“Boa noite, Dr. Douglas. Tenho uma filha de 18 anos, que me pede pra ir ao psicólogo, há muito tempo. Ela é tímida e verbaliza pouco com pessoas fora da família. É muito contida e cobra de si mesma, um comportamento que eu nunca exigi. Tem, pelo lado paterno, familiares extremamente fechados. Eu diria, até “bitolados”, pois os considero também muito tímidos e com baixíssima auto-estima. Minha filha sente-se péssima com o próprio jeito. Coloco-a para cima, estimulo e penso se tudo isso pode ser hereditário. Não estou conseguindo ajudá-la. Ela é uma pessoa lindíssima, chama muito a atenção de rapazes, mas, sente dificuldade em se relacionar. Vejo dificuldades, até mesmo, em conversar por telefone. Como você pode nos auxiliar? Creio que tenha conseguido, pelo menos um pouco, explicar a situação. Aguardo um recadinho ok? Obrigada”!
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Resposta:
Querida leitora, seu relato me faz pensar em duas coisas: timidez e perfeccionismo. Frequentemente, essas palavrinhas andam de mãos dadas e, se não forem trabalhadas, podem fazer um verdadeiro estrago na vida das pessoas. A timidez, geralmente tem relação direta com o medo da reprovação do outro. Esse receio, pode se dar tanto de forma consciente, quanto inconsciente, de várias maneiras: medo de ser vista pelos outros como feia, gorda, chata, burra, estranha e mais uma pá de adjetivos. Tal temor faz com que a pessoa fique cada vez mais encastelada, restringindo seu contato a poucas pessoas. Geralmente, gente mais próxima e que, na concepção do tímido, a aprova. Não se preocupando com essa avaliação, consequentemente, fica-se mais solto e desinibido.
O perfeccionismo se apresenta como outro agente escravizador. Como você mesma disse, ela se cobra coisas que você, enquanto mãe, nunca exigiu. Portanto, o nível de auto-exigência começa a ficar cada vez mais elevado porque, se uma pessoa já se sente insegura quanto à aprovação do outro, ela terá de ser cada vez mais perfeita para ser aprovada e, consequentemente, aceita. É como se fosse uma masmorra na qual a pessoa vai se trancando aos poucos. Esse nível de cobrança pode se tornar excessivamente elevado e contribuir, até mesmo, para a eclosão de quadros de ansiedade extrema que, necessariamente, irão requerer tratamento. A perfeição não existe. Todos sabemos disso. No entanto, para o tímido-perfeccionista essa regra não existe. Ele tenta, tenta, tenta e a consequência, usualmente, é a frustração por não ter conseguido atingir tal patamar.
Uma vez não conseguindo fazê-lo, fica-se recluso, porém, insatisfeito. Esse me parece ser o caso dela, pois, quem solicita ajuda psicológica, tem plena consciência de que não está bem, não é mesmo? Quanto à questão da família paterna ser muito fechada e tímida, tenho uma observação a fazer. Nosso temperamento é fruto da combinação de dois aspectos. Um é o aspecto biológico, que carregamos em nossos genes. O outro é o fator ambiental, que nos influencia fortemente, principalmente durante o período da formação da nossa personalidade, que vai dos zero aos seis anos de idade, em média. Portanto, querida leitora, como pode observar, nossa forma de pensar e agir também tem contornos hereditários.
Dicas pra você: apesar de existir a conotação genética, é importante dizer que ela não é totalmente determinante. Por exemplo: se nós somos filhos de pais que são muito ansiosos, podemos desenvolver um trabalho psicológico de reflexão e, não necessariamente, nos tornarmos ansiosos como eles. Além de dar apoio e estimulá-la, como você já tem feito, penso ser adequado procurar um bom psicólogo para ajudá-la nessas questões. Ela está pedindo socorro e é hora de ajudá-la. Por mais que você seja mãe e tenha a melhor das boas intenções, em determinados momentos, não há como se fazer diferente: temos de procurar ajuda especializada. Ela está em uma fase super importante da vida, principalmente no tocante à parte afetiva (paqueras e namoros) e, perto de entrar na universidade (se é que já não está cursando). Chegou o momento de dar esse suporte porque, quanto mais ela permanecer assim, mais ficará prejudicada em termos afetivos, sociais e, futuramente, profissionais. Continue mantendo a rota de não exigir demais dela e de mostrar que a vida pode e deve ser mais leve. Boa sorte pra vocês duas!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
www.douglasamorim.com.br
Instagram: @douglasamorimpsicologo
Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim
Infelizmente não Dr. Douglas! Principalmente no meio religioso (evangélico) vejo muito desse preconceito nos dias de hoje! Clichês do tipo “meu psicólogo é Jesus”, “não estou doido, só estou num momento difícil” escuto muito quando menciono que a pessoa poderia procurar ajuda profissional de um psicólogo.
Além da palavra do psicólogo, é fundamental fazer exames de TSH e vitamina D. Não custa nada fazê-los, para dirimir dúvidas.
Não sei se ela está com essa birra, Fernando! Mas, uma coisa é fato: A filha está pedindo ajuda! E, essa conversa de quem vai ao psicólogo, ser doido, já “saiu de moda” há muito tempo, cá entre nós, não é?rs… Abração!
A garota deixou claro que quer ir ao psicólogo e me parece que a mãe quer evitar de levar. Será aquele preconceito enraizado de que quem vai ao psicólogo é doido? Já passou da hora de levar sua filha, ela está pedindo sua ajuda!