Muito já foi falado e escrito sobre o Rei do Rock, e não faltam cinebiografias de Elvis Presley, como a que Baz Luhrmann dirigiu em 2022. Dessa vez, a diretora e roteirista Sofia Coppola decidiu que o foco seria a namorada e futura esposa dele, Priscilla Beaulieu, o que não surpreende ninguém que conheça a filmografia de Sofia. A surpresa fica por conta da relativamente desconhecida Caille Spaeny, que dá profundidade à protagonista e nos leva consigo para Graceland, onde passava dias ora frenéticos, ora solitários.
De As Virgens Suicidas (The Virgin Suicides, 1999) a On the Rocks (2020), passando pelo elogiado Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003), entre outros, Sofia sempre mira mulheres que, com ou sem gente em volta, se sentem sozinhas e deslocadas. Era questão de tempo até pensar em Priscilla, geralmente relegada ao papel de coadjuvante de um dos maiores nomes da música mundial. O livro adaptado, da própria Priscilla (escrito com Sandra Harmon), deu origem também ao filme para a televisão Elvis e Eu (Elvis and Me, 1985), tendo as duas obras sido lançadas oito anos após a morte do cantor.
Assim como o longa de 1985, Priscilla não traz uma visão positiva do Rei, mostrando-o como machista, manipulador e controlador. Pode-se dizer que ele era um produto de sua época, quando características como as citadas eram comuns em homens, mas o filme deixa claro que isso piorou à medida que a fama de Elvis cresceu. Priscilla tinha apenas 14 anos quando conheceu seu futuro marido, 10 anos mais velho que ela. Tudo começa como em um conto de fadas, mas vários episódios fazem o público pensar no que estaria fazendo a moça continuar aturando tudo aquilo. A resposta é bem simples: amor.
A atriz escolhida, Caille Spaeny (de Mare of Easttown), dá conta perfeitamente de viver Priscilla em todo o escopo do filme, tanto física quanto psicologicamente. Merecidamente foi indicada a prêmios, nos fazendo entender porque Priscilla passou por tudo o que Elvis a sujeitou. E cabem elogios a Jacob Elordi (de Saltburn, 2023) também, o intérprete de Elvis. De Austin Butler a Kurt Russell, passando por Dale Midkiff e (porque não?) Val Kilmer, vários atores já deram vida ao Rei. Elordi se destaca por mostrar mais facetas, indo de carinhoso a monstruoso em segundos, sem perder a cara de galã e o jeito simpático, que conquistava a todos.
As brigas entre a verdadeira Priscilla Presley, que entrou como produtora executiva no filme, e a filha, a recém falecida Lisa Marie, que não aprovava o retrato que pintaram do pai, fizeram com que o longa de Sofia não pudesse usar as músicas cantadas por Elvis, o que foi facilmente contornado. Com direção musical da banda Phoenix, liderada pelo marido da diretora, Thomas Mars, e canções dos Sons of Raphael, além de músicas populares das épocas retratadas, não falta coisa boa para ouvirmos. Se há um possível problema em Priscilla, é acompanhá-la somente enquanto há a ligação com Elvis, como se o interesse por ela residisse exclusivamente nele. Seria justo que o roteiro extrapolasse o livro e mostrasse o pós Elvis. Para Sofia, não foi necessário.
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