por Marcelo Seabra
Um Woody Allen menor ainda é um Woody Allen, o que significa ser melhor que a maioria das comédias por aí. Para Roma Com Amor (To Rome With Love, 2012) não é bom como os clássicos do diretor ou mesmo como o recente Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), mas não chega a ser a derrapada que é Scoop – O Grande Furo (2006). São histórias amarradas e ambientadas em Roma, mas que poderiam acontecer em qualquer lugar. Foi apenas uma desculpa para Allen visitar mais uma cidade européia, após Londres, Barcelona e Paris, de seus longas anteriores.
Depois de se ligar totalmente à imagem de Manhattan ou Nova York, de forma geral, Allen decidiu passear e ele sempre parece reunir o grupo de atores que quiser. Desta vez, ele próprio tomou parte em frente das câmeras, o que não fazia desde Scoop, e inovou mais uma vez. Após viver basicamente ele mesmo em várias produções, Allen passou a convidar outros atores para assumirem a função, e não segue um padrão: houve um menino (A Era do Rádio, de 1987), uma mulher (Vicky Cristina Barcelona, 2008) e até atores bem mais novos (como Owen Wilson em Meia-Noite). Aqui, há dois Woodys: ele mesmo e Jesse Eisenberg (de A Rede Social, de 2010), papéis diferentes com características bem similares.
Se Meia-Noite foi bem sucedido por pegar um tema, a nostalgia, e explorá-lo bem, Para Roma se perde por tentar abordar vários assuntos e personagens, todos de forma mais rasteira, como se fossem curtas costurados uns aos outros. Há algumas sacadas geniais, como o uso do personagem de Alec Baldwin (de Simplesmente Complicado, 2009), algo surreal e aberto a interpretações. Outras, nem tanto, como a parte de Roberto Benigni (Oscar por A Vida É Bela, 1997 – ao lado), uma crítica aos famosos que devem sua fama ao fato de serem famosos, como os ex-BBBs que vemos há algum tempo. É válido, apesar de um pouco datado – ainda mais para um diretor que entrega um filme novo todo ano e já poderia ter focado isso antes. Sem pé nem cabeça pelo exagero que é mostrada e um tanto didática, a trama fica bem perdida no longa.
Fama é um assunto tratado no trecho que cabe a Benigni e em outro com o personagem de Allen, um ex-produtor musical que vai a Roma conhecer a família do futuro genro e descobre no pai do rapaz um grande cantor lírico – o agente funerário interpretado pelo cantor Fabio Armiliato. Participam Alison Pill (de Meia-Noite), Judy Davis (em sua quinta colaboração com o cineasta) e Flavio Parenti (Um Sonho de Amor, de 2009).
Em outro lugar simpático da Cidade Eterna, conhecemos Jack (Eisenberg), um estudante de arquitetura que se vê praticamente empurrado pela namorada (Greta Gerwig, de Sexo Sem Compromisso, 2011) para a amiga vivida por Ellen Page (de A Origem, 2011). Assim como Michael Sheen em Meia-Noite, a garota funciona como uma crítica a intelectuais malas, mas desta vez aos falsos, aqueles que sabem um mínimo de tudo só para poderem dar palpites pretensiosos. E Alec Baldwin aparece como John, a consciência de Jack, ou poderia ser o próprio, anos depois, revisitando sua vida (ambos aparecem abaixo).
Há ainda o segmento sobre o jovem casal italiano que se muda para a capital para que o marido possa trabalhar com os familiares importantes. Alessandra Mastronardi (uma cover de Juliana Paes mais bonita e competente) e Alessandro Tiberi vivem os dois supostos ingênuos que se perdem um do outro e cada um vive o seu dia inusitado. Destaque para a participação exuberante de Penélope Cruz (Oscar por Vicky Cristina Barcelona), linda e vulgar como uma esperta prostituta.
Parece que Allen volta aos Estados Unidos em seu próximo projeto, mas não a Nova York. Os detalhes, como sempre, são mantidos em segredo, mas sabe-se que a cidade será São Francisco (mesma de Um Assaltante Bem Trapalhão, de 1969) e os primeiros atores contratados já foram anunciados. Será mais uma parceria com Baldwin, além de outros nomes novos à filmografia do diretor. Em Para Roma Com Amor, entre altos e baixos, Allen constrói um filme simpático e cumpre bem sua nova função de agente turístico. O público vai sair da sessão planejando uma visita à cidade, buscando conhecer todos aqueles pontos maravilhosos mostrados. A cidade não era realmente necessária à história, mas serve como um atrativo a mais.
Ei, Marcelo! Sempre leio seu blog – apesar de nunca ter deixado um comentário antes.
Conheci O Pipoqueiro há anos atrás e, desde então, tem se tornado referência.
Parabéns pelo trabalho!
A propósito, assisti Para Roma com Amor e morri de tanto rir.
Realmente, a cidade, no caso, não importava mesmo. Dizem que o próximo filme dele será no Brasil, rs.
Um abraço,
Marina Fráguas
Obrigado por acompanhar O Pipoqueiro, Marina!
Vamos ver se o Woody se anima e vem para cá.
Abraço!