O corte do post que aconteceu entre o sexto e o sétimo filmes não foi um acidente. Foi nesse momento, em 2006, que M. Night Shyamalan deu uma grande derrapada e iria demorar um tenebroso período para se recuperar. Foi em 2006 que o diretor lançou
7- A Dama na Água (Lady in the Water, 2006)
O primeiro filme de Shyamalan do qual não gostei, mas não ficou apenas no “não gostei”: é horroroso. O diretor convocou um bom elenco, repetindo Bryce Dallas Howard (de A Vila), e colocou Paul Giamatti à frente desse constrangimento. Giamatti é o zelador de um prédio que descobre uma criatura mitológica (Howard) vivendo na piscina e logo todos os moradores se unem para ajudá-la. Só de lembrar dessa sinopse dá vontade de jogar algo no diretor. Não a toa, o longa deu prejuízo nas bilheterias e teve quatro indicações ao “prêmio” Framboesa de Ouro, levando dois – pior diretor e pior ator coadjuvante, ambos para Shyamalan.
Outra coisa horrível cometida pelo diretor, desta vez com Mark Wahlberg à frente. Repentinamente, pessoas normais começam a cometer suicídio em massa e um professor de ciências precisa sobreviver com sua família, enquanto tenta entender o que está acontecendo. A explicação do mistério vai te deixar vermelho de raiva. O páreo de ruindade é duro com o longa anterior, o que nos deixa sem entender como Shyamalan continuou conseguindo financiamento para fazer essas coisas.
Continuando em sua busca pelo fundo do poço, Shyamalan adaptou o amado desenho Avatar: A Lenda de Aang para um filme horrendo que conseguiu desagradar a todos. Com atores ocidentais fazendo personagens orientais, o filme foi chamado de “um dos piores de todos os tempos” e matou a ideia inicial de ser o primeiro de uma trilogia.
Fica até difícil definir qual é o pior filme do diretor: esses quatro ( 7 a 10) fazem uma disputa bem justa e acirrada. Talvez numa tentativa de juntar mais “poder de celebridade” e levar mais público aos cinemas, o diretor convocou o carismático Will Smith para o papel principal. Dois problemas afetaram o longa: o papel de Smith é completamente insosso, não faria diferença ter uma porta no lugar dele; e o astro insistiu em ter o filho no outro papel importante, deixando claro que carisma não é herdado e Jaden não tem a menor chance de se tornar um sucesso de bilheteria. No entanto, apesar do fracasso de críticas, a jogada funcionou e o filme faturou um bocado – U$ 244 milhões, com um orçamento de U$ 130 milhões.
O fime já melhora, tendo em vista os últimos de Shyamalan, mas ainda não é grande coisa. Sem nexo, nos apresenta a uma mãe que perdeu o contato com os pais quando saiu de casa para casar e agora prepara os filhos para ir visitá-los em outra cidade. O casal de velhinhos é interessante, mas bem sem nexo, como tudo o mais nesse filme. Como fez o filme quase em segredo, gastando muito pouco (US$ 5 milhões), Shyamalan teve muito lucro (US$ 98,5 milhões) e recebeu críticas positivas.
James McAvoy tem 23 personalidades convivendo dentro de sua cabeça, e elas vivem disputando espaço. Com um trabalho meticuloso de criação de cada uma, McAvoy é um dos principais responsáveis pelo resultado positivo do longa. Anya Taylor-Joy é outra força em cena, travando um duelo interessante com o colega, e Shyamalan se atém às regras que cria, fazendo uma obra coerente e instigante.
Quem gosta de Corpo Fechado e de Fragmentado deve ver esse filme sem medo, já que é a conclusão da trilogia e é extremamente satisfatório. Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy são reunidos, e voltam também outros atores dos longas anteriores, além da adição da ótima Sarah Paulson. O curioso universo iniciado com Corpo Fechado é concluído num filme não muito longo (129 minutos) e nunca cansativo, e Shyamalan não deixa de seguir as premissas que criou, respeitando seus personagens e seu público.
Dividindo a crítica, Shyamalan adaptou uma graphic novel francesa com um grande elenco, encabeçado por Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell e Alex Wolff. Um grupo de turistas chega a uma praia distante e começa a observar o tempo passando mais rápido, envelhecendo a cada hora que passa. Shyamalan mostra o diretor competente que é tirando muita tensão de uma situação corriqueira como férias familiares e desenvolvendo bem personagens com pouco tempo em cena. Gostando-se ou não, é preciso reconhecer a criatividade do diretor, que expande o conceito da revista.
Shyamalan adapta um livro de 2018 que traz quatro estranhos mantendo uma família como refém, mas eles não pretendem ferir ninguém. Eles então avisam os pais e a criança que será preciso o sacrifício de um dos três para evitar o fim do mundo. Enquanto isso, catástrofes vão acontecendo no mundo. A premissa parece meio louca, mas acaba funcionando. No entanto, o longa segue morno, parecendo sempre próximo de decolar, até que acaba. Fica na coluna do meio entre os trabalhos do diretor.
Como boa parte da filmografia de Shyamalan, Armadilha parece partir de uma premissa pirada, mas felizmente acaba funcionando bem. Os trabalhos horrorosos do diretor parecem agora um pesadelo distante e ele está menos preocupado em ter viradas mirabolantes de roteiro, apenas se atendo a seguir a história de forma coerente, com personagens tomando decisões razoáveis. Dá para esperar coisa boa vindo num 17º filme.
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