Publicado em 1965, o livro Duna fez a fama de seu autor, Frank Herbert, ganhou vários prêmios e detém o título de romance de ficção-científica que mais vendeu na história. Por sua trama longa e intrincada, era tido como inadaptável para o Cinema. Em meados da década de 70, o chileno Alejandro Jodorowsky tentou e deu com os burros n’água, originando um elogiado documentário sobre a produção falida. Os direitos foram vendidos e David Lynch, outro cineasta cult, se incumbiu da missão. Apesar de conseguir completá-la, não é um filme ao qual público ou crítica se refiram com carinho ou admiração. Pelo contrário.
Com a moral de ter sido elogiado filmando Blade Runner 2049 (2017), a sequência de um novo clássico amado por multidões, o diretor Denis Villeneuve aceitou a tarefa e começou o desenvolvimento do novo Duna (Dune: Part One, 2021), já em cartaz na tela grande, na pequena (HBO Max) e até disponível em meios piratas. O canadense tem algumas vantagens sobre os nomes que tentaram antes a empreitada: maior orçamento, mais tecnologia e uma maior duração. Ele fechou essa primeira parte em duas horas e 35 minutos bem enxutos, que passam assustadoramente rápido.
A trama mistura política, religião, messianismo, monstros espaciais e batalhas intergalácticas. Basicamente, temos um universo futurista governado por um imperador que planeja manter seu poder por muito tempo. Por isso, vê com maus olhos o fortalecimento da Casa Atreides, uma das famílias nobres que administram os vários feudos nos quais o universo foi dividido. Todos os líderes juram lealdade ao imperador, que por sua vez deve manter a paz e a estabilidade econômica.
Partindo dessa premissa, temos a apresentação do jovem Paul Atreides (Timothée Chalamet, de Adoráveis Mulheres, 2019), preparado pelos pais para ser o futuro da Casa Atreides. Enquanto Jessica (Rebecca Ferguson, de Caminhos da Memória, 2021) o treina espiritualmente, de acordo com a linhagem de feiticeiras à qual pertence, o Duque Leto Atreides (Oscar Isaac, da trilogia Star Wars) o introduz no mesquinho mundo da política interplanetária. A parte física fica com os soldados Duncan Idaho (Jason Momoa, o Aquaman da DC) e Gurney Halleck (Josh Brolin, o Thanos da Marvel), que preparam Paul em duelos de espadas e lutas diversas.
Por temer o crescimento dos Atreides, o imperador os coloca em rota de colisão com a Casa Harkonnen, liderada pelo Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård, de Chernobyl). Aí tem início a intriga política que marca Duna e prova a atualidade da história. Misturado a esse jogo de interesses, temos a possível predestinação de Paul, que seria uma espécie de salvador da humanidade. Analisando os temas tratados por Herbert, não é difícil afirmar que sua invenção tem bastante influência entre grandes histórias que surgiram depois, de Star Wars a O Poderoso Chefão, passando por Matrix.
Como Villeneuve vem fazendo, tanto a equipe técnica por trás de Duna quanto o elenco à frente das câmeras são impecáveis. Se algum deles pode ter tido desempenho abaixo de excelente em algum momento de suas carreiras, o diretor está lá para garantir nada menos que o máximo. Chalamet, que nem sempre impressiona com seu tipo franzino e comum, aqui tem a energia que Paul demanda, representando bem suas angústias e seus posicionamentos, quando o roteiro o urge. O elenco veterano é mais do que acertado, mesmo em participações menores (como Javier Bardem, de Escobar: A Traição, 2017). Rebecca Ferguson, como tem sido comum, rouba um punhado de cenas nas quais aparece. E Zendaya (da trilogia Homem-Aranha), como Chani, sai dos sonhos de Paul para aparecer na frente dele, nas areias de Arrakis.
Tudo em Duna dá a impressão de um longo desenvolvimento, tudo pensado nos detalhes. O planeta abundante em água e o planeta desértico são igualmente fascinantes, o que é devido a dois elementos muito bem cuidados: a fotografia (de Greig Fraser, de Rogue One, 2016) e os efeitos visuais. A banda sonora também é extremamente acertada, da trilha de Hans Zimmer (de Mulher-Maravilha 1984, 2020) aos efeitos sonoros, cuidadosamente montados para nos levar ao universo apresentado. Nos quesitos técnicos, Duna já é grande candidato aos principais prêmios do Cinema.
Como era de se esperar, o roteiro de Duna, escrito pelo diretor em parceria com Jon Spaihts (de Doutor Estranho, 2016) e Eric Roth (de Nasce Uma Estrela, 2018), dispensa alguns elementos do livro, o que é necessário quando se faz uma adaptação. O que deve ser considerado é que temos uma história coesa, que faz sentido e nos leva pelos mesmos caminhos que a obra original. Fãs mais conservadores vão apontar que “faltou isso ou aquilo”, mas a verdade é que o que importa está lá. Roteiro adaptado é outra categoria em que Duna deve aparecer em premiações. E a expectativa para a parte 2 segue alta.
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Excelente crítica! Filme extraordinário!