Galo com defesa de zona de rebaixamento

Paulo Peixoto

É duro ter que iniciar a resenha da derrota horrorosa do Galo (3) para o Fluminense (5), no Maracanã, informando que o campeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil e semifinalista invicto da Libertadores em 2021 tem na 10ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2022 um sistema defensivo digno de time da zona de rebaixamento. Uma verdadeira bagunça está a zaga atleticana.

O time de Antonio Mohamed tem 13 gols sofridos em dez jogos. É o mesmo número de gols sofridos pelo Atlético-GO (18º colocado). O Galo só não é pior defensivamente do que o Avaí (com 15 gols sofridos e na 16ª colocação) e o Juventude (com 17 gols sofridos e 19º colocado).

Inaceitável, inadmissível, vergonhoso… Todas as palavras que vierem a ser empregadas aqui por mim ou pelo Hulk (que falou ser “inadmissível” o time sofrer cinco gols em uma partida) não seriam suficientes para retratar o que está acontecendo com o sistema defensivo do Galo.

É que o problema não está somente no jogo de ontem, está em todo o Campeonato Brasileiro (média de 1,3 gol sofrido por jogo) e na Libertadores, com seis gols sofridos em seis jogos (média de 1 gol por jogo). No ano passado, na décima rodada do Brasileirão, a nossa média de gols sofridos por jogo era de 0,9. E era de 0,5 a média de gols sofridos na Libertadores.

Voltando para a patacoada de ontem, gostaria de chamar a atenção para o problema do sistema defensivo, algo não específico da defesa. É claro que Nathan Silva foi um desastre ontem e ao longo de todo o Brasileirão. Dos sete jogos que ele participou, Nathan Silva levou seis cartões amarelos. Vai cumprir a sua segunda suspensão no sábado contra o Santos.

É claro que isso está errado, mas o problema não é apenas dele. Tem um erro horroroso de proteção à zaga. Para mim, isso ficou ainda mais evidente no jogo de ontem. Convido os atleticanos a reverem a partida contra o Fluminense e observarem em vários momentos do jogo a posição ocupada pelos volantes Allan e Jair.

Mas muitas, mas muitas tentativas de saída de bola do Fluminense era principalmente Jair que ia dar o combate, como elemento surpresa. Tanto é que ele foi o melhor jogador do Galo na partida e responsável por dois gols com as roubadas de bola, além de ter marcado um gol em jogada de Alonso pela esquerda.

Allan jogava como um meia avançado quando o Fluminense tinha a posse de bola.

O Fluminense flutuou pelo meio porque o Galo de Mohamed facilitou demais a vida do bem organizado time carioca. Mas não é possível tirar o mérito do Fluminense, que teve Ganso como principal articulador.

Penso que Mohamed quis barrar o time carioca na saída de bola justamente para evitar essa progressão com toques de qualidade, mas deu com os burros n’água porque, com os avanços de Allan e Jair, foi o Galo que acabou sem proteção da sua zaga e dos seus laterais. Soma-se a isso o fato de Nacho, Sasha e Ademir não serem eficientes marcadores. Foi uma lambança na noite de ontem.

Tem coisas que eu até agora estou sem compreender. Sasha sem dúvida tem sido de extrema valia como atacante, é o nosso vice-artilheiro na temporada e tem todos os méritos até aqui. Mas eu gostaria de ouvir do treinador qual é a função tática dele jogando com Nacho, Hulk e Ademir na frente. Ele é voluntarioso, sem dúvida, mas do jeito que está sendo escalado, não consigo vê-lo se destacando. Isso já havia acontecido contra o Palmeiras.

Ontem, quando Nacho caia pela esquerda, Sasha caia para a meia-direita. Quando Nacho ia pra meia-direita, Sasha ia pra meia-esquerda. Ficou nisso quase que o jogo inteiro. As duas melhores jogadas dele, no entanto, foram justamente quando ele entrou na área em velocidade pelo meio, o que ele faz bem. Na primeira ele cabeceou perto da trave. Na segunda, ele marcou o gol.

Às vezes eu acho que Nacho corre excessivamente e se desgasta muito. Ele é um baita jogador para correr além do necessário.

Zaracho faz muita falta a esse meio-campo. E o Sasha não tem nada de Zaracho. É outro tipo de jogador.

E o que faz Ademir ser titular nesse time? O rapaz talvez seja melhor aproveitado vindo do banco de reservas, descansado. Assim eu penso, mas o treinador não sou eu, é Mohamed. Então, queria ouvir as suas explicações.

Os dez minutos finais da partida foi uma situação digna de filme das antigas nas sessões malditas do cinema. Era sempre um filme “trash” que se iniciava à meia-noite em algumas salas de Belo Horizonte.

O “filme” de ontem foi o “Chuveirão do Mohamed”, em que a bola era lançada da intermediária a esmo para a área do Fluminense para ver se Fábio Gomes resolvia de cabeça. Claro que não deu certo nem uma vez sequer. Foi patético!

O Campeonato Brasileiro é muito duro, muito disputado e perder não é anormal. A derrota para o Fluminense seria normal pelo futebol apresentado pelo adversário. Mas a peneira que foi o sistema de defesa e nenhuma mudança para alterar os erros foi algo que deve ser bem avaliado. Que isso ao menos sirva de aprendizado. A ver.

Eu pensava que durante a partida de ontem o amigo e grande atleticano Eduardo Ávila estivesse ainda grogue de sono com as anestesias que recebeu para o procedimento médico a que foi submetido. Aborrecimentos nessa hora ninguém merece.

Mas que nada. Ele estava bem aceso, ligado no jogo e mandou esse recado aqui pros amiGalos: “Não me lembro de o Galo tomar 5 num único jogo. Peneira do Turco! Inexplicável, inaceitável. Réver, quase da minha idade, não permitiria. Parecia que era o Werley. Dez escanteios pro Galo, nenhum pro outro”.

É Edu, a coisa foi feia. Boa recuperação pra você. Bom saber que a cirurgia foi muito boa.

Acorda, Galo, ainda dá tempo para ser campeão em 2022.