Marvel ataca na pandemia com Viúva Negra

Muito se falou do atraso que a pandemia causou no lançamento de Viúva Negra (Black Widow, 2021), que acabou chegando simultaneamente nos cinemas e ao Disney+. A verdade é que a própria produção do longa já estava bem atrasada, ele deveria ter sido lançado após Os Vingadores (The Avengers, 2012). Não é exatamente uma história de origem da personagem, o que é uma decisão muito acertada. De uma forma ou de outra, acaba esclarecendo alguns fatos sobre a biografia dela e não falta ação, o que os fãs do Universo Cinematográfico Marvel receberão muito bem.

Muitos cinéfilos estão afastados das salas de Cinema há mais de um ano e Viúva Negra pode ser a oportunidade de voltar, o que dá ao longa pontos extras. Mas a verdade é que, mesmo visto em casa, o filme é divertido, tem personagens bem desenvolvidos, acena aos nerds-raiz por incluir figuras clássicas (mesmo que discretamente, como alguns dos “Vingadores socialistas”) e dá outra dimensão a Natasha Romanoff, novamente vivida por Scarlett Johansson (de Jojo Rabbit, 2019). Entendemos melhor como uma humana, sem superpoderes, entrou na vida de gente como Capitão América, Thor e Hulk.

Com uma ótima introdução de flashback, descobrimos que Natasha tinha pai, mãe e irmã, com suas devidas peculiaridades, e essa última acaba enviando uma correspondência que traz a irmã mais velha de volta ao jogo político da Rússia. E conhecemos o grande vilão da vez: o megalomaníaco Dreykov (interpretado pelo inglês Ray Winstone, de Caçadores de Emoção, 2015), responsável por um programa de recrutamento e programação mental ainda mais implacável que o de Jason Bourne. Há uma outra criatura misteriosa, o Taskmaster (ou Treinador – abaixo), que serve apenas como distração.

Complementando a família ímpar, temos Florence Pugh (de Midsommar, 2019) como a irmã mais nova, uma versão poucos anos mais jovem, mais engraçada e igualmente letal, por ter participado do mesmo projeto. No papel dos pais, aparecem David Harbour (de Stranger Things) e Rachel Weisz (de A Favorita, 2018), duas figuras bem utilizadas pelo roteiro de Eric Pearson, que também assinou Thor: Ragnarok (2017), a série Agente Carter e alguns curtas Marvel. Harbour faz um tipo falastrão que se acha mais importante do que é, já que nos tempos áureos vestiu o uniforme do Guardião Vermelho, uma espécie de versão soviética do Capitão América. Weisz vive uma importante cientista que acaba mostrando talento também para a parte física.

Pode parecer estranho ter Harbour e Weisz como pais de Johansson e Pugh, mas isso se justifica pelas épocas diferentes mostradas no filme. A idade é mascarada por maquiagem e truncagens visuais e acabamos acreditando naquele arranjo. A história de Viúva Negra se encaixa após os acontecimentos de Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016), quando Natasha se tornou uma fora da lei por se recusar a ser regida pelo exército norte-americano – temos aqui a oportunidade para mais uma aparição do General Ross (vivido por William Hurt).

Se fosse lançado em 2017, esse filme estaria melhor encaixado na cronologia do Universo Cinematográfico Marvel. Mas isso não chega a ser um problema, mesmo após os fatos narrados em Vingadores: Ultimato (The Avengers: Endgame, 2019). Através do carisma e da competência de Johansson, Natasha Romanoff cresceu em importância e conseguiu algo que outros heróis não conseguiram: ter uma aventura solo. E uma cena escondida nos créditos dá a entender que a trama de Viúva Negra ainda terá consequências, provavelmente na série do Gavião Arqueiro.

Pugh parece ter chegado ao MCU para ficar

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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