Um rápido e promissor prólogo joga no ar uma ideia: alguma experiência teria dado errado e criado um morto-vivo sedento por sangue. Ou apenas teriam capturado a criatura. Um acidente exagerado a solta no mundo. Ela corre pra onde? Para a capital mundial das apostas, lugar que guarda muito dinheiro e acaba sendo evacuado às pressas. Logo, conseguimos deduzir que ficou uma grana louca lá e não vai demorar até que alguém queira recuperá-la.
É aí que entra o nosso protagonista, uma escolha no mínimo inusitada. Dave Bautista é um sujeito que nos acostumamos a ver como vilão (007 Contra Spectre, 2015) ou como coadjuvante (nos Guardiões da Galáxia, por exemplo), mas aqui ele toma a frente da equipe que ele reúne e que deve recuperar uma grande quantia para ganhar uma parte. Algo o impede de ficar com tudo para ele? Apenas um empregado do patrão que os acompanha na missão (vivido por Garret Dillahunt, de Sergio, 2020). Bautista, apesar de gigantesco, até parece uma pessoa comum. Talvez por causa do tédio que demonstra.
Os buracos na história de Snyder pulam aos montes. O roteiro, de Shay Hatten (de John Wick 3, 2019) e Joby Harold (de Rei Arthur, 2017), chega ao cúmulo de simplesmente esquecer personagens. Ele leva duas horas e meia para desenvolver a ação e o draminha familiar para de repente desconsiderar um tanto de coisa. Por exemplo, uma explosão nuclear. O acampamento onde alguns ficam isolados é uma piada. É buscado um contexto de perseguição política e segregação, mas o alvo acertado fica muito longe. E os policiais que guardam o local não servem pra nada, todo mundo entra e sai.
A equipe formada tem trânsito livre e inventam de colocar na mistura a figura da coiote (Nora Arnezeder, de Protegendo o Inimigo, 2012), que vive de passar pessoas pela fronteira. E o que ela estaria oficialmente fazendo ali? Não sabemos. Scott (Bautista) aceita a missão por dinheiro, mas logo descobrimos que ele não ficará com os milhões. Qual o sentido, então? Comprar a filha (Ella Purnell, de O Lar das Crianças Peculiares, 2016)? E ela é voluntária no que mesmo? Essas são algumas informações jogadas de qualquer jeito.
No que diz respeito aos zumbis, as estranhezas não param. Há um casal malvadão, com direito a ceninha romântica entre eles, que mandam nos demais. Os dois parecem saídos de Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016) e A Entidade (Sinister, 2012). A gangue deles lembra praticantes de parkour que cheiraram muita cocaína. E há um tigre zumbi muito estiloso que poderia ter sido abatido em segundos, mas aí ele não poderia ficar fazendo pose. Gente que nunca havia pegado numa arma acerta de cara na cabeça dos zumbis, o que não causa nenhuma surpresa, e volta e meia a munição acaba na hora H, bem convenientemente.
Cheio de regras novas para o universo zumbi, esse Army of the Dead é previsível e enfadonho, com poucos momentos relevantes. Snyder não se define entre drama, suspense e comédia, distribuindo risadas e vísceras a esmo. Na função também de diretor de fotografia, ao menos fez as pazes com o Sol, o que teria sido ótimo em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013). A estética de videogame fica mais forte, parecendo muito que os personagens passam de fase (nem todos, claro). Não que alguém vá se importar com qualquer um deles. E fica a irritante sensação de que estamos vendo a criação de uma nova franquia.
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