Matrix 4 retoma as aventuras de Neo e companhia

O filme de 1999 fez um sucesso enorme e deu uma sacudida nos gêneros de ficção-científica e ação. Em 2003, vieram duas sequências com meses de intervalo entre elas, buscando expandir aquele universo. E parecia ser o fim das aventuras de Neo e companhia. Eis que a Warner Bros. nos surpreende com Matrix Resurrections (2021), quarta parte da franquia que, ao mesmo tempo em que dá continuidade à história, a reinicia, permitindo que todos acompanhem mesmo sem conhecimento prévio. Ter visto o primeiro ajuda, mas não é imprescindível.

O filme de 99 funciona muito bem sozinho, mas era inegável o potencial para uma série. Os dois que vieram na esteira não foram tão bem recebidos pelo público. Apesar de inovarem tecnicamente e trazerem cenas esteticamente perfeitas, têm histórias confusas que pouco contribuem para o quadro geral. Talvez por isso, Lana Wachowski (sem a irmã Lilly) e seus colegas roteiristas tenham voltado na fonte original – e também para facilitar para quem está chegando agora. O pontapé inicial dos dois longas é basicamente o mesmo: um sujeito que trabalha com informática recebe a oportunidade de conhecer o mundo verdadeiro por trás da simulação na qual vivem.

A diferença é que, agora, Thomas Anderson, o icônico personagem de Keanu Reeves, é um rico e famoso criador de jogos que é atormentado por visões de algo que ele aparentemente não viveu. São necessárias muitas sessões de terapia (com Neil Patrick Harris, o Barney de How I Met Your Mother) para superar esses delírios e uma tentativa de suicídio, quando ele quase pulou de um prédio. Algo como Robin Williams em Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991). Sem saber exatamente o que é real, Anderson se depara com Bugs (Jessica Henwick, de Punho de Ferro) e uma outra versão de Morfeu (agora vivido por Yahya Abdul-Mateen II, o novo Candyman), que dão a ele a opção de escolher entre a pílula vermelha, que leva à verdade, e a azul, que o deixa na mentira confortável.

Retomando a mitologia da primeira parte, Lana homenageia o que ela e a irmã criaram, faz autorreferências e, por que não, piadas. Ou metapiadas. Há um diálogo, por exemplo, sobre a Warner ter pressionado por uma sequência, que seria feita com ou sem o envolvimento dos criadores. A conversa era sobre o videogame criado por Anderson, mas fica muito claro que cabe também para o próprio filme. Esse clima bem-humorado permeia a primeira parte do longa, enquanto as bases são montadas e conhecemos outros personagens, como o sócio do protagonista (vivido por Jonathan Groff, de Mindhunter).

A partir de aproximadamente 40 minutos, o ritmo é acelerado e a ação toma conta. E não demora a se tornar repetitiva e enfadonha, lembrando produções como O Homem de Aço (The Man of Steel, 2013), em que a destruição chega a uma proporção tal que você já não se importa mais com o resultado. E algumas opções visuais já não soam tão originais, como os corpos que caem dos prédios. Resta a curiosidade de reencontrar algumas figuras das aventuras anteriores, como o Merovíngio de Lambert Wilson ou a Niobe de Jada Pinkett Smith. Trinity, na pele de Carrie-Anne Moss, continua durona e linda. E a garotinha Sati cresceu! 

Ao som de White Rabbit, da Jefferson Airplane, acompanhamos Anderson se redescobrir como Neo. É bom rever personagens queridos e os novos são interessantes o suficiente. As explicações oferecidas para as substituições no elenco são razoáveis e aceitáveis. Não se pode dizer que esta sequência de Matrix seja puramente caça-níqueis, ela se sustenta e se justifica. É inclusive melhor que as anteriores – o que não quer dizer muita coisa.

Mas relevante mesmo ela será apenas para os fãs da trilogia, que se sentirão mais do que agraciados. Os demais não devem guardar lembranças dela por muito tempo. O embate que mais ficará marcado será o deste Matrix 4 contra Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021), pelas bilheterias e pelas salas de Cinema, já que os dois arrasa-quarteirões chegam praticamente juntos em cartaz.

Estes são apenas Thomas e Tiffany, pessoas comuns

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Ótima análise! O início do filme é muito bom, depois descamba para um quebra-pau genérico. Mas é uma sequência interessante o suficiente para manter a chama de Matrix acesa por mais tempo.

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