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Psicólogo graduado pela Universidade FUMEC, Pós-graduado em Psicologia Médica pelo departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Mestre em Educação, Cultura e Sociedade pela UEMG, tendo desenvolvido dissertação na área de Violência Contra a Mulher.

Meu marido é absurdamente machista. Quero me separar.

boca-tapada

“Olá, Dr. Douglas. Meu marido e eu nos casamos muito novos; eu com 19 e ele com 21. Tudo foi tão rápido que acabei engravidando. Hoje, nosso filho está perto de completar 08 anos e nós dois brigamos muito. Sei que tenho minha parcela mas, ele é muito radical. Não posso me relacionar com amigas solteiras, não posso sair sozinha ou, até mesmo, ver filmes onde existam cenas de adultérios. Confesso que gostaria de sair dessa situação, mas, não tenho mãe e nem pai. Não tenho ninguém que possa me ajudar para que eu possa recomeçar.  Ele coloca meu filho contra mim, dizendo que eu quero abandoná-lo. Sempre me diz que se eu for embora não terei o direito de levá- lo comigo. Fala que se eu quiser ir, posso, mas ele irá sumir e não irá manter contato com nosso filho.  Eles são muito apegados e isso me desespera. Existe também, a relação com a família dele, cujas irmãs são falsas comigo, sempre fazendo questão de dizer o quanto ele gosta disso ou daquilo. Falam sempre  nas entrelinhas para ele não perceber, enviando mensagens de que eu não sou uma boa mãe ou esposa. Ele me obriga a conviver com eles e, todos os fins de semana, temos que visitá-los. Isso é torturante pra mim. Minhas escolhas pra ele são sempre as piores. Não tenho o poder de decidir nada e qualquer coisa que aconteça, ele me culpa. Certa vez, o seu carro quebrou e ele ligou pra me xingar. Sinto-me oprimida e deprimida. Não sei o que fazer. Sinto tanto medo pelo meu filho. Tenho formação acadêmica e ele sempre diz que eu sou burra. Tenho um vocabulário mais educado e faço uso do português correto. Até disso ele reclama. Diz que eu argumento com determinadas palavras porque sou manipuladora. Ele é um excelente provedor. Nunca nos deixou faltar nada mas, acredita que eu devo sempre me calar pra tudo e aceitar. Ando muito estressada e triste com tudo o que vem acontecendo e me paralisei de tal forma, que nem tenho mais coragem ou ânimo para buscar uma vaga no mercado de trabalho. Fico com medo de falar bobagens nas entrevistas. Perdi a confiança em mim. Gostaria de um conselho para  sair disso. Existem, ainda, muitas outras questões dentro desta… Obrigada”.

Envie sua dúvida para perguntaUAI@gmail.com  Não identificamos os autores das perguntas

Resposta:

Querida leitora, realmente, para o que vemos na atualidade, vocês se casaram muito cedo. No entanto, isso não pode ser sinônimo de casamento fracassado. Vários casais decidiram viver juntos na mesma idade que vocês e a coisa deu certo. Em primeiro lugar, a partir do seu relato, percebo que não existe mais, da sua parte, nenhum desejo de tentar melhorar a relação. Pelo visto você já tentou, mas, tudo indica que não funcionou. Você colocou questões muito sérias nesta mensagem e, ainda disse ao final do seu texto, que existem muitas outras. Portanto, não vou desenvolver a resposta dentro de uma possibilidade de reconciliação, uma vez que você parece ter nítida a vontade de se separar, porém, sem saber como fazê-lo. Muito mais importante que a idade, sempre digo aos meus pacientes e leitores, que é necessário observarmos o temperamento e as características psicológicas do pretendente (ainda no namoro), antes de se tomar a decisão de casar. Isso é tão importante quanto o amor que se tem pela pessoa.

Seu marido é absurdamente machista. Parece-me ter uma mentalidade do século retrasado. Quer dizer que você não pode ter amigas solteiras, não pode sair de casa sozinha e não pode ver filmes em que ocorram adultérios. Se formos seguir essa linha, nem novela você poderá assistir mais, porque o que mais acontece, atualmente, é este tipo de situação. Além disso tudo, ele faz o papel típico do homem machista que te proporciona tudo do ponto de vista material, mas te cobra obediência. Aliás, mais do que isso. Ele te cobra subserviência. Por ser um bom provedor ele crê que você é sua serva e que tem de se calar e aceitar tudo. Parece-me o verdadeiro exemplar de homem das cavernas em pleno século XXI. Uma lástima. Pra piorar o que já estava ruim, ele tem algumas irmãs falsas que ficam te espezinhando aos finais de semana. Logicamente, por vontade de “vossa suprema autoridade”, você é obrigada a visitá-las aos domingos, tendo de dar o famoso “sorriso amarelo” durante todo o tempo. Pra mim a coisa chegou à esfera do absurdo. O carro dele estraga. Daí ele te telefona e pra te xingar? Meu Deus, mas qual seria o objetivo disso? Sinceramente, por mais que me esforce, não consigo entender. Nem falar corretamente você pode mais, porque, ao fazê-lo, é acusada de ser manipuladora. Ah, já ia me esquecendo… Ele te chama de burra também. Dá pra compreender bem o seu desejo de se separar, viu…

O fato de termos filhos com uma determinada pessoa não pode querer dizer que teremos de ficar casados com ela para sempre. Casamento não quer dizer escravização e, separação, não é sinônimo de desastre para os filhos. Existem dificuldades mas, se o processo for bem conduzido, pode ter certeza de que ele consegue se adaptar. Basta ver o número gigantesco de casais separados que têm filhos saudáveis emocionalmente. O fato de você também não ter pai ou mãe, não pode significar que você não consiga reconstruir a vida. É claro que, se eles estivessem presentes e fossem bons pais, sem dúvida alguma, seu apoio ajudaria e muito. No entanto, a ausência deles não pode ser uma espécie de condenação pra você. Ou seja, é hora de começar a pensar em reformular sua vida, com os instrumentos que tem. Hora de agir.

Dicas pra você: por falar em instrumentos, vamos aos que você tem. Em primeiro lugar, você é uma pessoa que se expressa muito bem. Seu texto é bastante claro, tem sequência lógica e é bem fácil entender sua linha de raciocínio. Isso já é uma grande ferramenta visto que, infelizmente, os erros de português estão fortemente presentes na atualidade. Estamos vendo muitas pessoas se formando em faculdades, semianalfabetas. Em segundo lugar, você em formação acadêmica, que te possibilita buscar algum trabalho na área ou, quem sabe, até tentar um concurso público de nível superior. O fato de você sentir-se insegura para fazer entrevistas é bastante compreensível. Nos últimos anos, sua autoestima ficou prejudicada porque você sempre foi colocada em uma condição inferior (e permitiu isso). Está na hora de arregaçar as mangas, parar de se vitimizar pra si mesma por não ter pai e mãe e ir à luta. Passou da hora de sair deste lugar de mulher do homem das cavernas. Comece a procurar fazer as entrevistas. Não há motivos para temer. Quando você estiver diante do entrevistador, irá perceber que tem boa capacidade de se comunicar e não falará bobagens. À medida que você for exercitando isso, a confiança volta e, mais cedo, mais tarde, você obterá sucesso. Está nas suas mãos. Eu acredito na sua volta por cima. E você?

 

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

Consultório: (31)3234-3244

www.douglasamorim.com.br

Instagram:@douglasamorimpsicologo

Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim

 

2 thoughts to “Meu marido é absurdamente machista. Quero me separar.”

  1. Fiquei sensibilizado, muito preocupado com o depoimento da leitora. O que for possível fazer para ajudá-la podemos fazer uma força-tarefa e dar maior proteção.

  2. Interessante, mas, mesmo sabendo tão pouco sobre essa leitora ela me passa a impressão de ser uma excelente pessoa. Esse fato apenas agrava mais ainda minha revolta em conhecer um pouco da brutalidade que seu marido a submete. Inconcebível uma mulher conseguir conviver com alguém com uma mentalidade dessa. Esse marido tem que ser excluído da vida dela. Existem tantas pessoas de bom caráter e educadas disponíveis. É ter coragem para recomeçar.

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