por Marcelo Seabra
Tom Cruise finalmente conseguiu o queria. Com Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (Mission: Impossible – Ghost Protocol, 2011), ele produziu o filme americano de ação do ano e estrelou a melhor aventura de seu Ethan Hunt, demonstrando maturidade e, por que não, ótima forma física. Sua carreira estava precisando de um sucesso, e as bilheterias têm sido generosas, vencendo garotas tatuadas, detetives meticulosos e até Spielberg. Já são mais de US$ 240 milhões pelo mundo.
Depois de começar bem com Brian De Palma (em 1996), dando ênfase no suspense e no clima de espionagem e traições, a série deu uma grande escorregada com a execrada continuação comandada por John Woo (em 2000). Em 2006, com a contratação de J.J. Abrams, Cruise deu novo fôlego à franquia, com um episódio eficiente e uma boa dose de emoção, misturando as vidas profissional e pessoal do personagem e criando um vilão interessante e sádico. Mesmo que o final não tenha sido muito satisfatório, o resultado foi positivo.
Agora, encontramos Hunt preso na Rússia, e leva tempo até descobrirmos o que de fato aconteceu para mandá-lo para lá. No meio tempo, reencontramos o especialista em eletrônica Benji Dunn, que permite que o inglês Simon Pegg (de Todo Mundo Quase Morto, de 2004) roube a cena de tempos em tempos. Reforça o time a agente Jane Carter, vivida pela bela Paula Patton (de Déjà Vu, 2006), que consegue ser feminina e quebrar o pau com a mesma credibilidade. Completa o quarteto o analista de inteligência de Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro de Thor, de 2011). E todos ganham tempo de tela, dividindo bem a atenção do público com Cruise.
Logo de cara, o Kremlin é atacado, os americanos são acusados do atentado e o presidente desativa a agência IMF. O tal Protocolo Fantasma significa que os agentes que seguirem na missão não terão qualquer tipo de apoio, o que dificultaria enormemente as coisas. Os quatro devem, então, descobrir quem explodiu a bomba e alcançá-lo antes que os Estados Unidos sejam também atacados, simulando o que seria a resposta russa e causando uma guerra nuclear.
Aí, mora o primeiro problema do filme: o vilão (Michael Nyqvist, da trilogia Millennium original) é fraco, suas motivações permanecem sem sentido. O segundo problema é o fato de que estar por conta própria não chega a causar dificuldades para o grupo, que sempre aparece bem vestido, com diversos recursos e até um carro espetacular. E o terceiro é o destino do vilão, que lembra a decepção do filme de J.J. Abrams (que ainda é um dos produtores). Por incrível que pareça, esses três pontos não tiram o mérito da produção, que consegue ser a mais divertida e engraçada das quatro.
As tiradas espirituosas se concentram em Benji, que inclusive consegue ir para campo (ao lado), mas a graça sobra até para o William Brandt de Renner. Os personagens parecem ter emoções, o que facilita a identificação com o público. É fácil notar, olhando em volta, todos aflitos, torcendo pelos mocinhos. E ainda temos boas participações especiais, tanto de gente nova (como Josh “Lost” Holloway e Anil Kapoor, de Quem Quer Ser um Milionário?, 2008) quanto de velhos conhecidos. Só é irritante que, mesmo tendo um roteiro bem simples, ainda tinha gente no cinema que precisava explicar para o colega o que estava acontecendo. Narradores, tinha aos montes.
Além de Cruise, da equipe e dos personagens carismáticos, um mérito de Protocolo Fantasma parece ser o maior e atende por Brad Bird (ao lado). O duplamente oscarizado diretor das animações Os Incríveis (2004) e Ratatouille (2007), além do ótimo O Gigante de Ferro (1999), faz aqui sua estreia em um longa com live action. Sua especialidade já era trabalhar com bons personagens e cenas de ação convincentes e compreensíveis – ao contrário de gente como Tony Scott, que geralmente entrega uma edição bem confusa. Bird criou storyboards detalhados, o que facilita o trabalho do time, e ainda contou com a disposição de Cruise, que alega ter feito as cenas mais perigosas sem dublês. Inclusive a tão comentada cena do lado de fora do prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai.
Com profissionais competentes e comprometidos, o quarto Missão: Impossível – que dispensa o número tal qual uma jovem senhora que não revela a idade – , consegue superar suas deficiências e valer o preço do ingresso. Nos cinemas que dispõem de IMAX, a experiência é potencializada, mas não é o nosso caso. Algumas salas daqui oferecem versões em 3D, mas preferi ficar com o mais convencional. E mal vi passarem os 130 minutos de projeção.