MOHAMED: CHEGAR LÁ OU NÃO. EIS A QUESTÃO

Max Pereira
@pretono46871088
@MaxGuaramax2012

O site” DEUS ME DIBRE” publicou em suas redes sociais nesta última quinta-feira o seguinte comentário: “Mohamed completa dois meses de Atlético com bons números e sem conseguir, ainda, colocar o que tem de melhor em campo”.

E o fato do time de “El Turco” efetivamente não vir encantando a torcida atleticana tem preocupado bastante o mundo alvinegro. Por que será que o treinador atleticano tem deixado inúmeros galistas insatisfeitos e temendo o pior? Houve até quem sugerisse a sua demissão e outros que deixassem claro não acreditar mais em suas possibilidades ou em sua capacidade.

Sempre quando um novo treinador chega a qualquer clube as comparações são inevitáveis. Assim como aconteceu com Cuca em relação a Sampaoli, acontece agora com Tony Mohamed em relação a Alex Stival. E entre semelhanças e diferenças, assim como Cuca teve nos primeiros momentos imensas dificuldades para ajustar o time atleticano que, por um momento, pareceram intransponíveis, “El Turco” parece demonstrar uma incapacidade insuperável de fazer a equipe alvinegra fluir e voltar a jogar aquele futebol que em 2021 encheu os olhos de sua torcida.

Não que necessariamente se esperasse que o time atleticano voltasse a mostrar aquele futebol envolvente em todas as suas nuances táticas. Afinal, um novo treinador traz sempre alguma inovação, faz sempre algum ajuste e sempre dá uma pitada pessoal à equipe que dirige. Cuca é Cuca e Mohamed é Mohamed. E só isto basta.

O grupo também sofreu modificações pontuais e, ainda que a base tenha sido mantida e o bom ambiente entre os jogadores tenha sido preservado, não há como não reconhecer que as novidades inevitavelmente modificam os paradigmas de um grupo e de qualquer clube e que as ausências são sempre sentidas. Tudo isso, em maior ou menor intensidade sempre provoca um certo grau de descontinuidade. E o reflexo disso tudo é exatamente isso que temos visto dentro de campo.

Se queremos ver um time harmônico e coletivamente eficiente, leve e fluido dentro de campo, é fundamental que, fora das quatro linhas, também exista harmonia, espírito coletivo, leveza e fluidez. O que estaria faltando, então? A primeira coisa que me vem à mente é que o Turco, como ele já está sendo chamado carinhosamente em bom português, ainda não conhece o grupo em profundidade.

E, quando falo em conhecer, não me refiro apenas às capacidades táticas, técnicas e físicas dos atletas que ele tem à sua disposição. Falo também do conhecimento da alma do boleiro e das características pessoais, emocionais, psicológicas e mentais de cada um de seus jogadores. Pode parecer uma exigência descabida, mas no futebol de hoje este conhecimento é essencial a todo bom comandante. E chegar ao nível ideal de conhecimento leva tempo.

Muitas vezes um jogador não rende o que dele se espera não é porque seja ruim ou não tenha aptidão tática para exercer a função atribuída a ele ou ainda tenha alguma deficiência de caráter.

Basta um problema pessoal, um desconforto emocional ou psicológico qualquer, uma inadaptação ao grupo, ao clube, ao trabalho desenvolvido pela comissão técnica, à cidade e, nesse caso, pode ser até de algum parente, para que o seu rendimento decresça. Muitos torcedores não gostam de ouvir e nem de ler, mas o jogador de futebol não é uma máquina que pode ser programada para render em nível máximo em todos os jogos e situações. 

Um elenco estelar como o do Atlético impõe ao comando do clube e, não apenas a quem gere o futebol, inúmeros desafios. Holofotes, bajulações, tietagens, assédios de todos os tipos, aproveitadores, oportunistas, empresários muitas vezes mal intencionados, falsos amigos e amores acabam fazendo parte da vida do atleta que, muitas vezes impotente, se vê engolido, explorado e perdido. Nem todo jogador consegue se fazer cercar e representar apenas por gente séria e profissional. E, tampouco, resistir aos efeitos colaterais do sucesso, da fama e do dinheiro. 

Ainda buscando respostas em relação aos porquês das dificuldades de Mohamed em fazer o time jogar à sua feição com fluidez, leveza e eficiência, intuo que talvez em função de seu não conhecimento pleno das aptidões e das características técnicas, táticas e físicas de seus jogadores, as experiências de “El Turco” não tenham dado certo ou, pelo menos, não tenham funcionado como ele desejava e nós torcedores, claro, gostaríamos.

Menos mal que ele não tenha buscado violentar a proposta de jogo que Cuca definiu e os jogadores já estão acostumados a executar. Não seria inteligente patrocinar mudanças radicais que obviamente não seriam bem recebidas pelo elenco. Afinal, não se deve mudar o que está dando certo e, sim, fazer os ajustes necessários para maximizar no que for possível o rendimento da equipe.

Em suas entrevistas coletivas desde que chegou ao clube, Tony Mohamed tem dado a entender que entende isso e que, por essa razão, tem procurado introduzir paulatinamente suas ideias e a sua maneira de jogar. Outro ponto positivo é que Mohamed tenha mostrado que não se intimida em fazer experiências, ainda que elas possam não ser entendidas seja pela imprensa, seja pela torcida atleticana.

Se Cuca para muitos e para mim de forma particular, no início dessa sua segunda passagem pelo Atlético, deu a entender que estava no lugar errado e na hora errada quando aqui chegou, com Antônio Mohamed me confesso um tanto quanto incomodado, mas, seguramente não tão apreensivo quanto fiquei com Alex Stival.

Uma coisa que tem me agradado no trabalho do treinador argentino é a importância que ele, em suas manifestações públicas, tem dado ao volume e à qualidade de opções do elenco atleticano que qualifica em bom espanhol como “largo”. Se alguém dúvida disso, lembro que ele vetou a saída de qualquer jogador até o final do campeonato mineiro, sob a alegação de que precisa conhecê-los e avaliá-los, o que demanda tempo e trabalho.

Mas, como explicar a utilização recorrente de Tchê Tchê, vítima de uma má vontade insuflada e potencializada no seio da massa, cuja saída em maio, ao final de seu contrato com o clube, é dada como certa, e a subutilização de Neto, Castilho, Calebe, Echaporã, Savinho, e até de Otávio, recente contratação, dentre outros? Coisas do Atlético? Manias de Mohamed? Segredos atleticanos? Mistérios alvinegros?

Recentemente foi noticiado que o Grupo City que havia adquirido os direitos de Savinho que só deve se apresentar ao seu novo clube na próxima janela, estaria exigindo do Atlético que o escalasse e mantivesse em atividade enquanto ficasse por aqui. O Atlético teria respondido que atender a este pedido seria afrontar a autonomia e a independência do treinador a quem não se poderia impor a escalação de ninguém. Posição óbvia e protocolar do clube que, porém, acendeu outra polêmica: se não fosse vendido, Savinho estaria fora dos planos de El Turco? Se sim, por que?

Se Mohamed vai chegar lá onde massa quer que ele chegue ou não, quem viver verá. Até lá muitas perguntas, muitas encruzilhadas, muito trabalho, muitos erros e acertos, muitas escolhas e muitas dúvidas e desafios. Se vai chegar lá ou não, eis a questão.