Willy Wonka ganha filme de origem

Desde 2016, sabe-se que a Warner estava interessada em fazer um filme sobre a ascensão de Willy Wonka como um grande produtor de chocolates. Personagem do livro Charlie e a Fábrica de Chocolate (ou A Fantástica Fábrica de Chocolate), de Roald Dahl, Wonka já ganhou vida nos cinemas duas vezes, nas peles de Gene Wilder (1971) e de Johnny Depp (2005). Agora foi a vez de Timothée Chalamet viver o personagem numa versão mais jovem, num prelúdio que muitos se perguntaram se era necessário. Essa de fato é uma pergunta complexa, mas dá para assegurar, no mínimo, que o resultado ficou bem divertido.

Ator que costuma ceder os holofotes aos colegas em qualquer filme que faça (não por escolha própria), Chalamet consegue (talvez pela primeira vez) ser o centro da ação e manter o foco em si. Seja em Me Chame Pelo Seu Nome (2017), Um Dia de Chuva em Nova York (2019), Duna (2021) ou Até os Ossos (2022), qualquer outro ator em cena chamou mais atenção que ele, e aqui ele se sobressai, se mostrando à vontade como um Willy Wonka menos estranho – algo que deve piorar com o tempo, até que ele chegue às versões anteriores (e mais velhas). E ele não faz feio ao cantar e dançar as novas músicas criadas por Neil Hannon (fundador da banda Divine Comedy).

No início desse “filme de origem” (terminologia normalmente usada para quadrinhos), encontramos Wonka chegando à cidade grande com o sonho de produzir chocolate em larga escala e levar às pessoas alegria em forma de alimento. Era algo que a mãe dele (Sally Hawkins, de A Forma da Água, 2017) fazia em datas especiais e ele tomou gosto. Por essa premissa, percebe-se que os roteiristas não se preocuparam em seguir o que havia sido estabelecido antes, como o fato de Wonka ter perdido o contato com o pai dentista que o proibia de comer chocolate. Quem assina o roteiro é o próprio diretor, Paul King, mais lembrado pelas duas aventuras do ursinho Paddington (2014 e 2017), ao lado de Simon Farnaby (também de Paddington 2).

O elenco de Wonka traz algumas boas surpresas. A oscarizada Olivia Colman (de A Favorita, 2018) faz uma pilantra padrão que tem seus momentos, e a atriz sabe aproveitá-los. Jim Carter, mais lembrado por Downton Abbey, traz sua nobreza de sempre para o grupo, e Keegan-Michael Key, de filmes e séries bobinhos como Friends From College, consegue arrancar algumas risadas. As grandes participações, no entanto, ficam a cargo do eterno Mr. Bean Rowan Atkinson e de Hugh Grant (de Dungeons & Dragons, 2023), hilários. A novinha Calah Lane (de This Is Us) tem menos experiência, mas não faz feio.

Se, nos filmes anteriores, o design da fábrica já causava assombro com sua riqueza de detalhes e cores espalhafatosas, dessa vez temos toda uma cidade. Como em uma boa fábula, não sabemos ao certo a época. Só sabemos que devemos apostar em nossos sonhos. Claro, fica uma mensagem, mas o percurso é prazeroso. O excesso de fantasia inicial, bem mais que nos outros longas, pode causar um estranhamento, mas tudo logo se ajeita. E muita coisa pode ser interpretada como metáfora. Quem nunca comeu algo tão gostoso que flutuou? Fazendo sucesso, não duvido que Wonka siga tendo continuações. E vida longa aos Oompa-Loompas!

Wilder, Chalamet e Depp: os três Willy Wonka do cinema

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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