Um garotinho de oito anos diz a seus pais que tem ouvido batidas na parede durante a noite. Eles dizem que deve ser um sonho, ou ratos, e o tranquilizam. As batidas ficam mais frequentes e logo Peter começa a ouvir uma voz o chamando. Essa é a premissa de Toc Toc Toc: Ecos do Além (Cobweb, 2023), longa de terror que chega aos cinemas essa semana. Uma reviravolta no meio do caminho faz parecer que estamos assistindo a dois filmes. Um funciona bem melhor que o outro.
A metáfora do título original, teia de aranha em tradução direta, se perde nesse inexplicável título composto nacional – que parece fazer alusão ao Ecos do Além de 1999 (A Stir of Echoes), e não há relação alguma. É apenas mais um caso da distribuidora jogando contra o filme que distribui. O roteiro, que espera ser produzido desde 2018, é ligeiramente (bem de longe) inspirado pelo conto O Coração Acusador, de Edgar Allan Poe. Fica muito claro que o autor, Chris Thomas Devlin (de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, 2022), não sabia direito onde queria chegar. Ou a hora de parar.
Para a sorte de Devlin, o diretor contratado, Samuel Bodin, mesmo sendo estreante, soube criar uma atmosfera de suspense muito eficiente e tira leite de pedra. Mesmo sem escapar de clichês, como uma casa que é escura mesmo com todas as luzes acesas, Bodin consegue manter a tensão. Ainda que tentando ser extremamente amáveis, os pais do menino parecem ameaçadores, o que também se deve ao trabalho correto de Lizzy Caplan (de Castle Rock) e Antony Starr (o Homelander de The Boys). Os dois têm uma dinâmica boa para um casal um pouco frio, o que não é raro pelas vizinhanças reais, e conseguem ser críveis.
Uma boa surpresa, em sua segunda estreia seguida, é o jovem Woody Norman (de A Última Viagem do Deméter, 2023). Ele é quem mais convence na situação que vemos, aqui bem mais introvertido que no longa do Drácula. Quem não tem uma tarefa fácil devido às escolhas do roteiro é Cleopatra Coleman (de Piscina Infinita, 2023), que vive a professora substituta de Peter que só faz burradas. Infeliz mesmo é Devlin, o roteirista, que não se decide quanto ao final e, depois de uma grande bagunça, deixa tudo de qualquer jeito. Começando bem e terminando desse jeito, o longa vai deixar o espectador um tanto confuso.