Spielberg moderniza o musical Amor, Sublime Amor

Com uma das carreiras mais notáveis da história do Cinema, Steven Spielberg ainda não tinha dirigido um musical. Com dois Oscars na bagagem e tendo transitado por vários gêneros, o cineasta está sempre inovando e decidiu comandar uma refilmagem. O resultado é o novo Amor, Sublime Amor (West Side Story, 2021), que recria o clássico de 1961 e o atualiza para as plateias de hoje. E não poderiam faltar as canções icônicas de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, que permaneceram intocadas.

Vencedor de 10 Oscars e campeão de bilheteria no ano de seu lançamento, o longa original é tido como um dos melhores de todos os tempos. Ele é baseado numa peça da Broadway que, por sua vez, era inspirada em Romeu e Julieta, de Shakespeare. Ao invés de duas famílias rivais, a obra de Robert Wise e Jerome Robbins trazia duas gangues que disputavam espaço no lado oeste de Nova York – daí o título original. Protagonizado por um casal insosso, o filme chamou mais a atenção por seus ótimos números de música e dança.

Mesmo com todos os seus acertos, o Amor, Sublime Amor de 1961 tem suas estranhezas, como atores escurecidos por maquiagem para parecerem latinos, figurinos espalhafatosos e atuações duvidosas. Talvez por isso, Spielberg tenha pensado que seria uma boa ideia refazê-lo e mais uma vez contou com o roteirista Tony Kushner, de Munique (2005) e Lincoln (2012). Pode parecer uma blasfêmia, mas o resultado dessa nova parceria é bem superior ao original. Explora muito bem a cidade, com uma bela fotografia urbana, sem aquele ar de fábula que repentinamente dá lugar à tragédia. Pena ter sido pouco prestigiado pelo público.

Nos papéis que couberam a Natalie Wood e Richard Beymer, temos agora Ansel Elgort (de O Pintassilgo, 2019) e a estreante Rachel Zegler. No quesito casal principal, não tivemos muita alteração, continua faltando um pouco de química e até de expressividade. Já o elenco de apoio é mais interessante, com destaque para o furacão Ariana DeBose (de A Festa de Formatura, 2020), que atua, canta e dança de maneira impecável e foi merecidamente indicada a vários prêmios. O papel de DeBose, Anita, foi vivido anteriormente por Rita Moreno, que ganhou um Oscar pelo trabalho e volta, neste, como Valentina, a chefe de Tony.

Com atores de diferentes etnias e nacionalidades, este Amor, Sublime Amor traz uma bem-vinda diversidade e fica muito mais fácil crer nos conflitos mostrados. Os preconceitos dos personagens são escancarados, o xenofobismo hoje tão em alta em alguns lugares (como nos Estados Unidos) aparece na tela claramente, com os Jets da gema xingando os porto riquenhos Sharks e mandando-os voltar para o país deles. A atualidade da história deve ter sido outro elemento a chamar a atenção de Spielberg.

DeBose rouba a cena sempre que aparece

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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