Chegou ao Prime Video o interessante documentário A Música de 007 (The Sound of 007, 2022), que reconta a saga de James Bond no Cinema através de suas trilhas sonoras, tanto as instrumentais quanto as canções das aberturas. Quem conhece um mínimo do espião mais famoso da ficção sabe o quanto essas músicas são marcantes e acabam sendo um reflexo da época em que os filmes foram lançados.
Não necessariamente seguindo uma ordem cronológica, o premiado diretor Mat Whitecross (de O Caminho para Guantánamo, 2006) escolhe alguns tópicos para abordar e vai pulando de um para o outro. Os envolvidos nos episódios narrados aparecem, mesmo que em imagens de arquivo (no caso dos falecidos), dando depoimentos ricos e curiosos, trazendo informação e anedotas. São diversos tipos de profissionais que aparecem: cantores, compositores, maestros, atores, diretores, roteiristas, produtores e por aí vai.
Para iniciar os trabalhos, temos um esclarecimento importante de algo que assombra os fãs de Bond: quem de fato compôs o icônico tema instrumental, que aparece em todos os 25 filmes do espião inglês? Há uma disputa histórica entre os compositores Monty Norman e John Barry, já que um foi contratado para a missão inicial e o outro, para dar rumo a uma obra não apreciada. Esse tema sofreu alterações ao longo dessas seis décadas, de 007 Contra o Satânico Dr. No (1962) a 007 – Sem Tempo Para Morrer (2021), sendo adaptado para situações e momentos diferentes.
Os responsáveis por essas adaptações, como o próprio Barry, Hans Zimmer, Marvin Hamlisch, David Arnold, George Martin, entre outros, aparecem para contar sobre suas intenções, influências, motivações. E as canções de abertura, sempre acompanhadas de uma arte elaborada, eram no início assinadas por compositores contratados e interpretadas por artistas em alta na época, como Shirley Bassey, Tom Jones e Matt Monro. Até que apareceu um certo Paul McCartney que, em uma tarde, escreveu Live and Let Die e não deixaria outro cantá-la. Começou aí a cultura de contratarem bandas em alta responsáveis por suas próprias composições, como era o caso dos Wings.
Para os artistas, era motivo de celebração ser escolhido para compor e/ou interpretar o tema de Bond. Era uma indicação do sucesso que tinham, um endosso de Hollywood a uma carreira em alta. Nem todos, claro, mantiveram esse sucesso, alguns sumindo nos anos seguintes. Poucos se lembram, por exemplo, de Sheena Easton ou Rita Coolidge. Já outros, como Duran Duran e a-ha, tiveram diversos hits e estão em atividade até hoje. Há artistas que tentaram assinar o tema e, por algum motivo, ficaram de fora, como Alice Cooper e Blondie. A sequência em que a possível contribuição de Amy Winehouse é discutida é o momento mais emocionante do documentário.
Os entrevistados revelam também quem são os artistas que eles gostariam que tivessem composto uma música para Bond. Rami Malek, por exemplo, crava Queen, como não poderia ser diferente – o ator ganhou o Oscar por viver Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2018). Malek, como vilão do filme mais recente da franquia, tem um tempo maior em cena, assim como Daniel Craig, último intérprete de Bond (até o momento). O que acaba acontecendo também com Billie Eilish (acima) e Finneas O’Connell, que compuseram e executaram o tema de Sem Tempo Para Morrer. Adelle, que abriu as portas da série para o Oscar, vencendo por Skyfall, por alguma razão não aparece. Os dois temas seguintes, que também levaram o prêmio, acabam aparecendo mais.
Fora certas exclusões estranhas, A Música de 007 é um documentário bem completo, que situa bem o espectador no mundo de James Bond. Quem não assistiu a todos os 25 filmes da cinessérie vai ter descobertas e provavelmente vai buscar corrigir essas faltas. E, certamente, vai querer fazer uma maratona com as canções. O que acaba sendo um passeio pelos últimos 60 anos da música inglesa.
PS: Há duas edições do Programa do Pipoqueiro com os temas de James Bond e comentários a respeito. Clique aqui para ouvir a primeira edição e aqui para ouvir a segunda.
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