AS BOLINHAS APENAS DEFINEM O INÍCIO DA CAMINHADA. O RESTO É O CLUBE QUEM TEM QUE DESENHAR

Max Pereira
@pretono46871088
@MaxGuaramax2012

Quem acha que o futuro do Atlético na Libertadores será decidido tão somente em função das bolinhas que, aleatoriamente, cairão ao longo do sorteio que definirá a fase de grupos da competição está redondamente enganado, ainda que teoricamente possa ser dito que o caminho deste ou daquele clube é mais fácil ou mais difícil dependendo dos adversários que compuserem o seu grupo.

E sempre existem aqueles grupos considerados mamão com açúcar e aqueles outros chamados de grupos da morte que tiram o sono de milhares e milhares de torcedores. Mesmo reconhecendo que alguns grupos são de fato bem mais pesados que outros seja em função da tradição, do peso da camisa ou ainda da qualidade do elenco dos times que o compõem, sou daqueles que entendem que o caminho pode ser mais ou menos penoso de acordo com o desempenho, os cuidados, a estrutura, o trabalho, o planejamento e a preparação de quem o percorre.

Um jogo fica mais difícil para um time se este o fizer mais difícil e mais fácil se este o tornar mais fácil, o que não significa menosprezar o adversário. Ao contrário, pois, para tornar um jogo mais fácil é preciso se preparar, se qualificar e se potencializar para isso.

Em suas entrevistas coletivas Mohamed tem recorrentemente festejado possuir sob o seu comando um elenco a que chama em bom espanhol de “largo”, ou seja, cheio de opções e extremamente qualificado. Ao exaltar estas características do elenco atleticano, o Turco deixa claro que, ao dispor de um grupo deste quilate em quantidade e em qualidade, ele tem condições de experimentar múltiplas variantes táticas, inclusive em uma mesma partida e diante do mesmo adversário, e assim confundi-lo e sobrepuja-lo.

Não é apenas a superioridade técnica individual do Atlético em relação aos seus adversários que o tem levado a vencer, a bater recordes de invencibilidade como mandante, a conquistar títulos e a virar jogos que, por um momento, parecem definitivamente perdidos. O que tem levado o Galo mais famoso e mais querido do mundo a obter esses números absolutamente expressivos é a capacidade do time de fazer na pratica esta superioridade técnica prevalecer. Ou seja, de tornar os seus jogos mais fáceis e as vitorias possíveis. E, claro, isso tem a ver com aquelas já reconhecidas e exaltadas resiliência, capacidade de superação e vontade de vencer.  

E, para um time ratificar na prática aquela superioridade que no papel é indiscutível e inescondível, é preciso que sejam dadas a ele as condições para que ele em campo ele possa traduzir o seu potencial. Assim, enquanto Antônio Mohamed e sua comissão técnica têm a missão intrínseca às funções de cada um de dar ao time estrutura tática, coletiva, física, emocional, mental, psicológica e motivacional, os dirigentes alvinegros, cada qual, no âmbito de suas atribuições têm a missão, não menos importante, de garantir que os trabalhos intramuros da Cidade do Galo não sofram descontinuidade e, ao mesmo tempo, de, brigar como deve ser brigada, a inevitável e sempre devastadora guerra dos bastidores.

Cada macaco em seu galho agindo em sintonia fina. Ou seja, assim como é fundamental a qualquer time jogar coletiva e harmoniosamente, para que as estratégias táticas funcionem e a qualidade técnica prevaleça naturalmente, a equipe de fora do campo também tem que jogar junto, de forma equilibrada e harmônica.

Recentemente o próprio clube, em uma matéria na TV Galo, ao exaltar a excelência e o leque de opções que o clube garantiu a Cuca no ano passado e a Mohamed até agora nesse ano de 2022, reconheceu que estes fatores foram primordiais para que o Atlético conquistasse os títulos que conquistou.

Ainda que a conjuntura econômica em crise recorrente e agudizada pela pandemia tenha feito o mercado da bola refluir, particularmente o chamado mercado primário, enquanto mundo afora, Europa inclusive, se multiplicaram os casos de clubes, empresas e associações, que entraram estado falimentar os primeiros e de insolvência os segundos, tenha facilitado ao Atlético “engordar” o seu elenco, vez que as saídas inicialmente previstas com o objetivo de permitir ao Glorioso cumprir as metas de vendas projetadas em seu orçamento para o exercício de 2021 não se concretizaram, é de se louvar o cuidado com as finanças do clube, com a politica de contratações pontuais, com a gestão de um vestiário tão pesado e tão complexo e com a administração de crises latentes, tão naturais em qualquer grupo heterogêneo, onde são múltiplos os temperamentos, cada qual com a sua individualidade e sensibilidade particular em relação aos problemas e aos desafios, o que permitiu ao Galo Forte e Vingador caminhar com segurança, equilíbrio e eficiência rumo aos títulos conquistados.

E se em 2021 já foi complicada e dura a tarefa atleticana, nesse 2022 ela é ainda mais pesada, complexa e desafiadora, vez que manter-se no topo é sempre mais difícil e penoso do que lá chegar.

Explosões emocionais como as de Keno sempre que joga mal, explorações maldosas e midiáticas sobre quem vai sair ou deve sair, administrar o numero excedente de estrangeiros no grupo, os egos normalmente inflados de um elenco estelar e os problemas decorrentes da implosão de contusões graves, fenômeno que, como agora, ocorre e perturba por vezes a vida do clube intramuros da Cidade do Galo, e ainda proteger as informações estratégicas em relação às reformas de contrato, contratações e segredos de negócio, são alguns dos principais e intermináveis desafios daqueles que têm por missão conduzir os destinos do clube que, paralelamente a tudo isso, jamais poderão deixar a transparência de lado, sob o riso de ver a sua credibilidade escorrer pelo ralo. Parece paradoxal, mas não é.

Enquanto isso, o caminho do Atlético na Libertadores começa a ser traçado. Mas, as bolinhas apenas irão definir o início da caminhada. O resto é o clube, com todos esses cuidados aqui defendidos, quem tem que desenhar. E isso, claro, vale também para o Brasilerão 2022 e para a Copa do Brasil desta temporada.