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Bons atores e reviravoltas não sustentam Argylle

Depois de três filmes da franquia Kingsman e antes de seguir com outros dois já programados, Matthew Vaughn resolveu dar um tempo. Para não ir muito longe, o diretor foi para outro universo, mas ainda no mundo da espionagem: Argylle – O Superespião (Argylle, 2024) pode muito bem funcionar como o início de outra franquia. Só precisa se dar bem nas bilheterias, o que vai depender mais do elenco carismático do que do roteiro, uma colcha de retalhos de referências soltas. Ou mesmo da direção, que parece preocupada em florear sem saber onde quer chegar.

Em seus primeiros cinco filmes como diretor, Vaughn demonstrou saber exatamente o que está fazendo. De Nem Tudo É o Que Parece (Layer Cake, 2004) ao primeiro Kingsman (2014), passando por Stardust (2007), Kick-Ass (2010) e X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011), Vaughn fez longas com diversão na medida certa, evitando exageros nos momentos de humor, com drama e tensão bem equilibrados. Este Argylle é o ápice do que os outros dois Kingsman seguintes mostram: o diretor gostou muito do próprio estilo e perdeu a mão.

Bryce Dallas Howard (dos novos Jurassic Park) interpreta uma escritora de histórias de espionagem que criou o Agente Argylle (vivido pelo Superman Henry Cavill), um tipo meio James Bond que está sempre salvando o mundo. Enquanto conclui seu quinto livro, Elly é abordada por um sujeito (Sam Rockwell, de Jojo Rabbit, 2019) que se diz um espião de verdade e revela que a vida dela corre perigo. Sem saber, a escritora estaria colocando em suas histórias informações verdadeiras, o que estaria incomodando vilões perigosos.

A premissa pode parecer interessante, e o filme ainda usa bem no início a nova música dos Beatles, que é mais um ponto positivo, mas logo o roteirista Jason Fuchs (de Mulher-Maravilha, 2017) dá um jeito de bagunçar tudo. É possível ver traços de Missão: Impossível e de Jason Bourne, e até de Kingsman, e fica a sensação de que Vaughn está tentando superar a memorável sequência da igreja (com Colin Firth). Argylle se resume a isso: boa vontade e tentativas. Howard e Rockwell (acima) seguram as pontas como protagonistas e alguns coadjuvantes se destacam, como Bryan Cranston (de Breaking Bad) e Catherine O’Hara (de Máfia da Dor, 2023), apesar dos exageros demandados pelo roteiro.

A campanha de lançamento claramente exagera no destaque a Cavill e à cantora Dua Lipa, e ambos participam pouco, assim como John Cena (de Velozes e Furiosos 10, 2023). Rockwell, um ator sempre ótimo, aqui está no modo engraçadinho e passa da conta um pouco, o que lembra os filmes mais recentes da Marvel. As inúmeras reviravoltas da trama cansam e chega um momento em que o espectador apenas quer que aquilo acabe logo. Se houver um segundo filme, a mudança terá que ser drástica para atrair interesse.

O superespião de Cavill nem pisca ao salvar o mundo

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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