Conheça a carreira do talentoso Ripley no Cinema

Mantendo o suspense do lado de cá das câmeras, executivos da Netflix não dão uma posição definitiva sobre uma possível continuação de Ripley, ótima série lançada em 2024. Por mais que os envolvidos já tenham sinalizado o desejo de voltar a este universo, a gigante do streaming diz estar analisando o retorno financeiro para avaliar um sinal verde para a produção de uma segunda temporada.

Tendo estreado em abril do ano passado, a série é dividida em oito episódios e foi anunciada como uma obra fechada, finalizada ali mesmo. Desde então, no entanto, o criador, diretor e roteirista Steve Zaillian disse em entrevistas que estaria aberto a continuar a história, e o mesmo fez Andrew Scott, intérprete do protagonista. Scott só gostaria de ter um bom intervalo, já que considerou pesada a experiência de viver Tom Ripley, um personagem muito intenso, segundo o ator.

Na televisão, Scott é o primeiro a enfrentar a tarefa de dar carne e osso à criação de Patricia Highsmith (abaixo). Ripley já havia aparecido no Cinema, Teatro e rádio, mas surgiu em um livro. The Talented Mr. Ripley, publicado em 1955, chegou ao Brasil como O Talentoso Ripley e apresentou Tom Ripley, um vigarista que detesta assassinatos e só os comete se for realmente necessário. Sociopata de muita erudição e modos, Ripley aceita um pedido de um rico construtor de navios, o Sr. Greenleaf, que o toma por amigo de seu filho. A missão de Ripley é ir para a Itália atrás do jovem Dick Greenleaf, que está aproveitando a vida na costa e gastando o dinheiro do pai.

Assim começa a carreira de crimes de Tom Ripley, protagonista de um total de cinco livros, sendo o último de 1991. São eles: O Talentoso Ripley (1995), Ripley Subterrâneo (1970), O Jogo de Ripley (1974), O Garoto que Seguiu Ripley (1980) e Ripley Debaixo D’Água (1991). Highsmith escreveu um total de 22 livros, e volta e meia voltava a sua série mais famosa. Em 1960, ele foi descoberto pelo Cinema, ganhando sua primeira adaptação. Plein Soleil (Purple Noon em inglês) aqui virou O Sol por Testemunha, estrelado por um dos maiores atores franceses de todos os tempos: Alain Delon.

Confira abaixo as encarnações de Ripley no Cinema:

– O Sol por Testemunha (Plein Soleil, 1960):

René Clément, diretor bem estabelecido, comandou uma adaptação luxuosa, com alguns dos atores franceses mais requisitados da época, contando a história do primeiro livro. Highsmith comentou ter adorado Delon no papel, mas não gostou das alterações feitas principalmente no final, que ela considerou politicamente corretas e covardes. Ainda assim, é um policial de primeira qualidade.

– O Amigo Americano (Der amerikanische Freund, 1977):

Mais do que contar uma boa história e ter atuações marcantes, o longa do diretor alemão Wim Wenders cria uma atmosfera lenta, mas típica do cinema noir, envolvendo o espectador, e usa diálogos em inglês e alemão entre os diferentes personagens. Vivido por Dennis Hopper, Ripley tem uma vida tranquila em Hamburgo, participando de um rico esquema de quadros falsificados – o filme usa alguns elementos do livro anterior, Ripley Subterrâneo. Em um leilão, é apresentado a um emoldurador que o despreza por já ter ouvido coisas negativas a seu respeito. Por pura vingança, Ripley envolve o sujeito numa trama de assassinato e revira a vida dele. Highsmith disse não ter gostado do filme, mas meses depois ela o assistiu novamente e mudou radicalmente de opinião, mandando uma carta com elogios ao trabalho de Wenders.

– O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley, 1999)

Talvez a adaptação mais famosa, por ter nomes hollywoodianos que se tornaram marcantes, O Talentoso Ripley do saudoso Anthony Minghella não deixa nada a dever a seu antecessor. Contando a mesma história de O Sol Por Testemunha, o filme é mais fiel à fonte e é igualmente vistoso, passando por cenários fantásticos e investindo na tensão gerada pelas ações de Ripley. Matt Damon faz um ótimo trabalho como protagonista, aos 29 anos, mas com cara de mais novo, exatamente como o papel pede, e olhando para o Dickie de Jude Law com o brilho de um tigre que olha para sua presa. Há qualidades e pontos diferentes o suficiente para justificar que se assista às duas obras, mesmo que as tramas sejam similares.

– O Retorno do Talentoso Ripley (Ripley’s Game, 2002)

Ter John Malkovich na pele de Ripley já é razão suficiente para conferir o longa. Ele é de longe o maior chamariz desse Retorno do Talentoso Ripley, cujo título nacional claramente tenta se aproveitar do sucesso do longa de 1999. O livro de Highsmith já havia dado origem a O Amigo Americano, e aqui temos um filme bem diferente. Malkovich vai eficientemente do charmoso negociador de arte ao assassino frio e calculista, sendo provavelmente a melhor encarnação de Ripley no Cinema. A direção de Liliana Cavani é correta e discreta e dá ao longa um clima de anos 60, mesmo sendo atual.

– Ripley No Limite (Ripley Underground, 2005)

Baseado no segundo livro da série, o filme traz Barry Pepper como Ripley, uma encarnação menos inspirada, talvez porque o roteiro não ajude. Um jovem pintor em ascensão morre num acidente de carro e Ripley combina com as pessoas mais próximas de esconderem o corpo e continuarem vendendo novos quadros, falsificados por outro pintor. A trama tem muitas reviravoltas e consegue se manter minimamente interessante, mas o ritmo mais acelerado dá um ar de aventura bobinha, uma mesmice bem aquém do poderoso personagem de Highsmith. Ainda que genérico, não chega a ser ruim, é só esquecível.

Todos os intérpretes de Ripley

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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