Jackson e sua equipe, então, foram ao trabalho – com a benção dos beatles remanescentes (Paul e Ringo) e das viúvas dos colegas (Yoko, de John, e Olivia, de George). O material que daria origem à ótima série The Beatles: Get Back se originou de uma tentativa, em 1969, de os quatro gravarem um especial para a TV que também geraria um álbum inédito. Por isso, eles precisariam criar mais músicas, que acabaram entrando no álbum Let It Be. Esse, inclusive, é o nome de um documentário em longa-metragem lançado em 1970 que usa uma parte pequena do material captado pelo diretor Michael Lindsay-Hogg, causando em quem assiste uma impressão que não necessariamente refletia a realidade.
Os primeiros dez a onze minutos de Get Back dão uma ótima contextualizada para os que estão chegando agora nessa história. Mas, para os fãs dos quatro rapazes de Liverpool, é um deleite acompanhar com riqueza de detalhes os músicos discutindo, criando, tocando e brigando. Para os neófitos, trata-se de uma banda em pleno processo criativo, mesmo que em meio a desentendimentos. Para os fãs, trata-se da verdade por trás de vários mitos, como por exemplo o de que Yoko Ono teria sido a responsável pelo fim da banda. A esposa de John Lennon estava presente, sim, mas parecia em outro planeta, longe de ser causa para atritos. A presença até podia incomodar os outros, mas não era para tanto.
A montagem final, longa, é dividida em três episódios, cada um cobrindo uma parte dos 21 dias que eles tinham para criar e ensaiar as novas canções. Ao longo de quase oito horas, vemos a realidade das relações entre eles. Como irmãos, eles se divertiam, debatiam e brigavam. Poderiam fazer as pazes logo, relevando certos comportamentos. Em outros momentos, pareciam se comunicar pelo olhar, tamanha a cumplicidade entre eles. Ver músicas hoje clássicas, como Don’t Let Me Down, Let It Be, I Got a Feeling e obviamente Get Back ganharem forma é uma experiência impagável. Essa troca entre eles permitia que um contribuísse na composição do outro, mostrando porque essa experiência muitas vezes era em conjunto.
Apesar de alguns palavrões e muitos cigarros (sempre com avisos no início de cada episódio), Get Back se enquadra bem nos padrões do Disney+. Há trechos tensos, que vão deixar os espectadores apreensivos, por mais que conheçam o final da história. Lágrimas vão descer e muitas informações valiosas serão acrescentadas ao que já se sabe sobre aquela que, para muitos, é a melhor banda de todos os tempos. Até o jeito bem mandão de Paul McCartney, que acabou assumindo um pouco o papel de empresário deles com a morte de Brian Epstein, pode ser mais bem compreendido. Ao final de tantas horas, assim como George Martin, Neil Aspinall e tantos outros que os rodeavam, nos sentimos parte da família de Paul, John, George e Ringo.
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Yoko sempre foi um fardo para a banda. A questão é que eles não externavam isso com veemência nos ensaios.
Terminei o ótimo documentário sobre os Beatles (Get Back). Um importante complemento à leitura de “Shakespeare e os Beatles”, de José Roberto de Castro Neves, com um “q” de “Otelo”. Paul McCartney, talentoso e manipulador, é o branco que, naquela fase, se valendo do Billy Preston, que, de tão genial, teve de ser “camuflado” para as filmagens no terraço, queria tocar e compor música soul. Isso sem falar no imenso despeito que ele produzia no vaidoso Harrison (preocupado com gravatas e sapatos), no amor mal disfarçado que despertava em Lennon (seria a Yoko uma máscara?), com sérias dificuldades de amadurecimento, e na inibição que causava ao deslocado e limitado Ringo. Finalmente, tenho um material para uma leitura completa sobre o contexto do fim da Banda.