“Olá, Dr. Douglas Amorim. Sou formada em Direito e estudo há 07 anos para concursos públicos. Já cheguei perto 06 vezes em concursos de juiz e promotor, obtendo êxito nas primeiras fases, mas, fui reprovada nas últimas. Hoje em dia, fico longe de passar da primeira etapa e me questiono até quando vale a pena tentar. Estudar para concursos exige abdicação de muita coisa. Tenho 33 anos e me dedico exclusivamente aos estudos. É claro que já tentei concursos menores, entretanto, o foco é tão diferente, que minha colocação em provas de ensino médio, chega a ser pior do que em provas de juiz e promotor. Tenho medo de investir e não conseguir. Também não gostaria de desistir, considerando tudo que já estudei e conquistei. Sinto-me mal por não estar empregada e sentir que a vida não está evoluindo. Muitas vezes meus planos de vida ficam condicionados a uma aprovação, seja em razão da escassez de tempo, seja em razão da precária condição financeira. Já tentei advogar, mas não sinto a menor vocação. Gostaria da sua opinião”.
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Resposta:
Querida leitora, casos como o seu são cada vez mais frequentes e aparecem constantemente em meu consultório. De uns anos pra cá, milhares de pessoas resolveram investir tempo e dinheiro, almejando um emprego público. O discurso, via de regra, passa por estabilidade financeira e confortos como férias, décimo terceiro e, fundamentalmente, não correr o risco de ficar desempregado. A princípio, tudo isso é muito tentador, porém, milhões de brasileiros têm a mesma ideia todos os anos. A consequência, por obviedade, é que o “funil fica cada vez mais estreito”, porque não existe número de vagas suficiente para todos. A coisa está num nível tão absurdo, que já cheguei a atender pacientes que acertaram todas as questões – isso mesmo, eu disse todas, 100% das questões num concurso – e ficaram empatados com outros candidatos que tiveram o mesmo desempenho. As vagas foram definidas por critérios de desempate mencionados no edital como idade, ter sido mesário em eleições, entre outros.
Já atendi pessoas que se formaram aos 23 anos e que estavam tentando uma vaga no serviço público há 12 anos. Este cenário exaure qualquer um, do ponto de vista físico e psicológico. Frequentemente, esses pacientes estão tristes e, até mesmo revoltados, porque estão vendo seus amigos casarem, viajarem, comprarem seus apartamentos, terem filhos e trocarem de carros, entre outras coisas e, suas vidas, permanecem estacionadas. Ressalto que alguns desses amigos podem sim, serem concursados, mas, outros não. São profissionais liberais, micro/pequeno/médios empresários, ou mesmo, funcionários que trabalham na iniciativa privada, em empregos diversos. Quando passamos dos 30 anos, usualmente começamos a nos questionar sobre o que conseguimos construir na vida, até o presente momento. Se nada, ou pouca coisa foi feita, os sentimentos de culpa e frustração são muito comuns. Se o quadro permanece o mesmo até os 40 anos, a tendência é o agravamento desses sentimentos.
Os concursos de magistratura e ministério público, geralmente, são compostos por três etapas. Na primeira fase, o candidato responde questões fechadas. A segunda, contempla questões abertas e, a etapa derradeira, é a avaliação oral. Pelo que disse, conseguiu passar na primeira etapa e foi reprovada nas posteriores. A partir daí, tudo indica que seu lado emocional começou a te prejudicar. Você está longe de passar na primeira etapa e já tentou migrar para outros concursos, que não tem nenhuma ligação com os temas que vem estudando. Logicamente, seu resultado não poderia ser diferente do que mencionou. Diante deste cenário, a angústia aumenta diariamente e as dúvidas sobre qual caminho seguir, começam a tomar um tempo significativo. Como os planos de vida ficam condicionados a uma aprovação, como você mesma disse, tudo fica muito frustrante porque você não consegue fazer o que deseja. Ficar vivendo assim durante certo tempo é suportável. No entanto, como foi mencionado, já são 07 anos. A não realização dos nossos desejos vai fazendo com que tudo fique mais difícil e angustiante.
Dicas pra você: não existe receita pronta para cada pessoa que me apresenta este tipo de demanda. Portanto, não tenho como dizer, a partir de um e-mail, o que você deva fazer, de forma definitiva. No entanto, te convido a fazer cinco reflexões comigo:
01 – Como você disse que já tentou advogar e que não tem a menor vocação, creio que, insistir nisso, possa ser prejudicial.
02 – Você já teve um bom desempenho nas primeiras etapas dos concursos de magistratura e promotoria. Depois, em virtude de questões emocionais, no meu humilde modo de entender, seu rendimento caiu e está ficando longe de passar da primeira fase. O nível destes dois concursos é altíssimo e, insistir neles, por agora, parece-me não ser uma boa ideia.
03 – Você está ficando chateada com o tempo que já passou e com seus insucessos. Tanta abdicação, aliada à falta de dinheiro para realizar o que deseja, vem minado suas forças.
04 – Creio que deva considerar fortemente a possibilidade de tentar outros concursos, mais simples, dentro do Direito mesmo (por exemplo, TJ), que tenham um nível de exigência, teoricamente menor. Isso implica, deixar a preparação para a magistratura e promotoria, provisoriamente de lado, para se dedicar intensamente a esses concursos que mencionei. Você estaria dentro da área na qual se formou, percebe?
05 – Uma vez que você passe num concurso como esse, mesmo que a remuneração não seja tão alta quanto a dos que vem tentando, sua autoestima irá aumentar, você terá dinheiro no bolso e poderá realizar alguns dos seus desejos. Isso irá lhe favorecer psicologicamente e proporcionará um novo ânimo, para estudar para os concursos mais complexos, num segundo momento.
Como disse, não existe receita de bolo. O que tentei proporcionar, nesse post, foram reflexões para tentar ajudá-la em sua jornada. Pense nisso e faça sua escolha com serenidade. Boa sorte!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
Consultório: (31)3234-3244
www.douglasamorim.com.br
Instagram:@douglasamorimpsicologo
Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim
concordo plenamente com o Fernando e foi o que eu tentei dizer no meu comentário anterior. O interesse é ‘o cargo’ com segurança vitalícia e não que a pessoa tenha capacidade de oferecer algo útil para a sociedade…que estude mais para ser competente ou continue sendo reprovada pois se tem ‘inseguranças’ como poderia ser promotor ou juiz?
Existem 3 categorias ‘sociais’ no Brasil: 1- pobre quer bolsa família; 2- rico quer empréstimo do bndes; 3- classe média quer passar em concurso(s)…todos querem ‘benefícios’, por isto a insistência da classe média por concursos onde se almeja ’emprego vitalício’ ou ‘carreira’ sem exigência de dedicação!
A leitora que me desculpe, e eu nem sabia que isso é possível, mas como alguém quer ser Promotor e /ou Juiz sem ter vocação para advogar? Cargos tão importantes que exigem tomadas de decisões delicadas que afetam diretamente a vida de muitas pessoas, ao meu ver, exige não só conhecimento teórico, mas experiência profissional. Não existe concurso público para Coronel da PM por exemplo. A pessoa começa de baixo como soldado e vai galgando os degraus conforme experiência e merecimento. Ela deve estar sendo reprovada nas fases posteriores à primeira prova, justamente por não ter esta experiência. Percebo aí o puro interesse financeiro do cargo e não o que ela realmente poderia oferecer para a sociedade como juíza ou promotora. Que continue sendo reprovada. Já estamos cheios de péssimos profissionais dessas áreas.
O que venho percebendo é que no Brasil o “bom emprego” parece ser um dos únicos objetivos a serem atingidos profissionalmente. Pensando objetivamente, o emprego é trabalhar para um ou mais, empresários que empreenderam e lutam para ter sucesso. Ou seja, quem tem por objetivo um emprego, ou não tem capital, ou não tem boas idéias ou habilidades, ou não quer se arriscar. Será que não é o jeitinho brasileiro se manifestando ? Temos consultorias excelentes e sem nehum custo inicial como o SEBRAE que podem
ajudar em muito, temos apoio também para as start-ups que surgem de boas idéias. Mãos à obra amiga, alternativas não faltam e nem mesmo a falta de capital é desculpa para o destrutivo “eu não consigo”.