Aniversário e festa para quem te ama

Pelo segundo ano consecutivo, nossa comemoração será à distância. Como diz em diversas letras que viraram músicas de sucesso: “longe dos olhos e perto do coração”. Tem pra todos os gostos desde Moacir Franco, passando por Nana Caymmi, até a dupla sertaneja Leo Canhoto e Robertinho, entre outros tantos. Ano passado, juro, tinha certeza que hoje estaríamos ocupando a Avenida Olegário Maciel neste 25 de março de 2021. Que nada, a pandemia ainda teima e nos deixa amando de longe.

Passei ontem e boa parte dessa noite relembrando nossa união. Você, Galo querido, completando 113 anos, exatos 50 a mais que meus 63. Quando nasci meu futuro amor já era maduro e dono do terreiro de Minas Gerais. Peguei você tendo como adversário o coelho, depois soube que no passado teria sido o leão de Nova Lima. Vivi a maior rivalidade do futebol brasileiro de todos os tempos, com o urubu do Rio de Janeiro, da CBF e da TV.

Aqui em nosso território, soberanamente somos o maior de Minas. Houve um período que um clube menor ensaiou rivalizar com o Galo, mas assim como o Vila Nova – do nosso primeiro clássico mineiro – caminha para situação de insolvência. O que é triste para o futebol do Estado, que merecia ter mais times grandes. O América oscila num sobe e desce interminável, deixando o Galo como o único mineiro tradicional de todos os tempos.

Galo amado, nesse seu dia é gostoso e saudável reviver e relembrar nossa convivência. Nada de DR – discutir relação – ao contrário festejar essa união. Nossos eventuais afastamentos nunca duraram mais que uma noite. Quando, por alguma frustração, vou dormir triste já me acostumei que no dia seguinte acordo te perdoando e relevando qualquer deslize nesse nosso caso que já passou de meio século.

Diferente de quem tem esse tipo de opção, eu e a maioria esmagadora de Atleticanos não dividimos esse sentimento com quaisquer outras cores. Aqui é SÓ Galo, po##@!. Até tenho um caso eventual, que nunca fiz segredo, mas assim como você começa com A, o mascote com G e as cores são as mesmas. Mas é caso da infância, de encontros esporádicos, com o Ganso da minha Araxá. Sem segredos ou dissimulações, esse caso extra é de conhecimento de todos os envolvidos.

Pois que, meu amor Clube Atlético Mineiro, quando eu era criança comecei a ouvir sobre sua história, raça e paixão por um saudoso cunhado, que enfrentava meu pai (flamenguista) – e um meu irmão mais velho (que estudante em Belo Horizonte se rendia a um time pequeno que vivia uma fase emergente do futebol). Na casa desse meu cunhado tinha um disquinho, daquele compacto, com o hino do Galo. Eu ficava que nem essa criança do vídeo. Diziam que o disco ia furar.

Para meu regozijo e história de vida, o cunhado venceu a disputa. Hoje, os três já vivem em outro plano e sei que todos curtem essa paixão pela minha opção. Meu irmão, ao seu jeito, demonstrava admirar o quanto eu me dedicava a esse amor pelo meu clube do coração. Papai, que quando se foi eu ainda era adolescente, viveu comigo uma guerrinha da rivalidade dos anos 70.

Minha fidelidade é tamanha que, ao contrário da paixão que gera ciúmes, me encanta ainda muito mais dividir esse amor com nove milhões de outras Atleticanas e Atleticanos. O Galo para nós é único, mas nós podemos ser um entre essa enorme Massa, sem sentimento de propriedade. Nos abraçamos e nos beijamos a cada vitória e conquista em sua incomparável história.

Te desejamos muitos centenários. Diferente de adversário de um curto período já passado, que mal completou o primeiro século e já sinaliza para o caminho de uma morte lenta, gradual, muito sofrida, sem retorno, deixando o instável coelho como nosso único sparring sobrevivente no território mineiro. Um ou outro clube do interior, em espasmos ocasionais, nada, além disso.

Minas Gerais até que merecia mais. Mas como embalava Bete Carvalho, “você pagou com traição a quem sempre te deu a mão”. Quem não se lembra de que em poucas décadas atrás, o Galo ofereceu ajuda para salvar essa gente da primeira crise. Enfim!

Encerrando nossa prosa, meu Galão querido, valeu por tudo que já me proporcionou no passado, que pude viver momentos mágicos dessa minha atual passagem pela Terra. Obrigado pelo que me sugere a cada novo tempo, como esse dos seus 113 anos de glória. E, saiba, quero ainda viver muito tempo para assistir – especialmente – na nossa casa própria sua nova fase no cenário esportivo mundial.

Adaptando a letra do Ednardo, diria que o Eduardo pode cantar: “Galão misterioso, gigante formoso… muita história eu tinha (e tenho ainda) pra contar”.

Parabéns Galo! Te amo!