A Era de Ouro é homenagem de filho para pai

Quem gosta de histórias de bastidores da música vai se interessar por essa estreia. Chega essa semana aos cinemas A Era de Ouro (Spinning Gold, 2023), cinebiografia de um produtor musical que descobriu vários artistas e conduziu a carreira de outros já estabelecidos. Como não poderia ser diferente, a trilha sonora é bem recheada e há muitas anedotas saborosas. O problema é o tom de reverência que perpassa por todo o filme, mostrando o protagonista como um ser infalível que acerta até quando erra. Talvez isso se deva ao fato de que o diretor e roteirista da obra seja filho do saudoso biografado.

Quando A Era de Ouro começa, somos avisados pelo próprio Neil Bogart (interpretado por Jeremy Jordan) de que tudo que será mostrado é a verdade – até o que não é. Dessa forma, Timothy Scott Bogart dá uma floreada em várias sequências, inventa outras e pinta um quadro muito elogioso do pai. Por mais que haja um escorregão de caráter aqui e ali, o veterano é mostrado como um ótimo marido, pai, colega de trabalho e chefe, além de um visionário como nunca antes visto. Até o fato de afirmar amar duas mulheres igualmente (sendo uma a esposa) passa tranquilo, como se fosse algo que acontece sempre por aí.

Várias personalidades da música são retratadas, muitas vezes interpretadas por músicos de verdade. Logo, atores de mentira. Jason Derulo (acima) , por exemplo, faz um Ron Isley (dos Isley Brothers) bem fraco. Jeremy Jordan (das séries Flash e Supergirl) é competente no papel principal, mas fica o tempo todo com a mesma cara de novinho, o que dificulta um pouco perceber a passagem do tempo. Michelle Monaghan (de O Dia do Atentado, 2016) e Lyndsy Fonseca (a filha de How I Met Your Mother) se saem bem como as mulheres da vida de Neil, mas têm o mesmo problema com o (não) envelhecimento.

Com uma ótima reconstituição da época, uma fotografia competente, um elenco de apoio bem escolhido (como Dan Fogler, de The Offer) e uma história que é obviamente interessante, fica a impressão de que o diretor Bogart não tem a experiência ou o instinto necessários para conduzir um longa como esse. E a vontade de fazer um tributo ao pai falou mais alto. Com tantos feitos memoráveis, temos que concordar que Neil merecia uma homenagem. O filho só não era a pessoa certa para a missão.

O icônico Giorgio Moroder é um dos personagens, vivido por Sebastian Maniscalco

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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