“Boa tarde, Dr. Douglas. Vejo seu blog todos os dias. Gosto muito das respostas dadas aos leitores. Estou escrevendo, novamente, com um outro assunto. Sou pedagoga , assistente social, professora e psicopedagoga. Trabalho há 05 anos em uma faculdade. Gosto de trabalhar nesta instituição, porém, não trabalho nas áreas em que me formei. Enquanto não arrumo trabalho na área, estou trabalhando em outras atividades. No setor que trabalho, somos somente eu e minha chefe. Sofro bullying por parte dela, diariamente. Tudo que me manda fazer, faço da melhor maneira possível e ela não fica satisfeita com nada. Vive jogando na minha cara que me mudaram de setor porque fiz algo grave e já me deu 02 advertências. Quando algum setor me chama para conversar, ela quer saber o que queriam comigo na reunião. Quando vou sair da sala, tenho que dar satisfação de onde vou. Se demoro mais que 10 minutos, ela quer saber o porquê da demora. Tenho problema urinário; por isso, preciso ir constante ao banheiro. Trabalho como PCD nesta empresa. Já conversei com a psicóloga do RH sobre o que vem acontecendo comigo. Ela disse que iria ver a possibilidade de mudar de setor, mas, até agora, nada aconteceu. Fiquei sabendo que uma funcionária de outro setor havia sito desligada. Demonstrei interesse em ir pra lá. Minha chefe brigou comigo e disse que eu deveria tê-la comunicado antes. Tenho medo do que pode acontecer. Conversei com ela para eu pudesse pagar algumas horas que estava devendo, fora do horário, e ela não autorizou. Pede para fazer hora extra somente no dia que quer, e às vezes, tenho que desmarcar um compromisso só porque ela assim o deseja. Volto do serviço passando mal, com dor de cabeça e chorando. Outro dia, sequer consegui almoçar. Minha chefe não aceita diálogo e sempre acha que tem razão. Não estou feliz. Estou com medo de ser mandada embora, porque, onde trabalho, funcionários são demitidos todos os dias. O que devo fazer? Por favor, me ajude”!
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Reposta:
Querida leitora, muito obrigado pelos elogios. São eles que me dizem estar no caminho certo, aqui no blog. Existem dois pontos na sua história que, infelizmente, se repetem com muita constância em nosso país. O primeiro deles diz respeito a você não trabalhar nas áreas em que se formou. Pelo visto, você tem uma excelente formação, com duas graduações e uma pós-graduação. Realmente, isso não é pra qualquer um. Por outro lado, ainda não conseguiu exercer as profissões nas quais se formou. É triste ver isso mas, é uma dura realidade. Sobretudo em uma época de crise econômica, assistimos a este tipo de situação com receio e pesar. Outro dia, vi uma reportagem no UOL, falando sobre pessoas com formação superior como Direito e Administração, trabalhando em áreas como auxiliar de serviços gerais e outras funções semelhantes. Claro que trabalhar nessas atividades é algo digno, como qualquer outra profissão. Entretanto, não podemos ser hipócritas, dizendo que alguém forma-se como advogado para exercer funções de gari ou porteiro, por exemplo. Isso trás desânimo e frustração, sem dúvida alguma.
O segundo aspecto da sua história refere-se ao bullying que diz estar sofrendo por parte da sua chefe. Foi mencionado, também, o recebimento de duas advertências. Não tenho como avaliar se elas foram fundamentadas ou não. Apenas você, fazendo um honesto exame de consciência, pode chegar à conclusão de se foram justas ou não. Com relação ao restante do que falou, a situação fica realmente difícil de sustentar: uma chefe intolerante, sempre insatisfeita com sua produtividade e que procura vigiar seus passos o tempo todo. Ainda mais, sendo apenas vocês duas no setor. Diante do cenário que relatou, ao meu ver, medidas corretas foram adotadas. Ter procurado o RH e falado o que vem acontecendo foi uma boa ideia. Também foi inteligente começar a sondar a viabilidade de mudar de setor. Sua chefe, obviamente ficou furiosa, porque ela parece ser o tipo de pessoa que quer estar no controle de tudo e de todos, como se fosse uma ditadora. É muito ruim conviver tão de perto com pessoas que têm este temperamento. Portanto, as duas medidas que tomou, estão dentro do esperado, uma vez que esta situação está, inclusive, te adoecendo.
Choro frequente, dor de cabeça, exaustão e outras coisas. O que você relatou é muito sério. Ao longo dos anos, venho percebendo o quanto uma realidade laboral penosa pode adoecer o ser humano física e mentalmente. Quando nossa personalidade não combina com a atividade que desenvolvemos e/ou com a personalidade de colegas e chefes, o risco de adoecimento é grande. Seu corpo e sua mente estão dando os primeiros sinais e é bom ficar atenta. Você já chegou até mesmo a deixar de almoçar. Continuando neste tipo de rotina, a possibilidade de agravamento do estado de saúde é real. Em minha experiência clínica, vejo que, pessoas que trabalham sob este tipo de pressão, são candidatos a terem Depressão, Estresse, Pânico e quadros psicossomáticos, entre outros. Infelizmente, nem sempre esse tipo de assédio é passível de ser comprovado. O que fica, em grande parte das vezes, é a palavra de um contra a do outro.
Dicas pra você: tudo indica que o problema que sua chefe tem para com você é de ordem pessoal. Esse tipo de conduta, demonstra falta de profissionalismo por parte dela. Ela não é obrigada a gostar de você. Se isso for verdade, ela poderia te transferir ou, até mesmo, demitir. Acontece que ela não faz nem um, nem outro. Prefere ficar te espezinhando, diariamente. Este tipo de conduta me permite até pensar na possibilidade dela sentir algum prazer nisso. Penso que você deva continuar lutando em duas frentes. A primeira, seria a de continuar tentando mudar de departamento, seja por meio do RH, ou fazendo contato com profissionais dos outros setores. A segunda, e que eu considero como mais importante, seria fazer de tudo para conseguir trabalhar na área. Envio de currículos, sites de contratação, jornais etc. Ou seja, faça de tudo para trabalhar no que se formou. Pelo que disse, esse é seu grande desejo. Portanto, corra atrás dele. Lute com todas as forças para sair deste quadro o quanto antes e pense que isso tudo é provisório. No entanto, pra sê-lo, é preciso força, persistência e estratégia. Não entre neste jogo perverso da sua chefe e pense diariamente que isso é provisório e faça por onde. Agindo assim, mais cedo, mais tarde, uma boa oportunidade aparece e você fica livre desta perseguição. Boa sorte!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
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