“Olá, Dr. Douglas Amorim. Tenho duas filhas e sou casada. Ambas são do meu primeiro casamento. Meu atual marido sempre foi muito ciumento, porém, não agressivo. Desde o início ele fez de tudo por mim e minhas filhas. Tanto fez, que elas o veem como um pai. Ele sempre demonstrou um amor e, ao mesmo tempo, uma insegurança muito grande por mim. Estávamos num relacionamento que, na minha visão, parecia perfeito, porque eu nunca havia me importado com o ciúme dele. Num certo dia, ele disse que iria embora. Meu mundo desmoronou, porque, pra, mim estava tudo bem. Sofremos muito com a sua ausência. Quando eu perguntava a ele porque ele tinha ido embora, a resposta era a de que não estava dando conta de lidar com o ciúme e a com insegurança que sentia e que era preferível assim. Disse que sempre me via em cenas na cabeça dele, com homens que tinham dinheiro e que eram melhores que ele. Mencionou também que, antes de fazer uma besteira, era melhor que fosse embora. Já se passaram dois meses e ele pediu pra voltar. Pelo visto, está bem melhor em relação ao ciúme e estamos indo muito bem. Doutor, o problema é que não consigo mais ter mais segurança. Sempre penso que ele pode ir embora novamente. É possível, realmente, ele ter ido embora por me amar demais e não saber como lidar com isso? Como faço pra voltar a ter segurança novamente? Por favor, me responda. Obrigada”.
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Resposta:
Querida leitora, o ciúme excessivo pode vir a se tornar um veneno para qualquer relacionamento e, dependendo do nível de adoecimento emocional que o ciumento estiver, a vida da pessoa amada pode até mesmo correr riscos. Quando assistimos na televisão, reportagens sobre crimes passionais motivados por ciúme, precisamos tomar consciência de que trata-se de realidade e não de uma peça de ficção ou filme. As pessoas batem e matam por ciúme. Pode acreditar. Todos os estudos sobre violência doméstica contra a mulher, aqui no Brasil, concluem que a justificativa do agressor para bater ou matar suas companheiras, está assentada no sentimento de ciúme, quase sempre associado ao uso de álcool ou outras drogas.
Portanto, se ele disse que, num dado momento, achou melhor se afastar a permanecer ao seu lado e fazer uma besteira, saiba que isso pode ser verdade. Significa que a parte saudável da mente dele falou mais alto do que a parte adoecida pelo ciúme e, a atitude de afastamento, foi algo para preservar a todos. Por isso, quando você pergunta se ele pode ter ido embora pelo ciúme, eu digo que sim. Agora, é preciso fazermos uma diferenciação entre ciúme e amor. Existem muitas mulheres que se alegram em saber que o namorado ou marido tem ciúme delas. Até aí tudo bem porque, considerar uma dose de ciúme dentro de um relacionamento, é algo bastante natural e, eu poderia dizer, até saudável. O problema é quando este sentimento sofre um hiperdimensionamento e o ciumento passa a controlar a vida da mulher (ou do homem), em vários aspectos, que podem ir desde a proibição de se usar certas roupas, até a restrição de sair de casa ou conversar com determinadas pessoas.
Quando começam a ocorrer cenas como estas, dificilmente podemos falar de amor. O amor é da ordem da paz, da calma, da confiança, do companheirismo, da compreensão etc. E, cá entre nós, isso não tem nada a ver com controle, ordens, proibições, restrições da liberdade, agressões físicas ou verbais, entre outras. Por isso é de suma importância diferenciar os dois sentimentos. Um dos pontos centrais do indivíduo que tem ciúme doentio é sua autoestima extremamente baixa. Em sua fantasia, a qualquer momento, a pessoa amada pode se encantar por outro, e assim, abandoná-lo. Desta forma, praticamente todos os homens (ou mulheres), são melhores que ele porque, em última análise, o ciumento tem uma visão pobre e distorcida de si mesmo. Não enxerga suas virtudes e qualidades e, por isso, não acredita que a companheira consiga percebê-las nele. De acordo com seu relato, o pensamento do seu marido é de, a qualquer momento, poder ser trocado, por algum homem que tenha mais dinheiro ou que seja melhor que ele. É quase uma escravização mental e a pessoa chega a sofrer absurdamente.
Dicas pra você: pela existência do amor entre vocês, o fato de ter dado uma nova chance para o relacionamento, é bastante compreensível. Agora, o que não dá, é viver sob o signo da ameaça de ser deixada durante todo o tempo. Por mais que você tenha este receio, é preciso entender que isso, não necessariamente acontecerá de novo. Todos nós cometemos erros e isso não significa que haverá repetição. Basta você fazer uma autoanálise. Possivelmente você já errou em algum aspecto da sua vida e, uma vez que sofreu muito, não o fez novamente, certo? O fato dele ter melhorado do ciúme é uma ótima notícia. No entanto, é bom ficar bastante atenta, porque, se novas manifestações ocorrerem, a indicação é a dele procurar fazer um trabalho de psicoterapia com um bom psicólogo. Ciúme doentio é uma crença distorcida que o ser humano constroi em sua mente e que pode ser bastante perigoso. Se isso vier a acontecer, mais coerente do que ele simplesmente se afastar de você, é procurar ajuda profissional, certo?! Boa sorte pra vocês neste recomeço!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
Consultório: (31)3234-3244
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