por Marcelo Seabra
Talvez para evitar disputar público com a Copa, os bons filmes parecem estar esperando para estrearem. Por isso, as principais atrações em cartaz atualmente não são das mais animadoras. Duas delas, que pareciam destinadas às prateleiras das locadoras, conseguiram chegar à tela grande. Mas as opções são tão fracas que os jogos do Brasil no mundial estão ficando bem colocados na lista das melhores bilheterias da semana, até mais que as estreias.
Contando mais uma história inspirada na geração beat, como Na Estrada (On the Road, 2012), Versos de um Crime (Kill Your Darlings, 2013) parte para os fatos que envolveram os jovens escritores quando Allen Ginsberg chega a Nova York. Vivido por Daniel Radcliffe, mais lembrado como Harry Potter, Ginsberg entra em contato com outros que viriam a ser grandes escritores, como Jack Kerouac (Jack Huston) e William Burroughs (Ben Foster). No entanto, seu amigo mais próximo é Lucien Carr (Dane DeHaan, o novo Duende Verde), um filhinho da mamãe que pretende revolucionar a literatura quebrando os padrões da época.
Pode ser que a forma como estão representando estas figuras históricas não seja adequada. Mas o que fica é que são todos um bando de pretensiosos almofadinhas e é surpreendente que sejam famosos até hoje. Um crime acontece, para chacoalhar as coisas, e o longa toma um rumo de tragédia. Mesmo assim, não consegue empolgar, mantendo o público sempre à distância. Mesmo a curiosa presença de Michael C. Hall, o psicopata Dexter da TV, não salva a sessão da mesmice. O elenco interessante é desperdiçado pelo tal John Krokidas (acima, com o elenco), um diretor estreante sem expressão alguma que não faz muito com o roteiro do também novato Austin Bunn.
Da série “refilmagens inexplicáveis”, outra obra em exibição é a versão de Spike Lee para o sul-coreano Oldboy. De 2003 para 2013, o que mudou foi para pior. A trama básica é mantida: um sujeito é aprisionado por vinte anos até que, sem nenhum motivo aparente, ele é libertado. O vilão, então, se revela e dá um tempo determinado para que o sujeito descubra quem o outro é e por que o seqüestrou. Não só detalhes foram alterados, mas partes mais importantes também, o que até poderia ser interessante para trazer um ar de novidade a algo já conhecido. Mas todas essas alterações empalidecem frente ao anterior, o que nos deixa sem entender o motivo de ser da refilmagem.
Com Josh Brolin (de Reféns da Paixão, 2013) no papel principal, o protagonista virou um ninja exagerado que se afasta bastante do original, que agia como um animal ao sair do confinamento e, apesar de forte e ágil, também apanhava e sofria. O vilão, vivido por Sharlto Copley (de Malévola, 2014), é esquisito ao extremo, e suas motivações não ficam muito claras devido à necessidade do roteirista Mark Protosevich de se diferenciar do original. A única coisa que atraiu certa atenção para o filme foram as cenas quentes entre Brolin e Elizabeth Olsen (de Godzilla, 2014). Spike Lee já conseguiu resultados muito superiores, e fazendo um trabalho mais autoral, dando a sua cara às produções.