Punho de Ferro é o último Defensor a chegar na Netflix

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Punho de Ferro (Iron Fist), nova série da parceria Marvel/Netflix, chegou ao serviço de streaming na última sexta-feira, 17 de março. Ao contrário de suas predecessoras (Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage), a série foi tão detonada pela crítica que teve acesso aos seus seis primeiros episódios, que começarei essa resenha de uma maneira diferente. Primeiro analisaremos as principais críticas feitas à série – sem spoilers – para depois analisá-la. Abaixo, comentarei as críticas mais esdrúxulas vistas até agora, deixando as que fazem sentido para serem abordadas de maneira mais profunda nos parágrafos a seguir.

1 – “Punho de Ferro é ruim porque o protagonista é um branco bilionário”. Isso é uma das críticas recorrentes e é uma das que menos faz sentido, já que os filmes estrelados por Batman e Homem de Ferro também são protagonizados por “um branco bilionário” e isso nunca foi motivo de crítica para suas produções cinematográficas. Um crítico chegou a dizer que o ator Finn Jones (de Game of Thrones) seria “extremamente caucasiano”, o que me deixou pensando sobre o que isso deveria significar;

2 – “Punho de Ferro é ruim porque tem pouca diversidade”. Outra besteira. Apesar de haver uma predominância de caucasianos no elenco, dentre os personagens principais há chineses, latinos e negros. Isso já traz mais diversidade a Punho de Ferro do que vimos tanto em Luke Cage quanto em Demolidor;

3 – “Punho de Ferro é ruim porque mostra um branco mestre do Kung Fu, quando o protagonista deveria ser um oriental”. Um reflexo do clima de politicamente correto atual, essa crítica é absurda. Primeiro que dizer isso é desconhecer tanto o material original – ou seja, os quadrinhos do personagem – quanto a essência da série. Segundo, quer coisa mais clichê do que um mestre do kung fu oriental? Fazer essa troca de protagonista não seria apenas uma forma de alimentar o estereótipo de que orientais são escalados apenas para esse tipo de personagem? A Marvel já tem um personagem oriental mestre do Kung Fu chamado – adivinha? – Shang Chi, o Mestre do Kung Fu, cuja série está sendo boatada para um futuro próximo na Netflix;

4 – Finalmente, ““Punho de Ferro é ruim porque faz apropriação cultural”. Com relação a essa, só tenho uma coisa a dizer: vão arrumar um hobby.

Desabafo feito, vamos ao que interessa. Quando começou seu universo Marvel no cinema, a Marvel Studios tinha um plano bem claro: primeiro, lançou filmes solo de seus principais personagens (Homem de Ferro, Hulk, Capitão América e Thor, com aparições da Viúva Negra, Gavião Arqueiro, Nick Fury e Phil Coulson). Com eles bem apresentados ao público, reuniu-os em um longa (Os Vingadores, 2012). Como em plano que dá certo não se mexe (viu, Warner?), a Netflix seguiu o mesmo caminho. Primeiro, lançou Demolidor (cuja segunda temporada teve a participação do Justiceiro), seguida de Jessica Jones, Luke Cage e esse Punho de Ferro, tudo isso para preparar o terreno para a série dos Defensores, que chega à Netflix no segundo semestre.

Punho de Ferro começa quando Danny Rand (Jones) retorna a Nova Iorque depois de quinze anos. Danny é herdeiro de Wendell Rand (David Furr, de 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi) que, junto com Harold Meachum (David Wenham, de Lion: Uma Jornada para Casa), construiu as Empresas Rand, um complexo multi-bilionário que atua em áreas diversas. No momento em que Danny retorna, Harold havia falecido há 12 anos, deixando o comando da empresa nas mãos de seus filhos (abaixo), Ward (Tom Pelphrey, de Banshee) e Joy (Jessica Stroup, de The Following).

Inicialmente, tudo o que Danny quer é recuperar seu lugar na empresa da qual detém 51% das ações. O problema é que não há qualquer prova de que aquele jovem de 25 anos – que, para o mundo, morrera 15 anos antes, quando o avião no qual viajava com os pais caiu no Himalaia – seria mesmo o herdeiro dos Rand. Aí começa o primeiro desafio de Danny: provar sua identidade. Não só isso: quando o avião dos pais caiu, Danny foi resgatado por monges e levado para K’un-Lun, uma cidade que se localiza em outro plano dimensional, cuja passagem para nossa realidade só se abre a cada 15 anos. Durante o período em que lá ficou, Danny foi submetido a um treinamento físico e espiritual extremo e, depois de diversos testes, se tornou o Punho de Ferro, capaz de concentrar uma grande quantidade de energia (seu chi) em seu punho direito, dando-lhe a consistência do metal que lhe empresta o nome, dentre outras capacidades.

Após finalmente provar quem é, Danny precisa encontrar seu lugar nesse novo mundo e, enquanto tenta fazê-lo, acaba descobrindo que a organização criminosa O Tentáculo (vista nas duas temporadas de Demolidor) está infiltrada na Rand. Um dos propósitos da existência do Punho de Ferro é proteger K’un-Lun justamente do Tentáculo. Danny passa a concentrar a maioria de seus esforços na destruição dessa organização. Para isso, contará não só com a ajuda dos Meachum, como também de Colleen Wing (Jessica Henwick, de Star Wars: O Despertar da Força) e Claire Temple (Rosario Dawson), personagem que esteve presente em todas as séries anteriores da Marvel/Netflix e é um dos elos entre todas elas. Completam o elenco principal Ramon Rodriguez (de Transformers: A Vingança dos Derrotados) e Wai Ching Ho (reprisando o papel de Madame Gao, presente em Demolidor).

Um dos principais problemas de Punho de Ferro é recorrente nas séries da Netflix estreladas por personagens da Marvel: seu desenvolvimento lento. Demora uma eternidade para que a história realmente engrene e as coisas comecem a acontecer. Quando isso acontece – e nisso lá se vão os seis episódios liberados para a imprensa avaliar antes da série ser totalmente disponibilizada para o público em geral – a trama se torna mais interessante, ainda que haja alguns furos de roteiro meio grandes e soluções relativamente preguiçosas. Outra crítica se dá a respeito do desenvolvimento da série, já que muitos esperavam que ela tivesse um nível de ação maior, dado o fato do protagonista ser um mestre do kung fu. O número de lutas nos primeiros episódios é pequeno e as lutas não parecem muito bem coreografadas e filmadas. Esse problema passa a ser minimizado à medida em que a série progride. Aliás, a “falação” é necessária para dar alguma profundidade a personagens que, inicialmente, parecem bastante vazios (e alguns deles continuam assim durante quase toda a série).

Já sobre as lutas serem pouco vistosas, amigos que praticam kung fu e assistiram à série têm a mesma opinião: kung fu é para ser eficiente, não cheio das firulas que vemos em filmes japoneses. E nem tão brutal como o que vimos em Demolidor. De qualquer forma, as sequências de lutas melhoram com o tempo, assim como o protagonista, que parece ir se tornando um lutador melhor à medida em que precisa enfrentar mais adversários.

Com relação ao desempenho dos atores, não há muito a criticar. Todos desempenham seu papel corretamente, ainda que Finn Jones pareça pouco crível em alguns momentos. Finalmente, a trama de Punho de Ferro parece mais bem amarrada do que a de Luke Cage, na qual os roteiristas parecem ter ficado sem ideias no meio da temporada e precisaram criar um novo antagonista para o herói.

Punho de Ferro não é nem de longe a melhor série desenvolvida pela parceria Marvel/Netflix, mas também não é essa bomba que a crítica em geral tenta passar. Falta um pouco de desenvolvimento e ritmo – além do misticismo tão característico da história do personagem – mas, de resto, a série atende ao propósito de apresentar o último Defensor e situá-lo no universo estabelecido pela Marvel dentro da Netflix. Isso, além de deixar cada vez mais claro que a reunião dos Defensores tem tudo a ver com a destruição do Tentáculo. Mas isso só saberemos com certeza quando a série do quinteto (além de Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Demolidor, o grupo também terá a participação do Justiceiro) sair no próximo semestre.

Eis os Defensores da Marvel na Netflix

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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