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Psicólogo graduado pela Universidade FUMEC, Pós-graduado em Psicologia Médica pelo departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Mestre em Educação, Cultura e Sociedade pela UEMG, tendo desenvolvido dissertação na área de Violência Contra a Mulher.

Pergunta de leitor – Fui demitido, estou desesperado e quero sumir

 

desempregado“Olá, Dr. Douglas. Estou escrevendo este e-mail porque estou desesperado e não sei mais o que fazer. Sou casado há dez anos e tenho uma filha de seis. Minha esposa trabalha como cabeleireira em um salão que não é dela. Eu sou professor de inglês e fui demitido de uma grande escola de línguas daqui de BH. Essa escola é muita famosa e sempre teve centenas de alunos. Agora, com a crise, perdeu praticamente metade e mandou muitos professores embora. Minha filha fazia balé, natação e aulas de música.  Com minha demissão, que já tem sete meses, tive de tirá-la de todas as atividades porque, sem renda, apenas minha esposa está sustentando a casa. O máximo que conseguimos foi mantê-la na escolinha particular. Estou me sentindo humilhado enquanto homem, derrotado e muito pra baixo. Ser sustentando pela mulher é o fim… Tem dias que não saio da cama, tamanha a minha falta de esperança. Não consigo encontrar emprego em lugar nenhum, por mais que procure. Não durmo direito, tenho ficado agressivo com as pessoas ao meu redor e sinto que vou “explodir a qualquer momento”. Cheguei a escrever uma carta pra minha esposa, dizendo que iria sumir no mundo, mas não tive coragem de entregá-la. Por favor, me dê uma luz. Estou desnorteado”.

Envie sua dúvida para perguntaUAI@gmail.com  Não identificamos os autores das perguntas

 

Resposta:

Querido leitor, quando um país está vivendo uma crise econômica, relatos como o seu tornam-se muito frequentes. O último registro que tenho, deste tipo de desabafo, foi durante o governo Collor. Muitos empresários e funcionários chegaram, inclusive, a tirar suas próprias vidas. A perda do posto de trabalho, sobretudo quando se demora muito para conseguir uma recolocação, coloca em xeque a nossa estabilidade psicológica porque, além começarmos a não dar conta de honrar determinados compromissos, é comum também, questionarmos nossa capacidade e qualidade enquanto profissionais.

Por isso, num país tão inconstante economicamente quanto o nosso, é preciso sempre tentarmos manter uma reserva financeira, para uma fase como essa. É como se precisássemos deixar algum dinheiro guardado no banco, sem mexer nele, para eventualidades como a crise atual. Na minha opinião, precisamos desenvolver uma organização financeira pra termos guardado, pelo menos, o valor que corresponda a um ano de despesa. Com alguma reserva em dinheiro, não se entra em colapso mental imediato, após a perda de um posto de trabalho.

Não sei se esse foi o seu caso. Mas, fato é que você está assistindo sua esposa pagar as contas de casa, além de ter de retirar sua filha das atividades que ela tanto gosta. Foi mencionado também, o fato de você estar se sentindo derrotado e humilhado enquanto homem, por estar nesta condição. Por favor, não entre nessa. O Brasil ainda é um país muito machista e conservador, ao ponto do homem se sentir inferiorizado se ganhar menos que a esposa ou se estiver numa situação como a que você está vivenciando. Lembre-se que poderia ser o inverso e você ter de sustentar a casa por um período. Isso não diminuiria sua esposa em absolutamente nada. Afinal de contas, uma das atribuições de um casamento é a ajuda mútua, certo?

 

Dicas pra você: escrever uma carta e sumir no mundo não me parece uma boa ideia. Você iria abandonar sua esposa e filha, deixando-as com mais dificuldades ainda. Você já pensou no mal que isso faria a elas? Além disso, será que você iria suportar esse tipo de culpa? Possivelmente, não. Agora é hora de começar a repensar as estratégias, querido leitor. Isso será muito importante pra você porque, continuar como está, irá te levar rapidamente ao caminho do adoecimento físico e mental. Você mesmo já constatou que está agressivo e com dificuldades de dormir, isso, sem falar nos dias em que não quer sair da cama. Alimentando isso, o risco de desenvolver um quadro depressivo e/ou ansioso é grande. Muitas pessoas estão ficando assim, devido à situação econômica que estamos vivenciando. Não se transforme numa delas.

Quando mencionei sobre repensar as estratégias, me referi ao modo como você está enxergando sua profissão. Você já parou pra pensar o quão importante ela é nos dias atuais? Ter fluência em inglês, já há alguns anos, tornou-se condição fundamental para que se tenha sucesso profissional, sobretudo nas grandes empresas. Você está batendo em uma tecla única, que é a procura por um emprego. Você já pensou em dar aulas particulares de inglês? E mais: já pensou em lecionar a um custo mais acessível? Sabemos também que muita gente da classe média foi atingida em cheio por essa crise. Vide o número de alunos que saiu da escola na qual você trabalhava, por motivos financeiros. Um valor mais razoável de preço seria algo muito atrativo, ao meu ver.

Seria quase como se você estivesse começando um pequeno negócio e, porque não, poderia até a se transformar em uma escola sua, no futuro. Afinal de contas, não ficaremos em crise econômica a vida toda. Pra divulgar essa atividade, assim como os valores atraentes, você poderia usar ferramentas de custo zero, como as redes sociais e, até mesmo, a confecção de um site. Existem muitos pra montar gratuitamente. Basta dar uma pesquisada. Além disso, você poderia até pensar em dar aulas à distância usando programas como o Skype e, também, oferecer pra se deslocar e ir até o aluno. Isso traria mais comodidade a ele e seria um outro diferencial. Portanto, há muita coisa a se fazer com a sua profissão, percebe?

As sugestões estão dadas. Agora, vamos colocar a mão na massa e começar a pensar e agir diferente. Não alimente a desesperança porque ela é um veneno que nos paralisa e adoece. Há muito o que ser feito e, tenho certeza de que, momentos de crise, podem aguçar nossa criatividade e nosso espírito de luta. Já vi mitos casos em que pessoas, diante de situações como a que o país está passando, ficaram até melhores após a turbulência. Este pode ser o seu caso. Mas, para que realmente o seja, é importante que você inaugure o dia da virada. Que tal o dia de hoje? Que 11/09/2016 seja o dia da inauguração de sua virada profissional. Eu te proponho isso. Você topa? Espero que sim! Boa sorte, rasgue e jogue no lixo a carta que mencionou e mãos à obra!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

www.douglasamorim.com.br

Instagram: @douglasamorimpsicologo

One thought to “Pergunta de leitor – Fui demitido, estou desesperado e quero sumir”

  1. Douglas, sempre perfeito! Caro colega eu mesma sou secretária e não encontro 1 professor que venha me dar aula aqui na empresa no horário que eu possa. Posso te dar uma dica? Vá nas faculdades onde tenha curso de secretariado executivo e deixe seu cartão de visita e uns panfletos…. falando sobre aulas voltadas para o meu publico…. vc vai ver se num instante vc nao começa a agitar essa sua vida profissional! Aliás, eu é q sinto nao ser professora de i ngles hoje em dia…. pq se eu fosse, elaboraria cursos exclusivos para cada área… ingles voltado para secretárias… ingles voltado para recepcionistas, ingles para idosos que querem viajar para o exterior, e venderia meus cursos para as pessoas fisicas e tbm empresas. É uma ótima ideia e tenho certeza que vende! Claro, é de suma importancia cuidar da aparencia e apresentação. Então… nao fique aí pensando em trabalhar pros outros… vc é a sua empresa… se tiver dificuldades… vá ao SEBRAE… quem sabe daqui a pouco vc nao estará montando a sua empresa? Um abraço e boa sorte!!!!

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