por Marcelo Seabra
Depois de trazer ar fresco para um tema nada original com The Walking Dead, o canal AMC novamente mostra a que veio com The Killing. Responsável pelos sucessos Mad Men e Breaking Bad, o canal decidiu adaptar para a língua inglesa uma série policial dinamarquesa de grande sucesso na Europa, parte do atual fenômeno conhecido como “noir nórdico”.
Em The Killing, acompanhamos a detetive Sarah Linden (Mireille Enos, coadjuvante de várias séries, como Amor Imenso) investigando o assassinato de uma colegial. Como ela está de mudança da sua nublada Seattle para a ensolarada Califórnia, já há um detetive encarregado de assumir o caso, Stephen Holder (Joel Kinnaman, sueco a ser visto na refilmagem de Os Homens que Não Amavam as Mulheres). Os dois acabam se unindo, mesmo muito diferentes, para solucionar o crime.
Um outro ponto de vista importante é o da família vitimada pela tragédia. Brent Sexton e Michelle Forbes vivem os pais devastados que precisam encontrar forças para criar os filhos mais novos quando a filha adolescente é assassinada. O terceiro elemento da fórmula é o vereador Darren Richmond (Bill Campbell, o eterno Rocketeer, de 1991), que encara uma eleição para prefeito e se vê envolvido no imbróglio.
Potencializando o clima desolador da original, o AMC conseguiu fazer sua série mais deprimente, e ainda assim, viciante. A investigação segue lentamente, assim como a adaptação da família à sua nova realidade. A protagonista Mireille passa o dia com a mesma cara, como quem já está brutalizada pela rotina policial, só mostrando traços de alegria em seu núcleo familiar. Já Sexton e Michelle (abaixo) são tomados pela tristeza e revolta, emocionando volta e meia em cenas comoventes.
Assim como Wallander, série sueca de ótima qualidade, The Killing traz personagens introspectivos que se envolvem com habitantes da cidade que acabam revelando segredos sórdidos. A trilogia Millennium, do sueco Stieg Larsson, segue pelo mesmo caminho, sendo estes alguns dos exemplos do tal “noir nórdico”. Apesar dessas características tipicamente nórdicas, a produção americana lembra bastante a clássica Twin Peaks, de David Lynch e Mark Frost, de 1990. Afinal, ambas são marcadas pela investigação do assassinato de uma estudante adolescente em uma cidade de Washington e pelo reflexo do fato nas vidas dos locais.
Com a exibição dos dois primeiros episódios nos Estados Unidos no início de abril, The Killing obteve boas críticas, apesar de alguns terem alertado que o melhor da série é do quarto episódio em diante, conclamando os espectadores a insistirem. É muito animador saber que fica melhor do que está, e só me resta acompanhar. Não há ainda previsão de estreia no Brasil.
Em uma época em que seriados policiais trazem tramas complicadas de assassinato que são resolvidas em menos de quarenta minutos de episódio, este The Killing mostra que a tentativa de uma transposição de uma investigação policial pode ser algo brutal tanto para a família quanto para a polícia, além de suspeitos envolvidos com o crime. Há bons personagens e a trama segue seu ritmo na opção de apresentar as pistas e os suspeitos a cada vez. O que diferencia um pouco das demais séries policiais é que cada episódio toma um dia de investigação, enquanto se aprofundam nos antecedentes familiares da vítima e sua família quanto na personalidade obcecada de seus investigadores. É uma pena que tenha sido cancelada, mas boas histórias valem por si mesmas, sem ter a necessidade de se extenderem até um final amargo e sem perspectivas.