por Marcelo Seabra
Qualquer filme com Clint Eastwood vai conseguir um bom público, independente do assunto abordado. Ele conquistou essa confiança como ator e diretor com décadas de uma carreira de diversos acertos. Logo, Curvas da Vida (Trouble With the Curve, 2012) já tem elogios reservados desde antes da estreia. Após a sessão, fica a dúvida: por que Eastwood toparia participar de uma obra tão correta, tão convencional, e tão sem vida? O longa é bem amarrado, bem filmado e tudo parece funcionar corretamente. Mas aprendemos a esperar mais audácia dele. E nem precisava ir muito longe, bastava ser menos previsível.
Atuando no primeiro filme que não dirige desde 1993, ano de Na Linha de Fogo (In the Line of Fire), Eastwood traz características de seu personagem do ótimo Gran Torino (2008): um homem amargurado, arredio, que começa a ter problemas de saúde devido à idade avançada. Ele tem uma filha (Amy Adams, de Na Estrada, 2012), que é recrutada por seu chefe (John Goodman, de Argo, 2012) para acompanhá-lo em uma pequena viagem. O trabalho de Gus Lobel é descobrir talentos para um time grande de beisebol entre jogadores de ligas estudantis. Mickey, a filha, está contando com uma promoção a sócia da firma de advocacia para a qual trabalha, mas encontra tempo para dar uma fugida e acompanhar o pai pelo interior para conferir o talento de uma estrela em ascensão. Seguem-se inúmeras discussões entre os dois, rumo a revelações familiares e acertos de contas, com direito a imagens do jovem Clint.
Quem viu O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) sabe que há um certo embate entre o pessoal da velha guarda, que assiste aos jogos e dá um veredicto, e os mais jovens, que usam tecnologia e estatísticas para definirem novas contratações. Isso fica muito claro aqui, com Matthew Lillard (de Os Descendentes, 2011) como o babaca no computador que não se cansa de repetir que Gus está ultrapassado. Temos ainda o gerente geral, vivido pelo eterno T-1000 Robert Patrick, e está completa a equipe do Atlanta Braves. Na concorrência, aparece Justin Timberlake (de Amizade Colorida, 2011), que faz o possível como o olheiro inexperiente de outro time que acaba acompanhando seu antigo mentor e se apaixona por Mickey.
Não há problemas técnicos em Curvas da Vida que possam fazer alguém se chatear, e os atores estão bem à vontade em cena. O grande problema é o roteiro, do estreante Randy Brown, que cumpre todas as obrigações que um roteirista deve observar, mas fica longe de ser minimamente inovador ou cativante. Depois de 15 minutos de projeção, quando o longa insiste irritantemente em explicar tudo o que está acontecendo com diálogos desnecessários, é possível prever exatamente quais caminhos Brown vai seguir até chegar na açucarada conclusão. Fica a impressão de que se trata de uma comédia romântica que usa Eastwood como chamariz de público, para em seguida deixá-lo de lado. Robert Lorenz, que faz aqui sua estreia na direção, tem bastante experiência como produtor, assistente de direção e diretor de segunda unidade, inclusive em diversas parcerias com Eastwood. A amizade entre eles deve ter garantido essa nova colaboração. Ou o ator apenas estava com vontade de contar uma história simples, bonitinha, que fizesse os espectadores se sentirem bem e irem embora com um sorriso no rosto.