A onda de nostalgia não é de hoje, e segue firme. Um novo Matrix nos cinemas, outra temporada de Dexter na TV anos depois da última. Pode ser uma oportunidade para corrigir erros, continuar uma boa história ou mesmo ganhar um dinheiro com material de retorno seguro. Em qualquer categoria que se encaixe, temos um quinto Pânico (Scream, 2022) e mais cadáveres se empilhando em Woodsboro, cidade natal de nossa velha conhecida Sidney Prescott (Neve Campbell). E, pela primeira vez, não é o saudoso Wes Craven quem dirige.
Vinte e cinco anos depois dos primeiros crimes na cidade, a população parece ter se acostumado a perder alguns adolescentes (e adultos que cruzem o caminho do assassino) de tempos em tempos, e a adaptação daquela realidade segue quente no Cinema. Os assassinatos cometidos por Billy Loomis (Skeet Ulrich) e Stu Macher (Matthew Lillard) ganharam notoriedade na tela grande e o filme que conta a história deles, Stab (A Punhalada), teve várias continuações. Na vida real (deles), outros apareceram, com poucos ou nenhum motivo, e mataram mais. O filme dentro do filme gera diversas metapiadas, como que dando piscadelas ao espectador.
Parte da responsabilidade dessa fama é da jornalista Gale Weathers (Courteney Cox), que escreveu o livro sobre a tragédia e agora se sente culpada por tantos malucos de plantão se proporem a levar a matança adiante. Quem muito se ferra nessa história é o policial Dewey Riley (David Arquette), para quem sempre sobra a investigação e a resolução dos crimes. Sidney, Gale e Dewey são os personagens clássicos que estão sempre voltando ao foco da ação, como abelhas no mel. Além desses três, outro que repete seu papel é Roger Jackson, que faz a voz do assassino Ghostface – e a famosa fala “Hello, Sidney!”
Com as duas veteranas da franquia fora da cidade seguindo suas vidas e o ex-xerife aposentado, novos adolescentes aparecem para fazerem a alegria de quem gosta de ficar tentando acertar quem é o culpado. Uma garota, Tara (Jenna Ortega, da série You), sozinha em casa, atende o telefone e o jogo sádico de conhecimento cinematográfico começa. E é aí que começa a autorreferência também, já que o filme está sempre voltando à sua própria história. Como Tara é atacada e vai para o hospital, a irmã distante, Sam (Melissa Barrera, de Em Um Bairro de Nova York, 2021), vem correndo para vê-la e participar do show de horrores.
Com apenas dois rostos famosos entre as novidades, Jack Quaid (de The Boys) e Dylan Minnette (de 13 Reasons Why), o novo Pânico consegue divertir e tem alguns momentos mais inspirados. Para quem gosta dos episódios anteriores, este é altamente recomendado, apesar de girar em torno do mais do mesmo. As regras de filmes de terror são constantemente reapresentadas e as piadas aparecem com tanta frequência que quase transformam a obra numa comédia. Isso pode incomodar, e aponta situações que são realmente discutíveis, como a prática de excluir o número de sequências do título para dar a impressão de se tratar de um começo (de novo). Daí, temos Pânico, sem o 5.
Na direção, no lugar do experiente Craven, falecido em 2015, chega a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (ambos de Casamento Sangrento, 2019). Outro que não retorna é o roteirista Kevin Williamson, que deixa a vaga para James Vanderbilt (dos dois Homem-Aranha com Andrew Garfield) e Guy Busick (de Casamento Sangrento). A função dos novos diretores e roteiristas é basicamente contar a história como Craven e Williamson fariam, emulando o estilo dos dois fundadores desse universo. A missão é satisfatoriamente cumprida e é bacana rever Campbell, Cox e Arquette novamente tentando passar a tocha adiante.
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