Duas crianças, colegas de escola, parecem gostar muito uma da outra e, por isso, as mães promovem um encontro. Quando tudo apontava que elas seriam namoradinhos infantis, uma das famílias deixa a Coréia do Sul em busca de uma vida melhor. Na Young muda seu nome para Nora Moon e começa uma vida nova no Canadá, perdendo contato com Hae Sung. Esse é o ponto de partida para Vidas Passadas (Past Lives, 2023), co-produção norte-americana e coreana que, mesmo tendo recebido diversos elogios e prêmios, teve sua estreia comercial inexplicavelmente atrasada para janeiro, sendo que a primeira previsão era para agosto de 2023.
A diretora e roteirista Celine Song faz aqui a estreia em longas com grande estardalhaço, já que chamou bastante atenção em diversas premiações. O filme é sensível e passa uma sensação de simplicidade, o que só valoriza suas qualidades, como a ótima fotografia, que mostra as cidades de maneira corriqueira e ressalta os pontos escolhidos para cenários. Os personagens parecem gente que encontraríamos na próxima esquina e de quem nos tornaríamos amigos, com diálogos inteligentes e críveis. E silêncios e olhares também, tudo bem colocado.
No papel de Nora, Greta Lee (de The Morning Show) mostra grande carisma e segurança, fazendo o público se afeiçoar a ela. Da mesma forma, Teo Yoo (de Decisão de Partir, 2022) nos mostra o outro lado: o de quem ficou pra trás e seguiu seu caminho. Os dois, no entanto, guardam lembranças carinhosas um do outro e nunca se esqueceram. É muito interessante perceber essa grande diferença entre os dois: ela cresceu no ocidente e já está acostumada aos costumes, enquanto ele ainda traz a tradição coreana consigo.
Completando o trio principal, temos John Magaro vivendo Arthur, um americano que traz mais complexidade à dinâmica do casal. Na história da esposa com o amigo de infância, Arthur se sente um intruso, alguém que corre por fora e não entende o básico: a língua natal deles. A relação entre os três traz questões pertinentes que devem fazer muita gente ficar algumas horas pensando a respeito. Somos compostos por mundos interiores e, por mais que eles se complementem, volta e meia podem se chocar.
Por ter boa parte dos diálogos em coreano, Vidas Passadas está concorrendo na principais premiações também como “longa em língua estrangeira”, o que levanta a possibilidade de mais uma categoria a ser premiado. Vencendo ou não, é um filme que merece ser assistido e já conferiu aos envolvidos, principalmente Song, Lee e Yoo, o status de “nomes a serem acompanhados”.