No Ritmo do Coração traz prêmios para família de surdos

Sigla que, do inglês, significa “filho de adultos surdos”, CODA é o título de um dos dez indicados ao Oscar de Melhor Filme este ano. O longa chega ao Brasil com um título bem mais açucarado: No Ritmo do Coração (2021), que é até condizente com a história. A protagonista, a adolescente Ruby Rossi, é a única da família que ouve, e chega na idade em que deve decidir se continua a trabalhar com o pai e o irmão, ajudando-os, ou se vai para a faculdade realizar seu sonho de estudar música.

É curioso que a única da família que consegue ouvir queira seguir carreira cantando. A mãe, em determinado momento, pergunta a ela: “Se eu fosse cega, você seria fotógrafa?” O fato de os três atores serem de fato surdos traz uma riqueza enorme para o filme. Conseguimos ver como é a rotina da família e os desafios que surgem e precisam ser contornados. Ruby acaba servindo de intérprete, já que domina a língua de sinais e faz a ponte para os demais. A melhor palavra para definir o filme é “adorável”. E as ótimas músicas da trilha só ajudam no sorriso no rosto.

Além de ter que aprender a língua de sinais, a atriz Emilia Jones precisou também se virar em um barco pesqueiro, atividade do pai e do irmão da personagem. Conhecida pela série Locke & Key, Jones ainda revela grande talento para o canto, e não à toa foi indicada como Melhor Atriz ao BAFTA. O colega dela, Troy Kotsur, levou prêmios pelo trabalho como o pai dos Rossi. Com várias participações em filmes e séries (mais recentemente em The Mandalorian), Kotsur também tem uma longa carreira no teatro e como diretor.

Mais conhecida do elenco, outra a mostrar as caras em CODA é Marlee Matlin, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por seu filme de estreia, Filhos do Silêncio (1986). Ela vive a mãe de Ruby e, ao lado de Kotsur, fazem um casal simpático e longe de estereótipos. O quarto membro da família, o filho Leo, é interpretado por Daniel Durant (da série You), que tem bons momentos reservados pelo roteiro da também diretora Sian Heder, comandando aqui seu segundo longa (após Tallulah, de 2016).

Refilmagem do francês A Família Bélier (2014), CODA conseguiu força suficiente para fugir das comparações inevitáveis e cavou seu lugar na temporada de premiações. Seu elenco forte e o roteiro adaptado por Heder são os pontos mais reconhecidos. Kotsur é o primeiro ator surdo a receber uma indicação ao Oscar (como coadjuvante) e levou o BAFTA, assim como Heder (pelo roteiro). Já são mais de 55 vitórias e 137 indicações, e a contagem segue. Os envolvidos certamente terão muitas oportunidades, depois de tanto sucesso.

Emilia Jones precisou aprender a língua de sinais enquanto filmava Locke & Key

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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