por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Criado em 1986 para ser uma paródia dos super-heróis da época, The Tick conseguiu uma boa base de fãs, se tornando um daqueles fenômenos cult que, vira e mexe, aparecem no mundo do entretenimento. Depois de ser levado à TV em uma série animada entre 1994 e 1996, ele teve sua primeira versão com atores, estrelada por Patrick Warburton (de Ted 2, 2015), que trazia coadjuvantes impagáveis como a Capitã Liberdade, Batmanuel e o inseparável companheiro Arthur.
Devido a problemas que só acontecem com os executivos da Fox, por mais que a série fosse aprovada por público e crítica, essa versão de The Tick teve apenas nove episódios antes de ser descontinuada. Dezesseis anos depois, o serviço de streaming da Amazon decidiu trazer o personagem de volta em uma nova série que, com pouquíssimas exceções, guarda poucas semelhanças com sua antecessora. Se a versão de 2001 era, basicamente, uma sitcom estrelada por super-heróis, a versão de 2017 tem pouco daquele humor escrachado e traz tons bem mais sombrios para a personagem.
A nova versão de The Tick tem como estrela principal não o herói superforte, invulnerável, desmemoriado, propenso a discursos grandiloquentes e sem muita noção da realidade vivido por Peter Serafinowicz (de Guardiões da Galáxia, 2014, e Rick and Morty). Aqui, a história gira em torno de Arthur (Griffin Newman, de Vinyl – acima) e sua obsessão em provar que o Terror (Jackie Earle Haley, de A Torre Negra, 2017), vilão que o mundo acredita estar morto há anos e que foi responsável pela morte de seu pai, não só está vivo como comanda o crime na cidade onde habitam.
Além disso, Arthur acredita que Terror está preparando um plano que marcará sua volta de maneira catastrófica. Infelizmente, diferentemente de diversas pessoas que habitam esse mundo, Arthur não tem superpoderes ou quaisquer habilidades especiais, sendo apenas um contador que, em sua busca pelo que acredita ser a verdade, tromba com um traje que lhe concede habilidades especiais. E no Tick, o único que parece acreditar nele.
Com a exceção de algumas sequências que prestam homenagens a aquela, essa nova versão de The Tick é bem mais séria e, sejamos francos, menos divertida do que sua predecessora. Apesar de ainda ser uma série sobre super-heróis vivendo em um mundo muito parecido com o nosso, quase toda a comicidade focada no dia a dia dessas pessoas foi descartada. O foco aqui é, em grande parte, a forma como Arthur lida com as consequências de sua perda, os problemas psicológicos e psiquiátricos que isso gerou e como as pessoas à sua volta lidarão com isso, especialmente sua irmã Dot (Valorie Curry, de Bruxa de Blair, 2016 – acima), uma paramédica e estudante de medicina que acredita que Arthur está voltando às alucinações que atormentaram sua adolescência e que também tem alguns segredos que prefere esconder do irmão. Até mesmo o próprio Tick, praticamente o único alívio cômico presente, tem sua sanidade colocada em xeque, de maneira mais profunda do que em sua série anterior.
Toda essa abordagem torna a nova versão de The Tick muito mais densa, mas não menos atraente. Todos os atores levam seus papéis a sério na medida certa e têm uma performance convincente. As caracterizações estão bem feitas e, se há um ou outro problema nas cenas com CGI – e há –, eles não incomodam e devem ser superados na medida em que um orçamento mais folgado seja liberado para a segunda temporada que, apesar de ainda não ter sido anunciada, deve acontecer. Há ainda problemas na tradução do Amazon, que hora chama o personagem Superion por seu nome original, ora o traduz para Superia. Outro incômodo menor.