A mágica de Mike é para maiores

por Marcelo Seabra

Quando o premiado Steven Soderbergh (de Traffic, 2000) anunciou que faria um filme sobre strippers masculinos, muita gente não ficou muito animada. E mais: ele usaria livremente experiências de seu novo ator-fetiche, Channing Tatum, com quem colaborou em A Toda Prova (Haywire, 2011). Tatum realmente trabalhou como stripper quando tinha 19 anos e contribuiu com o roteirista estreante Reid Carolin. Juntos, eles criaram Magic Mike (2012), longa bem feito que equilibra acertos e derrapadas, ficando na média.

Tatum vive Michael Lane, um sujeito bem ativo que se divide entre criar móveis e consertar telhados de dia e tirar a roupa à noite, quando ele assume a persona de Magic Mike. Em uma obra, Mike conhece Adam, um garoto sem rumo que ele acaba levando para a boate, sob sua tutela. Dallas, o chefe, o aceita e logo o coloca em uma espécie de treinamento. Adam passa, então, a ser mais uma atração da casa, que conta com outros três ou quatro fortões. Paralelamente, Mike, que tem um caso esporádico com uma bela psicóloga, começa a se interessar pela irmã mais velha de Adam, o que o faz pensar na vida que leva e em suas metas.

Talvez pelo fato de ser algo familiar, Tatum entrega aqui sua melhor atuação – o que ainda não é muito. Mike é o estereótipo do cara bacana, que defende os seus e é extremamente íntegro e educado. Sem exageros e com um pouco mais de expressão que seus trabalhos anteriores (como em G.I. Joe, de 2009), o ator consegue construir um personagem interessante, mesmo que não o conheçamos tão bem. Sabemos o suficiente para entender que, aos 30 anos, ele esperava mais da vida, mas se acomodou. E Alex Pettyfer (acima, de vermelho), depois de aventuras adolescentes como Alex Rider Contra o Tempo (2006) e Eu Sou o Número Quatro (2011), mostra que pode dar um pouco mais de profundidade a seus papéis. Como Adam, ele deixa pistas de que pode vir a ser um bom protagonista entre adultos. O longa ainda marca a melhor atuação também de Matthew McConaughey (de O Poder e a Lei, 2011), que parece se divertir bastante como Dallas, o dono da boate.

Soderbergh vem pulando entre gêneros e se alterna entre projetos de grande orçamento e outros mais discretos, mas é possível ver temas voltando à mesa. Alguns elementos de Magic Mike foram discutidos em Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, 2009) e até na turma de Danny Ocean na trilogia do Segredo. Os personagens começam envoltos em glamour, com o tempo seus dilemas são mostrados e percebemos que aquilo pode funcionar por um período, não para sempre. A ideia é fazer um pé de meia e investir onde realmente se tem interesse. O diretor tenta ser realista e evitar clichês, o que às vezes é possível. Mas falha em não conseguir criar uma conexão entre personagem e público e entrega um longa emocionalmente distante. Depois de algum tempo, você quer mais é que Mike e os colegas peladões sumam da sua frente.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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