por Marcelo Seabra
Apesar de alguns cineastas pensarem que precisam de muitos personagens e minutos para contarem uma boa história, outros provam o contrário. Com um roteiro enxuto e pouco mais de uma hora e meia, William Friedkin, diretor de nada menos que o clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973), conta uma história de crimes e traições em um pequeno e problemático núcleo familiar que já entra para a história como alguns dos caipiras ficcionais mais estúpidos de todos os tempos. Killer Joe – Matador de Aluguel (2011) é divertido, violento e traz ótimas interpretações de todos os envolvidos.
Emile Hirsch (de Na Natureza Selvagem, 2009) é o primeiro Smith que conhecemos, Chris. Tendo sido roubado pela própria mãe, o jovem se vê numa situação complicada. Ele precisa pagar os fornecedores da droga roubada e não tem um tostão. Seu pai, o banana Ansel (Thomas Haden Church, de Compramos um Zoológico, de 2011), não tem como ajudar: ele mora em um trailer com a nova esposa e a filha e mal ganha o suficiente para sustentá-las. Chris, então, vê a saída: já que a mãe causou o problema, nada mais justo que ela ser usada para acertar tudo. Ele e Ansel decidem procurar o detetive Joe Cooper (Matthew McConaughey, de Magic Mike, 2012), conhecido entre os marginais locais como um assassino de aluguel. A mãe seria executada para que o dinheiro do seguro de vida resolvesse as dívidas deles.
Esse plano aparentemente simples não poderia dar errado, pensam Chris e Ansel. E as coisas começam a sair dos eixos quando Joe esclarece que só trabalha por pagamento adiantado, o que tornaria a jogada inviável. O matador propõe ficar com a garota Smith, Dottie (Juno Temple, de Batman Ressurge, 2012), como garantia para o pagamento, e a família aceita. Daí em diante, vemos uma sucessão de ações impensadas, trapalhadas com consequências sérias e surpresas desagradáveis.
Uma boa história como esta é uma oportunidade para os atores mostrarem do que são capazes, e é o que faz McConaughey: Joe Cooper é um personagem amoral, frio e objetivo, o tipo que faz bem para qualquer carreira quando o ator sabe como conduzi-lo. Para quem vinha fazendo comédias românticas ordinárias, essa é uma grande virada, e que ele continue nesse caminho. Outra grata surpresa é Gina Gershon: mais lembrada pelo infame Showgirls (1995), a atriz tem um ótimo desempenho e sua interação com um pedaço de frango frito é traumática.
Friedkin usa a peça e o roteiro de Tracy Letts, com quem já havia trabalhado no suspense acima da média Possuídos (Bug, 2006), para construir o retrato de uma família que não se importa em matar um dos seus para conseguir dinheiro. E mesmo a vítima, que nunca chega a aparecer, também não é uma coitadinha, já que todas as menções a ela são negativas. E o membro da força policial, que deveria ser a esperança de algo de bom, de cumprimento da lei, é o pior de todos, que vai fazer com que o plano seja concluído. O espaço restrito onde vivem é muito bem utilizado, reforçando a vida opressiva que eles levam, como se aquilo fosse um círculo vicioso: eles são produto do meio, mas são eles que criam e se aproveitam do meio. É mal do ser humano querer levar vantagem, mesmo que alguém seja prejudicado, e Killer Joe deixa isso muito claro. E a pior tortura não é necessariamente física, como prova Joe Cooper.