Depois de cometer o duvidoso Green Book (2019), que levou três Oscars mesmo sem ser bom, Peter Farrelly optou para outra história real, desta vez deixando o dramalhão de lado. Operação Cerveja (The Greatest Beer Run Ever, 2022) é baseado no livro de memórias do próprio protagonista, talvez o mais burro da história do Cinema. Corroborando a ideia de que ser patriota é acreditar em tudo o que é divulgado pelo governo, o sujeito achava que devia levantar a moral dos amigos combatentes na Guerra do Vietnã. E resolveu fazer isso levando cerveja para eles. No Vietnã. Em guerra.
Em 1967, americanos morriam aos montes em um país desconhecido por eles com a justificativa de estarem lutando contra o comunismo. E o americano médio acreditava piamente nisso, afirmando que os mortos eram heróis que defendiam o estilo de vida de todos. Um desses, que ficaram nos EUA e recebiam a notificação dos amigos mortos, era John “Chickie” Donohue (Zac Efron, de Chamas da Vingança, 2022), o típico perdedor: morava com os pais, dormia até tarde por ter bebido muito na véspera e tinha um emprego incerto que pagava mal.
Vendo a irmã (Ruby Ashbourne Serkis, de O Paraíso e a Serpente) protestando junto aos hippies, Chickie entendeu que deveria fazer algo para mostrar sua gratidão aos amigos, que lutavam por ele e demais. Para isso, encheu uma sacola de latas de cerveja – a tradicional norte-americana Pabst Blue Ribbon – e se alistou para um trabalho num navio cargueiro que ia para Saigon. Com a desculpa de estar trabalhando, ele aproveitaria para dar uma escapada e achar os vizinhos. Numa zona de guerra.
É interessante perceber que o cidadão norte-americano não tinha a menor ideia do que estava acontecendo no Vietnã, muito menos da gravidade do conflito. Acreditavam em tudo que o presidente Johnson (ou algum general) dizia na televisão. Nada muito diferente do que acontece hoje no Brasil ou em outras partes do mundo. Compra-se as versões oficiais, como se as autoridades fossem mitos incapazes de errar. Para Chickie, foi necessário sair de sua casa e ver o que de fato acontecia lá fora, para constatar que se tratava de um banho de sangue.
Partindo de uma premissa absurda (apesar de real), Farrelly e equipe conseguem construir uma jornada bonita, mesmo com alguns exageros. O personagem de Russell Crowe (de Thor: Amor e Trovão, 2022) é o único, dentre os mais relevantes, que não existiu, resumindo outras figuras com quem Chickie se encontrou e até servindo como seu guia, uma espécie de Virgílio pelo inferno da guerra. De resto, o filme bate certinho com a história narrada no livro (coescrito por Joanna Molloy). O tipo vivido por Bill Murray, numa ponta bacana, também está próximo da realidade. Difícil acreditar que alguém seria tolo o suficiente, mas acabamos nos afeiçoando por Chickie.
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Nossa, eu não consigo imaginar essa história de tão louca, vou ter que conferir na Apple!
O filme é muito bom. Para levar as cervejas teve a mesma coragem dos combatentes e viu a realidade e as mentiras em torno de uma guerra feitas por políticos, que não arriscam suas vidas.