes sociais e em artigos no sentido de que a torcida deveria estar preparada para o dia em que o time voltasse a jogar bem abaixo de suas possibilidades e a vitória não se consumasse se derivaram da experiência e do conhecimento das entranhas do futebol que está sempre pronto a surpreender e a comprovar que, dentro das quatro linhas, a lógica não tem lógica.

E o “desastre” não demorou a acontecer. Não, nada de terra arrasada, porém o alerta amarelo, com tons de vermelho, foi aceso e não pode ser desprezado. Foi diante do Coelho que o Atlético tomou um choque de realidade. 

Foi diante de um América limitado, porém brioso, taticamente bem postado e com um plano de jogo bem orquestrado, que soube se fechar e marcar quando não tinha a bola e, quando a tinha, também soube e conseguiu sair com leveza, fluidez, verticalidade e velocidade, que o Atlético pôde perceber em profundidade que, se de um lado possui um elenco extremamente bem qualificado, de outro tem também limitações, que humildade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém e que, antes agora do que tarde de mais, é hora de baixar a bola.

O que quero dizer é que os méritos americanos que são muitos e merecem ser reconhecidos, destacados e aplaudidos não podem, entretanto, esconder os deméritos, os erros e as escolhas erradas que levaram o time atleticano a jogar um futebol sem profundidade, sem verticalidade, sem inspiração boa parte do jogo, sem fluidez, sem uma transição de qualidade.

Ah! Mas o scalt do jogo apontou que o Atlético ao final da partida teve 81% de pose de bola, finalizou mais vezes que o adversário, cruzou a bola na área americana infinitas vezes, teve a seu favor vários escanteios, enquanto o Coelho chutou apenas uma vez ao gol atleticano, exatamente aquela bola fatídica que entrou e colocou o América em uma, até então insuspeita, vantagem no marcador. Isso não que dizer que o Galo massacrou o oponente?

A meu ver isso escancara a ineficiência e a falta de contundência ofensiva do time atleticano, este ultimo fator reconhecido explicitamente pelo próprio treinador alvinegro em sua coletiva. Ter uma pose de bola tão expressiva, finalizar tão mal quando foi possível e não conseguir produzir um número de finalizações efetivas que espelhasse esta superioridade é significativo e preocupante.

Ironicamente, o América teve 100% de aproveitamento no quesito finalizações. Faz parte do jogo? Claro. Sorte do Coelho? Azar do Atlético? Sorte e azar derivam do que é feito e das escolhas. E o Atlético, dentro e fora de campo, abusou dos erros e das escolhas equivocadas.

O gol americano, por exemplo, originou-se de uma escolha errada de Nacho Fernandes. Se ele tivesse lançado a bola para Arana que entrava livre pelo corredor esquerdo a “sorte” do jogo talvez fosse outra. Ao optar por passar a bola para Vargas centralizado e encaixotado pela marcação americana, ele favoreceu o bote da defesa adversária. O contra-ataque americano pegou a defesa e o meio atleticanos mal posicionados. Godin e Jair na sequência e nesta ordem também erraram, permitindo ao atacante do Coelho finalizar com extrema felicidade.

Colocar a culpa do gol sofrido e do empate nas costas deste ou daquele jogador é injusto, mesmo porque tudo de ruim que aconteceu tem raízes mais profundas que precisam, nos intramuros da Cidade do Galo, ser atacadas e resolvidas. Conversas individuais e coletivas se fazem necessárias. Alguns jogadores como Jair estão atravessando uma fase ruim, outros mostram claramente que estão muito aquém de sua forma física ideal como Zaracho e Godin.

Keno tem, como característica pessoal, que exorcizar seus demônios e também evoluir fisicamente. Hulk esta sentindo a maratona e por isso diante do Coelho não entrou no jogo, realizando com toda a certeza sua pior partida dos últimos tempos? Savarino que foi lançado fora de sua zona de conforto em um time que naquele momento buscava “correr atrás do prejuízo” mais com o fígado do que com a razão, merece ser cobrado e massacrado como alguns estão fazendo com ele? Além disso, algumas questões táticas têm que ser enfrentadas por Antônio Mohamed. Ele está mesmo escalando o homem certo para a função certa?

Após o jogo contra o Internacional “El Turco”, certamente buscando justificar a sua ideia de jogo para aquela partida e a consequente escalação de quatro atacantes, disse algo que não se sustenta. Dizer que, pela qualidade dos jogadores, não existe muita diferença entre escalar Sasha, Nacho e Zaracho para uma determinada função, é algo assustador. Até o mais incauto dos observadores já percebeu que estes três jogadores possuem características e aptidões táticas totalmente díspares um do outro e reconhecer isso não significa colocar em xeque suas qualidades técnicas que, na verdade, são muito boas e óbvias. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Se o que o Turco defendeu fosse verdade, porque então, seu time com a formação que iniciou o jogo contra o Colorado Gaúcho não fluiu e sentiu tremendamente a ausência de um construtor de jogadas?

E por que, mesmo tendo Nacho e Zaracho diante do América o time foi excessivamente burocrático, lento, sem profundidade e abusou dos passes laterais e para trás? Mohamed tem e terá muitos desafios táticos em seu caminho. Tem e terá também muitas pedras, ora colocadas pelo calendário perverso, ora pelas limitações humanas de seus jogadores, ora trazidas pelas suas próprias idiossincrasias e imperfeições. Afinal, ele e seus jogadores são humanos e falíveis, que erram e que acertam como qualquer um de nós. 

Tenho dito e repetido à exaustão que o time atleticano tem vencido, mas não tem encantado e nem tem enchido os olhos de sua torcida. Tenho reconhecido, também, que o time está em processo de evolução, de maturação e desenvolvendo novas formas de jogar e que isso significa um processo de idas e vindas, de erros e de acertos, de bons e de maus momentos. E nunca é demais lembrar que muito mais difícil do que chegar ao topo é se manter lá.

Nada de terra arrasada, porém nada de relaxar e nada de tentar esconder o sol com a peneira.