A Copa no Cinema

*Por ocasião da Copa do Mundo, já que todos só respiram futebol, convidamos o jornalista e comentarista esportivo Daniel Seabra para relembrar um novo clássico do Cinema Nacional que trata do tema. É um de seus filmes favoritos.

Boleiros e os causos do futebol

Boleiros

por Daniel Seabra

É, já temos uma Copa. E, até agora, que Copa! Para quem duvidava (os adeptos do #naovaitercopa), por enquanto os jogos estão rolando da melhor forma possível, com desfile de craques pelas novas arenas, show nas arquibancadas e torcidas de várias nacionalidades invadindo as capitais que recebem as partidas. Aliás, o entrosamento da turma gringa com os brazucas, tem sido o melhor possível. No rastro da principal competição futebolística do planeta, nada melhor que pipoca e guaraná (para não dizer uma boa cerveja artesanal com um belo churrasco), acompanhado de um filme que tenha como tema o esporte bretão.

Nesta linha, não dá para deixar passar batido Ginga – A Alma do Futebol Brasileiro (Brasil, 2004), O Ano em que meus pais saíram de férias (Brasil, 2006), 1958 – O Ano em que o mundo descobriu o Brasil (Brasil, 2008) e O Milagre de Berna (Das Wunder von Bern, Alemanha, 2003). São exemplos de obras primas que retratam situações envolvendo o futebol. Mas o craque da rodada (eleito por este que vos escreve, claro!) é Boleiros – era uma vez o futebol (Brasil, 1998), de Ugo Giorgetti. O mesmo diretor lançou, em 2006, Boleiros 2 – vencedores e vencidos. Mas como a bola da vez é ao primeiro, vamos aos fatos.

Boleiros elenco

Poucos filmes retratam, com tamanha veracidade e riqueza de detalhes, causos do futebol brasileiro, daqueles que quem acompanha o esporte está mais do que acostumado a ver. A paixão da torcida, o nervosismo do técnico no pré-clássico (no caso, Corinthians x Palmeiras), principalmente quando o craque do time se envolve com uma Maria Chuteira na noite anterior, o juiz corrompido, a angústia vivida pelo ex-jogador quando ele passa por sua primeira morte (o fim da carreira), a negociação do craque do time, a revelação brasileira, a relação com o futebol europeu… Está tudo lá, de uma forma que, se tivesse saído da cabeça de algum torcedor, comentarista ou ex-atleta, seria bastante coerente.

É a arte do futebol, ou retratando o melhor do futebol. É a parte boa (pelo menos para quem assiste), ou seja, os contos, as histórias, o extra-campo que permeia (e sempre permeou) o futebol. Principalmente no Brasil, onde é a paixão nacional, país em que somos mais de 200 milhões de treinad… ops, de torcedores. Tudo bem, alguém pode dizer que trata-se somente dos estereótipos do futebol brasileiro. Mas aí é que está a graça. Os casos podem, muito bem, serem baseados em fatos, já que não há ali qualquer absurdo.

A história se desenrola no local em que grande parte dos brasileiros resolve todos os problemas do mundo, ou pelo menos os seus: na mesa de boteco. Ali estão ex-jogadores que relatam experiências que marcaram suas vidas quando corriam atrás da pelota. Até a mesa redonda, outra instituição nacional, amada por 99% dos torcedores tupiniquins (e odiada por 100% das mulheres dos mesmos), é recriada, e aos melhores moldes dos principais programas esportivos nacionais.

E os casos, por várias vezes, extrapolam as quatro linhas. Alguns, mais céticos, podem achar um exagero. Mas quem cresceu acompanhando o futebol sabe que os pais de santo também vestem a camisa e entram em campo para deixar tinindo o grande jogador da equipe, como retratado em uma das esquetes. Ou quando o treinador da escolinha, que invariavelmente reclama dos pais que pagam a mensalidade e querem que seu “Pelé” seja sempre titular, perde um talentoso garoto, com um belo e promissor futuro, para o tráfico de drogas.

osmar santosAinda sobra tempo para uma mais que justa homenagem. Nos créditos finais, Ciro Jatene, um dos grandes locutores do Brasil, se passa por Osmar Santos (ao lado), narrando um jogo fictício, com jogadores de várias épocas. Vale lembrar que Osmar, inventor de expressões que ficaram imortalizadas no esporte nacional, como “Parou por quê, por que parou?” e “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, é grande referência para quem gosta de rádio esportivo. Ele sofreu um grave acidente automobilístico em 1994, que lhe deixou com sérios danos cerebrais e totalmente impossibilitado de exercer sua profissão.

Por tudo o que está retratado na obra, acima de ser um filme sobre esporte, ou mais especificamente sobre o futebol, vale para quem gosta de casos, reais ou não, sobre a vida. Está certo, ligados ao esporte, mas com o cotidiano estampado e com o humor característico de Ugo Giorgetti.

Otávio Augusto é um dos nomes ilustres no elenco

Otávio Augusto é um dos nomes ilustres no elenco

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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