E se o Universo Marvel tomasse outros rumos?

O Universo Marvel sempre contou com linhas de tempo paralelas, versões diferentes de uma mesma realidade. Algo como planetas iguais, com os mesmos habitantes, mas ações e desdobramentos distintos. Assim, numa outra dimensão, Peter Parker poderia ter sido picado, se tornado uma aranha gigante e destruído Nova York. Ou algo assim. Mais cedo ou mais tarde, isso seria explorado nos cinemas. Na verdade, o movimento começou na TV, com Loki e suas variantes. Ou seria com JJJ aparecendo em Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)?

Estreou recentemente no Disney+ a série What If…? (nos quadrinhos, chamada O Que Aconteceria Se…?), que explora uma nova possibilidade a cada episódio, todos independentes uns dos outros. E se o militar a receber o soro do super soldado não fosse Steve Rogers? E se determinado vilão tivesse tido a oportunidade de fazer algo diferente? Ele teria sido uma pessoa diferente, com ações diferentes? Mais do que os simples acidentes de percurso, interessam muito mais os episódios que analisam a psique de seus personagens. Ter heróis transformados em zumbis pode ser curioso, mas é muito mais poderoso acompanhar a formação de um caráter.

A grande diferença entre os medalhões da DC, quase ou propriamente semi-deuses, e os heróis falhos e carismáticos da Marvel sempre foi essa linha tênue entre o bem e o mal. Enquanto os primeiros parecem destinados à grandeza, os segundos parecem fazer uma escolha diária. Teriam eles uma disposição à virtude, como dizia Aristóteles? Ou seriam produto do meio, à Rousseau? What If…? faz essa brincadeira, analisando as ações de diferentes protagonistas de acordo com o que os cerca.

Notoriamente arrogante, Stephen Strange virou gente, por assim dizer, quando perdeu a razão de seu sucesso: o uso brilhante das mãos na medicina. Impossibilitado de operar, ele buscou saídas e acabou se tornando o Mago Supremo. Teria sido uma sorte moral? Haveria uma predestinação? Se o acidente dele tivesse causado outros danos, qual seria o desenrolar? Teria o Dr. Estranho se tornado um grande vilão? Da mesma forma que Strange parece ter sido moldado por um acontecimento, Thor se tornou um bravo e honrado guerreiro por ter o contraponto de Loki, o irmão nada confiável que o desafiava frequentemente. E se Thor não tivesse tido um irmão? Como teria sido sua vida – e um possível reinado de Asgard?

Essas são algumas das perguntas que What If…? faz, jogando com a realidade da Marvel no Cinema. Uatu é um personagem que está sendo introduzido nesse universo. Ele faz parte de uma raça antiga chamada de Vigias (vistos rapidamente em Guardiões da Galáxia II, 2017), e essa é exatamente a função dele: vigiar a Terra. Os Vigias fizeram uma promessa de não interferirem nas vidas de seus vigiados, mas os quadrinhos mostram volta e meia exatamente o contrário acontecendo. Na série animada, Uatu faz o que sabe melhor: com a poderosa voz de Jeffrey Wright (de O Pintassilgo, 2019), ele observa e narra as várias dimensões da Terra, as diversas possibilidades que os heróis podem encontrar e pondera a questão: e se…?

Uatu, o vigia da Terra, é o narrador da série

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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